Jejum intermitente realmente ajuda quem tem gordura no fígado?

O jejum intermitente tem sido uma das estratégias alimentares "da moda" nos últimos anos. Apesar de não ser considerado uma dieta, já que não restringe nenhum alimento, mas sim um padrão de alimentação, muita gente o enxerga como uma dieta pelo fato de auxiliar na perda de peso.

E isso de fato é verdade. Estudos mostram que o jejum intermitente pode ser considerado uma estratégia eficaz para o tratamento de obesidade. Mas será que ele ajuda também a tratar gordura do fígado?

Existem dois tipos de gordura no fígado: a esteatose hepática alcoólica e a não alcoólica. Enquanto a primeira é causada pelo consumo excessivo de álcool por longos períodos, a segunda normalmente está relacionada com o estilo de vida, incluindo má alimentação e sedentarismo.

A redução de peso corporal é necessária para que se reduza também a gordura no fígado —e isso pode ser obtido por meio de uma alimentação equilibrada e pela prática regular de exercícios físicos. Junto dessas estratégias, o jejum intermitente também pode ajudar.

"O jejum intermitente tem ganhado popularidade como uma abordagem dietética para diversos objetivos de saúde, incluindo para a redução da gordura no fígado", garante Renato Zilli, endocrinologista, membro do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês.

Segundo o médico, o jejum intermitente pode reduzir a gordura hepática e melhorar a sensibilidade à insulina, o que é benéfico para pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica. E, de fato, existem evidências que apoiam essa afirmação.

Um artigo publicado no final de 2023, por exemplo, analisou o papel do jejum intermitente sobre a gordura no fígado. A pesquisa reuniu estudos sobre o tema e concluiu que "o jejum intermitente afeta positivamente a esteatose hepática por meio de uma série de vias fisiológicas".

Alguns dos mecanismos fisiológicos citados pelo artigo incluem:

  • Melhora da sensibilidade à insulina
  • Estabilização da glicose no sangue
  • Equilíbrio do estresse oxidativo
  • Redução da inflamação
  • Modulação da microbiota intestinal
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"O jejum intermitente ainda promove o uso de gordura como fonte de energia, o que também favorece a redução da gordura no fígado", explica Giovanna Carpentieri, especialista em endocrinologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

Como usar o jejum intermitente para reduzir a gordura no fígado?

Existem diversas estratégias de jejum intermitente, mas o que todas têm em comum é que a pessoa deve alternar períodos de jejum com períodos chamados de "janela de alimentação". Isso pode ser feito diariamente ou em dias alternados.

Alguns exemplos de estratégias usadas em dias alternados são:

Jejum 1:1: a pessoa come normalmente em um dia e, no outro, pode comer apenas uma pequena refeição com cerca de 500 calorias.

Jejum 5:2: a pessoa se alimenta normalmente por cinco dias por semana e nos outros dois ingere cerca de 500 calorias.

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Jejum 6:1: jejum completo por um dia e alimentação normal pelo resto da semana.

O jejum intermitente também pode ser feito por tempo, começando normalmente a partir das 12 horas de jejum por dia e se estendendo por até 20h, com janelas de alimentação mais longas ou curtas, dependendo da estratégia adotada.

Os estudos não conseguiram definir se existe uma "melhor estratégia de jejum intermitente". Porém, independente de qual for a escolhida, o ideal é consultar um nutricionista que possa orientar sobre a prática adaptada às suas individualidades e necessidades.

Estilo de vida é a chave

O jejum intermitente não deve ser encarado como uma dieta, mas sim como uma nova forma de lidar com a alimentação. "Para muitas pessoas, é uma abordagem sustentável que pode ser incorporada ao estilo de vida a longo prazo", destaca Carpentieri.

Quando feito de forma sustentável e orientada, o jejum intermitente, além de favorecer a redução da gordura no fígado, ajuda a lidar com compulsões alimentares por conta da regulação da grelina e da leptina, hormônios relacionados à fome e à saciedade.

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"Para colher esses benefícios, porém, é preciso adotar uma alimentação balanceada na janela de alimentação", fala a nutricionista Thaís Barca. "Priorize alimentos integrais e não processados, como frutas, verduras, grãos, legumes e proteínas magras."

A redução da ingestão de alimentos ultraprocessados, como biscoitos, chocolates, doces e alimentos prontos, como pizzas congeladas, é essencial para reduzir a gordura no fígado. Além disso, é indicado praticar exercícios físicos regularmente.

Fontes: Giovanna Carpentieri, médica endocrinologista graduada na Universidade Federal do Paraná, com residência em clínica médica na EPM Unifesp, onde obteve seu título de especialista em endocrinologia e mestrado e doutorado na área de endocrinologia e metabologia, com foco em diabetes e obesidade e cirurgia bariátrica, e tem título de especialista em endocrinologia pela SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia); Renato Zilli, endocrinologista, membro da SBEM e membro do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês; Thaís Barca, nutricionista esportiva e funcional da Clínica CliNutri, graduada em nutrição pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, pós-graduada em nutrição aplicada ao exercício físico pela USP e pós-graduada em fitoterapia funcional e em nutrição esportiva funcional pela VP, proprietária e nutricionista da CliNutri desde 2015.

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