Até velocidade importa: o que a forma de caminhar diz sobre a sua saúde
Adam Taylor*
The Conversation
04/08/2024 05h30
Andar requer um grande número de sinais entre o cérebro e os músculos dos braços, das costas, pernas, do abdome e da pélvis. Algo que parece relativamente simples é, na verdade, incrivelmente complexo. O ritmo e a suavidade de sua caminhada podem ser um indicador da saúde e de como você está envelhecendo.
À medida que atravessamos os anos, os músculos perdem massa, força e qualidade. Esse processo é chamado de sarcopenia e começa por volta dos 40 anos.
Paralelamente a isso, o sistema nervoso sofre "atrofia", em que os nervos de todo o corpo funcionam de forma menos eficiente e o número de nervos diminui.
Acredita-se que a pessoa perca 0,1% dos neurônios (células nervosas) anualmente, a partir dos 20 e até os 60 anos. Depois disso, a perda se acelera.
Se você viver até os 90 anos, seu cérebro terá perdido 150 gramas de tecido em comparação com o peso que tinha quatro décadas atrás.
Estudos demonstraram que a velocidade da caminhada aos 45 anos é um forte indicador da saúde física e mental que você terá mais tarde na vida. E há um declínio perceptível da agilidade da caminhada quando se passa dos 60 anos.
A diminuição do ritmo e da força pode ser um sinal precoce de doenças neurodegenerativas, como Doença de Parkinson. Essa enfermidade interfere nas mensagens do cérebro para o sistema musculoesquelético, fazendo com que a marcha fique mais lenta, menos simétrica e mais cambaleante, e o comprimento da passada, significativamente menor. Os enfraquecimentos podem ser sutis, mas detectáveis nos estágios iniciais da doença.
Você já parou para pensar como é múltipla a tarefa de andar sem tropeçar em nossos próprios pés? Os músculos da parte frontal da canela são projetados para puxar o pé para cima quando ele se move para frente. Em algumas pessoas, isso começa a falhar e, em consequência, elas tropeçam.
O fato é conhecido como "foot drop" (queda do pé), em que os dedos atingem o chão possibilitando o desequilíbrio. Os danos aos nervos causados pela diabetes mal controlada podem acarretar o problema, da mesma forma como o hábito de sentar-se com as pernas cruzadas ou em determinadas posições de yoga por longos períodos.
Estreitamento das artérias
Se você sentir dor nos músculos glúteos, na parte posterior da perna e até mesmo na panturrilha ao caminhar, e o desconforto desaparecer quando parar, pode ser que esteja desenvolvendo a doença arterial periférica.
A presença e, depois, a ausência da dor em relação ao movimento ou ao repouso é chamada de claudicação. Ocorre porque há um estreitamento das artérias que fornecem sangue para as pernas. Quando você caminha, há necessidade de um aumento de oxigênio dos músculos das pernas.
Como resultado do estreitamento, o sangue arterial que flui para as pernas não consegue atender à demanda e os músculos se tornam anaeróbicos (deficientes de oxigênio), causando a liberação de ácido lático —composto que causa a sensação de cãibra. Mas, quando você para de se exercitar, os músculos voltam a precisar de um mínimo de oxigênio e a dor desaparece.
Os fatores de risco para a doença arterial periférica incluem tabagismo, colesterol alto, pressão arterial alta e diabetes. Ter um histórico familiar de doença vascular também é um fator de risco.
Surpreendente
O andar cambaleante com problemas de equilíbrio geralmente está associado ao consumo excessivo de álcool, mas também pode sugerir falta de vitamina B12.
A manifestação dos sintomas em adultos leva meses ou até anos, mas em crianças pode aparecer em um período muito mais curto devido à maturação do sistema nervoso e ao papel fundamental que a vitamina B12 desempenha na proteção do sistema nervoso contra distúrbios.
Felizmente, o tratamento da deficiência de vitamina B12 com injeções é relativamente simples e bem tolerado na maioria dos casos. Em algumas situações, a adição de alimentos ricos em vitamina B12 à dieta, como carne, peixe, ovos e laticínios, pode ser suficiente para erradicar os sintomas.
Problemas no ouvido interno, como a labirintite, também podem ser causas temporárias de problemas de equilíbrio e marcha. Em geral, eles se resolvem sozinhos, sem tratamento.
Mas uma infecção do ouvido interno é diferente porque resulta em movimento anormal do fluido nessa parte do ouvido, o que dificulta a interpretação dos sinais nervosos para o cérebro. Como consequência, o corpo não integra totalmente as informações visuais e de posicionamento.
No processo de envelhecimento, a caminhada, inevitavelmente, se torna menos suave e lenta. No entanto, se você notar um aumento no número de tropeços, momentos cambaleantes e quedas, ou se tiver se tornado mais difícil em um curto período de tempo, vale a pena consultar o seu médico sobre o assunto.
*Adam Taylor, professor e diretor do Centro de Aprendizado de Anatomia Clínica da Universidade de Lancaster.
Este artigo foi republicado do The Conversation dentro da licença de Creative Commons. Leia o artigo completo.