Alta da terapia: processo é indicado para vida toda ou pode acabar antes?

A eficácia de um processo de terapia não está diretamente relacionada ao tempo em que ele é mantido. O que é mais relevante é a qualidade do trabalho feito pelo profissional de saúde mental, a relação estabelecida entre ele e o paciente e a abordagem utilizada para atender às necessidades específicas do indivíduo.

"Portanto, na busca por uma linha terapêutica, é recomendável discutir com o psicólogo e ainda o psiquiatra, se estiver envolvido, a frequência e a duração desse trabalho e de que forma ele pode atender às suas necessidades. Cada terapeuta tem suas próprias práticas e orientações em relação a isso", explica José Maria Santiago, psiquiatra e professor da Afya Educação Médica de Fortaleza.

O que muita gente não sabe, continua o médico, é que existem vários tipos de terapia. Algumas são focadas na resolução a curto prazo do que é explorado nas sessões, com resultados mais objetivos, e outras são mais abrangentes, sem um foco específico, logo, mais longas, e cujo processo é contínuo, ou seja, sem data para terminar.

Alta é para problemas pontuais

A conclusão de um tratamento psicológico, com eventual liberação do uso de medicamentos (caso tenham sido prescritos) e retorno às atividades habituais existe, mas leva em consideração vários fatores. Inclui, por exemplo, a condição psíquica e emocional atual do paciente, a gravidade do seu problema de base, a resposta à abordagem terapêutica e a capacidade do indivíduo de cuidar de si.

Sim, existe dar ou receber alta em terapia. Mas ela só ocorre nos processos psicoterapêuticos com início, meio e fim. Quando o paciente está bem, ou melhorou, e agora precisa retomar sua independência, sua vida. Eduardo Perin, psiquiatra e psicoterapeuta pela Unifesp

Perin cita como exemplo de terapia focada a cognitivo-comportamental. No caso dela ou ainda da chamada psicoterapia breve, o paciente recebe alta quando os sintomas agudos já amenizaram.

Segundo Santiago, a terapia breve geralmente tem número limitado de sessões e prazo definido para alcançar os objetivos. "Concentra-se, sobretudo, nos problemas atuais e nas metas futuras do paciente, que deve desenvolver habilidades de enfrentamento", explica o médico.

Acordo entre terapeuta e paciente

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Imagem: iStock

A duração do processo terapêutico é uma decisão que cabe ao especialista em conjunto com o paciente. Uma terapia de curta duração pode ser eficaz para uma ampla variedade de questões (crise específica, depressão pós-parto, mudanças, divórcio), mas, talvez, não seja a mais apropriada para problemas complexos ou muito persistentes, que podem necessitar de um tratamento mais demorado.

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Por isso, ao longo das sessões, é importante o terapeuta avaliar os avanços em direção às metas estabelecidas. Isso permite ajustes no plano terapêutico, se preciso, para garantir que o paciente alcance o que pretende. Depois, ao final da terapia, é feito um planejamento para a continuidade do progresso e que pode envolver estratégias de manutenção ou para lidar com desafios futuros.

"O terapeuta indica a alta, mas o paciente deve se sentir pronto, então fazem um acordo. Daí, se antes ocorriam uma a duas sessões por semana, perto do fim o terapeuta começa a espaçar um pouco mais essas sessões, até chegar no dia combinado. Após a alta, é possível que o paciente necessite, às vezes, de alguma sessão de reforço, se apresentar alguma recaída, por exemplo", explica Perin.

Quando é exigido um trabalho longo?

A saúde mental é dinâmica e as necessidades de cada sujeito podem mudar ao longo do tempo. Algumas pessoas optam por manter a terapia como parte de sua rotina de autocuidado, mesmo após alcançarem melhorias significativas. Outros, podem incluir a terapia como suporte para lidar com transtornos crônicos (como depressão, ansiedade, bipolaridade), ou para explorar questões mais profundas.

"Geralmente, quando o paciente tem alta dessas terapias mais objetivas, sugiro, junto com o psicólogo, que ele se mantenha em psicanálise, ou busque uma linha parecida (como lacaniana)", afirma Vanessa Greghi, psiquiatra e diretora médica do IPP (Instituto de Psiquiatria Paulista). A intenção não é tratar algum transtorno, mas dificuldades em esferas diferentes da vida (profissional, familiar, conjugal etc.), permitindo ao sujeito fazer reflexões e encontrar respostas dentro de si.

Em se tratando de questões relacionadas às origens, à personalidade ou a condições mentais graves, que não respondem bem a medicamentos ou com alta recorrência, também é fundamental manter o paciente em psicoterapia por tempo indeterminado. Além disso, o psicólogo deve trabalhar junto com o psiquiatra, agindo antes de qualquer intercorrência ou piora.

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