Ser introvertido pode prejudicar carreira? Como evitar problemas?
Apesar dos altos e baixos nas relações interpessoais, o ser humano precisa do contato com o outro para se desenvolver, aprender, garantir proteção, ajuda e até a continuidade da espécie. Quem se isola pode fazer isso porque deseja (para estudar, trabalhar, meditar), mas também por ter dificuldade de se relacionar —o que pode prejudicar a vida profissional.
São diferentes prejuízos
Se a pessoa for mais introvertida, pode desenvolver medo e ansiedade extremos quando exposta a situações sociais inevitáveis, comprometendo aspectos como criatividade, comunicação e coragem. "Sozinho e com liberdade para escolher o que fazer ou não pode ainda ser um fator para aumentar a procrastinação", alerta Yuri Busin, mestre e doutor em neurociência do comportamento e diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio).
Ficar sozinho por muito tempo também não é bom e isso tanto por aumentar o risco de depressão como o de morte por doenças cardiovasculares. Quem se isola demais ainda pode piorar traços da personalidade e dificuldades para se concentrar em atividades intelectuais com outras pessoas presentes.
No que compete a ter problemas para estudar e trabalhar não estando sozinho, é necessário buscar uma investigação médica. Pode não ser nada sério, mas a depender do tipo de área ou profissão em que se atue, é fundamental que se aprenda a trabalhar em grupo. Isso se adquire com psicoterapia e treinos práticos. Havendo transtornos, pode ser necessário acompanhamento e medicamentos.
Para não comprometer a carreira
Aprimorar a convivência é algo a se fazer desde a infância e cuja tarefa cabe a pais e professores, que devem estimular e reforçar com as crianças a importância de se ir à escola, ter amigos e vivenciar experiências conjuntas para aprender a respeitar e valorizar a diversidade.
"Existem pessoas que ficam confortáveis sozinhas, mas é preciso lembrar que é preciso que convivam, pelo bem tanto do futuro delas como de todos", afirma Luiz Scocca, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da USP.
Agora, quando se é adulto, as dicas a seguir podem ser úteis, mas não dispensam a procura por especialistas em saúde mental, havendo dificuldades e problemas:
1. Admita para si mesmo
O primeiro passo para controlar um problema é identificá-lo. Segundo Ailton Amélio, professor do Instituto de Psicologia da USP, as pessoas introvertidas costumam ter um bom grau de consciência sobre seu problema. Testes podem confirmar.
2. Mantenha-se preparado
O introvertido fica mais desconfortável com situações inesperadas ou quando tem que improvisar. Por isso, o executivo e palestrante Marcos Bardagi, autor do livro "Homem no Contra Fluxo" (Reino Editorial), aconselha a dominar bem o tema, no caso de apresentações ao chefe ou à equipe, por exemplo. "[O introvertido] só vai se expor quando tem absoluta certeza de que está certo."
3. Junte-se a um ou dois colegas
Pessoas mais fechadas costumam ter dificuldade para conversar com todos, estar no centro das rodinhas, mas podem estabelecer relações mais intensas com um menor número de colegas, pessoas com quem se identificam, têm mais afinidade e com quem se sentem mais confortáveis.
"Identifique um ou dois profissionais mais sensíveis, que sabem conversar com você", afirma Bardagi. "[Essas relações] podem ajudar o networking e a fazer suas ideias chegarem à frente", diz.
Para facilitar o networking, Bernardo Carducci aconselha focar seu pensamento em como pode auxiliar as pessoas que conhece, em vez do que você quer delas. Isso ajuda a se sentir fortalecido e confiante.
4. Aja com naturalidade
Mesmo que seu modo de ser, mais retraído, o incomode, Bardagi não aconselha a agir no sentido contrário do seu impulso, forçando-se a ser comunicativo e expansivo. "É uma mentira de perna curta. Acaba sendo uma máscara, não é genuíno."
Ele aconselha a manter suas convicções, seu jeito, mas trabalhando questões pontuais ligadas à introversão, que podem estar dificultando o avanço na carreira.
O professor Ailton Amélio afirma que não há fórmula mágica, mas em cerca de 40% dos casos a pessoa supera suas dificuldades naturalmente, sem ajuda, por ser obrigada a se expor no dia a dia. "Eu era tímido e virei professor. Sofri como um condenado", conta. "Depois, como não aconteceu nada de pior, fui me acostumando", continua ele, reforçando que um psicólogo contribui bastante.
*Com informações de reportagens publicadas em 18/03/2021 e 06/01/2016
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