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'Não sabia que era hormônio': ela teve trombose após tomar anabolizante

Karinne: trombose ocorreu após tomar anabolizante por indicação médica Imagem: Arquivo pessoal

De VivaBem, em São Paulo

05/08/2024 12h00

A vendedora de Goiânia Karinne Costa, 45, queria aumentar o vigor físico e a disposição —e, por isso, procurou em julho de 2022 um nutrólogo. Ela conta que o profissional cobrou R$ 600 pela consulta e receitou um hormônio sintético, sem que ela soubesse o que era. Semanas depois, Karinne sofreu um AVC.

'Não sabia que era hormônio'

Karinne recebeu a promessa de alcançar o físico desejado mais rapidamente e ter mais disposição. Em meio às recomendação de suplementos proteicos, estava um hormônio sintético, a oxandrolona. Karinne afirma que não foi informada sobre os possíveis efeitos colaterais.

Ele me receitou a oxandrolona 10 mg, uma cápsula por dia. Eu não sabia que se tratava de um hormônio sintético, até porque eu sabia que não poderia usar, pois tive problema com anticoncepcional.
Karinne Costa

Karinne Costa, 45, tomou hormônio sintético receitado pelo médico Imagem: Arquivo pessoal

No Brasil, a oxandrolona não é encontrada em medicamentos vendidos em farmácias, mas pode ser obtida em farmácias de manipulação. "Por ser uma droga de uso oral, praticantes de academia vêm utilizando de forma recreativa, o que é condenado pelo CFM [Conselho Federal de Medicina] e pela SBEM [Sociedade Brasileira de Endocrinologia]", diz Caio Lopes, neurocirurgião da Hapvida NotreDame Intermédica. A indicação de anabolizantes para fins estéticos é proibida no Brasil.

Com apenas sete dias de uso, a droga começou a causar sintomas como dor de cabeça, diz Karinne. Ela, no entanto, não deu atenção e tomou analgésicos para aliviar o desconforto.

Um dia, estava na igreja com uma amiga e senti meu lado direito adormecer, corremos para o pronto-socorro, mas o médico nem aferiu minha pressão. Estava com uma viagem marcada e ele disse que era ansiedade, me passou um medicamento, fiz no hospital e voltei para casa.
Karinne Costa

Na manhã seguinte, em casa, Karinne sofreu convulsões e foi levada ao hospital novamente. "Meu irmão me levou e fui direto para a UTI, fizeram uma angiorressonância [exame para observar artérias e veias] e verificaram uma trombose cerebral, juntamente com um AVC", conta Karinne.

O quadro piorou e ela precisou ser intubada. "Foi quando o médico disse para o meu irmão em um dia de visita que, se eu resistisse, poderia ficar com sequelas e pediu para ele procurar em casa algum tipo de medicação que eu poderia estar tomando. Ele encontrou e levou até o hospital a oxandrolona", lembra ela.

Anabolizante x trombose

A trombose venosa cerebral é mais comum em mulheres em idade fértil e o uso de medicamentos como corticoides, anti-inflamatórios e hormônios pode aumentar a predisposição em indivíduos suscetíveis, diz Lopes. "No caso da oxandrolona, o aumento do colesterol ruim (LDL) e a redução do colesterol bom (HDL) elevam o risco de doenças cardiovasculares, incluindo tromboses."

A neurocirurgiã Diana Lara Pinto de Santana, médica do Hospital Sírio-Libanês, diz que não existe na literatura científica uma correlação direta entre o uso de oxandrolona e a trombose venosa cerebral. "O que se tem conhecimento, de acordo com as reações adversas da droga derivadas de informações da bula do medicamento, é que o uso de oxandrolona pode aumentar o risco de policitemia (aumento da hemoglobina e hematócrito), que é um estado que aumenta a viscosidade do sangue [o que pode aumentar o risco da trombose]", explica Santana.

'Não estou mais trabalhando'

Quando uma trombose evolui para um AVC isquêmico, significa que um coágulo bloqueou o fluxo sanguíneo em uma artéria cerebral. Isso pode levar à morte de tecido cerebral devido à falta de oxigênio.

Os riscos dessa complicação incluem déficits neurológicos permanentes, como perda de força motora, dificuldades na fala e problemas cognitivos. Dependendo da extensão do AVC e da área do cérebro afetada, pode levar à morte. Pacientes que já tiveram um AVC têm maior risco de ter outro.

Karinne afirma que, apesar de não tão grave, o AVC afetou parte de sua memória recente e o lado direito de seu corpo. "Não estou mais trabalhando, a minha mão direita não tem mais facilidade em escrever ou teclar, mas retornei à academia. Também estou fazendo exames para verificar se minha visão foi afetada. Estou em processo judicial contra o médico que me receitou o hormônio." Ela preferiu não revelar o nome do médico à reportagem devido ao andamento do processo judicial.

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