Edema de glote: reação alérgica grave afeta a respiração e pode matar

O sistema imunológico está sempre em alerta para combater eventuais distúrbios que possam afetar a nossa saúde, como quando substâncias alérgenas entram no organismo. Dentre essas ocorrências, o edema de glote é uma complicação que ocorre durante uma reação alérgica grave, com inchaço na garganta, provocando a obstrução do fluxo de ar para os pulmões e impedindo a respiração.

As anafilaxias são reações alérgicas intensas que podem acometer vários órgãos, inclusive pele e mucosa, ocasionando o inchaço da região. Gralmente, elas ocorrem em decorrência da ingestão de alguns alimentos e medicamentos ou ferroadas de insetos, como abelhas, vespas e formigas.

A glote é o órgão que fica na parte baixa do pescoço e constitui-se de uma estrutura triangular que faz parte da laringe (garganta), localizada entre as duas pregas vocais. Trata-se de uma região estreita, por onde o ar passa para os brônquios e pulmões e onde estão situadas as cordas vocais.

Vale destacar que a parte mais estreita da região da glote é aquela entre as duas cordas vocais. Quando há inchaço (edema) dessa região, ocorre uma redução no calibre da passagem de ar causando a sensação de falta de ar, tosse irritativa e rouquidão.

Sintomas e diagnóstico

Edema de glote pode causar também dor abdominal
Edema de glote pode causar também dor abdominal Imagem: iStock

Os sintomas do edema de glote surgem minutos ou poucas horas após o contato com a substância à qual a pessoa é alérgica (alérgeno), provocando sensação de coceira, inchaço ou sensação de bolo na garganta, dificuldade para respirar, rouquidão repentina ou chiado na respiração, vômitos e forte dor abdominal, acompanhados de placas vermelhas pelo corpo que provocam coceira intensa chamadas de urticas.

Estes sintomas podem evoluir para sufocamento e morte em algumas horas se não reconhecidos e tratados imediatamente.

Inicialmente, o inchaço causado pelo processo inflamatório da região das cordas vocais e das demais estruturas da laringe pode causar a sensação de coceira, tosse seca e finalmente falta de ar com ruído para inspirar (estridor).

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O diagnóstico é feito mediante a história de contato com o alérgeno, mais frequentemente medicamentos e alimentos, ou outro fator desencadeante, como exercícios e picadas de insetos venenosos. A visualização direta da região da laringe pode ser feita com fibras ópticas, mas nem sempre estão disponíveis no atendimento inicial de emergência.

Pode afetar qualquer um

A anafilaxia com edema de glote pode afetar pessoas de qualquer faixa etária, pois existem mecanismos imunológicos e não imunológicos que podem desencadear esta reação, portanto, trata-se de um evento imprevisível.

Por outro lado, existem alguns fatores de risco para uma reação grave, como ter apresentado uma anafilaxia anteriormente, ser portador de asma não controlada ou de doenças cardiovasculares, gestantes, idosos e crianças. Contudo, independentemente da idade, pessoas com histórico de alergias alimentares e medicamentosas são mais suscetíveis.

A princípio, há manifestações anteriores menos graves que antecedem o quadro alérgico mais grave, entre eles, familiares, no caso os pais, com antecedentes alérgicos, passado de asma ou rinite.

Crise é emergência médica

Reação alérgica grave é uma emergência médica
Reação alérgica grave é uma emergência médica Imagem: Divulgação/Prefeitura de São Paulo -SP
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Diante de sintomas de edema de glote deve-se procurar imediatamente um pronto-atendimento, uma vez que na crise a interação alérgeno-anticorpo leva à liberação de histamina.

Este hormônio produz a vasodilatação, causando extravasamento de plasma e proteínas dos capilares para os espaços intersticiais (para fora dos vasos). O grande aumento da permeabilidade produz o edema de glote.

No caso de a crise ser por anafilaxia, a administração de adrenalina o quanto antes contribui para que o quadro não evolua para edema de glote. Se a reação evoluir, é necessário fazer, no pronto-atendimento, uma abertura no pescoço para que a pessoa possa respirar, ou seja, traqueostomia.

Condições não alérgicas, como alterações da temperatura, exercícios, meios de contraste radiológicos ou mesmo por uma predisposição genética, embora menos frequentes, também podem provocar a anafilaxia. Existem ainda algumas condições raras que podem provocar a anafilaxia, como alergia ao sêmen ou até mesmo situações em que não se consegue identificar uma causa.

Tratamento

As crises de edema de glote incluem, no tratamento, a avaliação e a monitorização dos sinais vitais, o uso imediato de adrenalina na dose correta para a faixa etária, fornecimento de oxigênio inalado e de líquido intravenoso quando indicados, além de outros procedimentos em ambiente hospitalar, podendo haver necessidade de intubação nos casos mais graves.

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Todo paciente deve permanecer em observação hospitalar após a resolução dos sintomas.

Para as pessoas que tiveram um episódio de anafilaxia, recomenda-se uma avaliação detalhada em consulta com o especialista em alergia para identificar corretamente a causa do edema de glote e, se necessário, o alergologista vai prescrever o dispositivo autoinjetável de adrenalina. Este pode ser aplicado fora do ambiente hospitalar pelo próprio paciente, por um acompanhante ou pelo responsável, no caso de crianças, se uma nova anafilaxia, com ou sem edema de glote, ocorrer.

O efeito da adrenalina reverte a vasodilatação periférica, diminui o edema da mucosa, a obstrução das vias aéreas superiores, bem como a hipotensão, além de reduzir os sintomas de urticária/angioedema.

Muitas vezes, uma injeção de adrenalina é necessária durante a crise
Muitas vezes, uma injeção de adrenalina é necessária durante a crise Imagem: iStock

No caso de o paciente ter alergia conhecida a alguma substância e necessite entrar em contato com ela (por exemplo, alergia a iodo sendo necessário fazer um exame de imagem com contraste iodado), pode ser administrada uma dose de corticoide endovenoso antes de aplicar a medicação.

Fontes: Alexandra Sayuri Watanabe, coordenadora do Departamento Científico de Anafilaxia da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia); Ana Caroline Cavalcanti Dela Bianca Melo, professora associada do Centro de Ciências Médicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), e presidente da Regional Pernambuco da Asbai; Renato Simão, médico coordenador do pronto-atendimento do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP); e Claudia Alessandra Eckley, otorrinolaringologista responsável pelo setor de laringologia do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo.

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*Com informações de matéria de março de 2022

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