Por que SP vai monitorar esgoto para criar novas vacinas contra a gripe

O IPSP (Institut Pasteur de São Paulo), ligado à USP, acaba de criar um grupo de pesquisas para monitorar o surgimento e o avanço de novas cepas do vírus da influenza na capital paulista. Com coletas periódicas de amostras de esgoto, será possível identificar quais entraram em circulação, quais podem trazer risco à saúde humana e animal, além de prever o início e o pico de sua transmissão, e a dinâmica de circulação no ambiente urbano.

As informações, além de serem repassadas às autoridades de saúde pública, ajudarão no desenvolvimento de uma vacina mais eficaz e rápida contra a gripe.

Atualmente, os imunizantes distribuídos pelo Ministério da Saúde protegem contra os três tipos de cepas do vírus influenza que mais circularam nos hemisférios Norte e Sul. O problema é que nem sempre os vírus em circulação são os mesmos com que a vacina foi feita.

Além de serem diversos, o influenza sofre mutações rapidamente. "Este problema pode ser diminuído com a nova forma de vigilância e uma tecnologia que possibilite atualizar a vacina com mais rapidez, que é o objetivo do nosso grupo de pesquisa", afirma Rúbens Alves, virologista e biomédico imunologista, coordenador do grupo de pesquisa de Vigilância Genômica e Inovação em Vacinas, que passou a atuar desde 1º de julho.

Segundo ele, a proposta de se fazer a vigilância por meio de amostras de águas residuais do saneamento básico é uma estratégia que se mostrou muito eficaz na pandemia da covid-19, e que foi utilizada por mais de 100 países e 293 universidades.

"Agora, estaremos na vanguarda da implementação dessa tecnologia para o influenza. No caso do coronavírus, foi possível observar os picos de transmissão em determinada região com duas semanas de antecedência, uma informação que foi muito útil para a tomada de decisões na saúde pública", afirma Alves.

Atualmente, a vigilância dos vírus da gripe é feita pela Rede Global de Vigilância de Influenza da OMS (Organização Mundial da Saúde), composta por laboratórios espalhados pelo mundo.

Eles são responsáveis por monitorar os vírus circulantes e potencialmente pandêmicos, com base em análises laboratoriais. A partir disso, todos os anos a OMS divulga com seis a oito meses de antecedência quais são as cepas que devem ser usadas na produção das vacinas para o Hemisfério Sul, para uso no ano seguinte.

"Boa parte dos monitoramentos inseridos nessa rede depende da testagem de casos suspeitos da doença. O monitoramento por esgoto permite uma cobertura mais representativa da população, pois inclui pessoas que não têm acesso a cuidados de saúde ou que optam por não ir ao hospital, o que o faz também ser menos caro, pois depende de menos exames clínicos", explica o pesquisador.

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Preocupação com potenciais vírus pandêmicos

A maioria das pandemias no mundo foi causada por vírus influenza. Estima-se que esses vírus já causaram 50 milhões de mortes em toda a história. A OMS aponta em cerca de um bilhão de casos de influenza por ano no mundo, com um número de óbitos entre 290 mil e 650 mil.

De acordo com Alves, a maior preocupação é com os subtipos potencialmente pandêmicos. "Hoje é com a gripe aviária, do tipo A, subtipo H5N1. Nos Estados Unidos está ocorrendo um surto da doença em rebanhos de gado e já foram identificados os primeiros casos em humanos, assim como a circulação do vírus nos esgotos. Ou seja, o vírus está fazendo spillover, contaminando outras espécies além das aves. Mas fazendo uma vigilância eficiente e desenvolvendo imunizantes mais eficazes, podemos evitar que ele se torne pandêmico."

O projeto no IPSP tem previsão de durar de quatro a cinco anos. O financiamento é feito pelo Institut Pasteur de Paris e pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

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