Britânica começa a ter sotaque sueco após ataque cardíaco; entenda condição
Do VivaBem, em São Paulo
05/08/2024 12h42
A britânica Georgina Gailey, 60, conversava com a irmã por videochamada quando percebeu que estava com um sotaque diferente. Sem entender o que estava acontecendo, recorreu aos médicos, que constataram que ela estava com a síndrome do sotaque estrangeiro.
Segundo Georgina, ao invés do sotaque britânico usual, ela fala como um sueco. "As pessoas perguntam de onde venho e quando conto, elas riem. Eu sorrio, mas por dentro isso me deixa triste", disse ao The Sun. Ela contou que mora em Londres e nunca foi à Suécia. "Sou nascida e criada na Inglaterra."
A princípio, os médicos pensaram que ela poderia ter sido vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), por isso o sotaque. Ela ficou internada durante duas semanas até ser diagnosticada com a síndrome, um distúrbio raro.
Não sei se terei o sotaque para sempre. Quero aumentar a conscientização porque quanto mais pessoas souberem sobre isso, mais pesquisas serão feitas. Georgina Gailey ao The Sun
O que é síndrome do sotaque estrangeiro?
Pessoas com esse distúrbio falam a própria língua nativa de uma forma diferente. Para quem escuta, o tom da fala pode remeter à tentativa de um estrangeiro falar aquele idioma.
Não se sabe ao certo o que pode causar a síndrome, mas estudos apontam que possa estar relacionado a lesões cerebrais. No entanto, os médicos já descobriram que alterações estruturais podem provocar o distúrbio, como um AVC, um traumatismo na cabeça, uma lesão do sistema nervoso central ou até mesmo um tumor.
Questões psicológicas também podem ser um fator. Quando não é possível demonstrar que exista uma lesão no cérebro, no entanto, a causa da síndrome pode estar relacionado a questões psicológicas.
A gente sabe que quem tem transtornos de humor, por exemplo, síndromes de ansiedade, depressão, estresse ou burnout são pessoas que têm uma maior chance de apresentar a síndrome do sotaque estrangeiro. Mas não temos nada que fale de algum tipo de correlação genética para a síndrome. Antonio Francisco de Araujo Netto, neurologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo
No caso de Georgina, ela teve um ataque cardíaco meses antes da mudança na fala, e os médicos acreditam que a condição pode estar ligada a isso. Segundo Netto, se o coração parou de bater e a quantidade adequada de oxigênio não foi levada para células cerebrais, a síndrome pode acontecer, o que pode ser reversível ou irreversível.
Um paciente com a síndrome pode ter ainda outros sintomas, de acordo com as possíveis causas. Se for um AVC, por exemplo, pode ser que a pessoa também apresente paralisia facial. Caso seja uma causa funcional, relacionada a questões psicológicas, o paciente pode sofrer desmaios, sudorese, palpitações. "Eles podem apresentar uma constelação de sintomas que vão acabar inclusive sendo até inespecíficos, não guardando uma correlação direta", diz o neurologista.
Se o paciente tiver a síndrome do sotaque estrangeiro de forma súbita, é recomendado procurar imediatamente um neurologista, um pronto-socorro do hospital, porque isso, na verdade, pode estar sendo um AVC. E sabemos que hoje conseguimos reverter muitos desses sintomas, inclusive evitar que possa ter uma piora deles", diz Netto.
Casos podem ser passageiros
A literatura médica mostra que esses casos têm sido curtos e passageiros, desaparecendo em alguns dias sem nenhum tipo de tratamento.
Segundo Netto, não existe um tratamento medicamentoso ou cirúrgico para a síndrome do sotaque estrangeiro, mas se o paciente perceber que a condição está demorando ou incomodado demais, o indicado é procurar um fonoaudiólogo. "São os especialistas mais adequadas para um manejo reabilitatório da fala", diz.