Falta de dinheiro adoece: 6 problemas mentais relacionados à pobreza
Quando alguém vive em condição de pobreza, enfrenta uma série de desafios que podem afetar a saúde mental e emocional:
Constante preocupação com a sobrevivência básica, como alimentação, moradia e segurança;
Falta de acesso a recursos educacionais e oportunidades de desenvolvimento, o que pode afetar o desempenho acadêmico, social e profissional;
A falta de recursos também pode levar a comportamentos de curto prazo, como a busca por soluções imediatas para problemas financeiros, em vez de planejamento a longo prazo.
Em síntese, a pobreza não apenas limita os recursos materiais, mas também pode moldar profundamente o comportamento e as perspectivas de vida das pessoas, criando barreiras adicionais para superar essa condição. Veja a seguir seis problemas mentais relacionados à falta de dinheiro.
1. Propensão para déficit de atenção e hiperatividade
É o que mostra uma pesquisa feita apenas com brasileiros e publicada em 2021 na revista científica European Child & Adolescent Psychiatry. "Da forma como realizamos o trabalho, foi possível observar a tendência tanto na adolescência como no início da idade adulta", explica a pesquisadora e principal autora do estudo, Carolina Ziebold, do Departamento de Psiquiatria da Unifesp. "A probabilidade de apresentar problemas entre elas [crianças de famílias pobres] foi de 63%."
2. Sobrecarga emocional por tarefas desde cedo
"Meninas pobres têm menos chance de diagnóstico precoce de problemas, seja na família ou na escola. Além disso, elas assumem mais tarefas desde cedo em casa, como cuidar de irmãos mais novos e de pessoas doentes. Essa sobrecarga expõe a mais eventos estressantes, que aumentam as chances de apresentar problemas mentais quando adultas", diz a pesquisadora Carolina Ziebold.
3. Atrasos do ponto de vista escolar
"Crianças e jovens com problemas externalizantes (como déficit de atenção e hiperatividade) podem ter mais chance de impacto negativo no aprendizado, no desenvolvimento social, no mercado de trabalho, aumentando assim a possibilidade de se manterem na pobreza quando adultos", completa Ziebold.
No Brasil, a chance de um filho repetir a baixa escolaridade dos pais é o dobro da probabilidade de que isso ocorra nos Estados Unidos, por exemplo, e bem acima da média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), grupo de 38 países ricos e emergentes.
4. Tendência a ter depressão gestacional
De uma maneira geral, muitas mulheres em situação de vulnerabilidade social (ou adolescentes) engravidam e não têm o apoio do companheiro e, às vezes, nem mesmo da própria família. Esse sentimento de solidão atrelado à falta de condição financeira e à baixa escolaridade são fatores de risco para o desenvolvimento de uma depressão gestacional.
"Quanto mais pobre e mais carente, mais distante a pessoa está da assistência. Ela vai sendo excluída, e isso vem desde a infância, ela não tem espaço para o afeto, para as necessidades psicológicas que todos nós temos", diz a psicóloga Tania Granato, professora, pesquisadora da PUC-Campinas e especialista em maternidade.
5. Às vezes, obsessão por acumular — e não gastar
Na cabeça de quem é obcecado por adquirir e acumular riquezas e sofre em ter que usá-las, mesmo em benefício próprio, geralmente há problemas de fundo psicológico e emocional. Pode ser que essa pessoa tenha sofrido algum trauma por ter passado uma grande crise ou prejuízo financeiro, humilhações, então teme reviver aquilo, ou se apegou demais ao que batalhou para conquistar e até desenvolveu uma compulsão para suprir desejos e carências.
Segundo o psiquiatra Henrique Bottura, quem se encaixa nessa situação acaba incorporando a avareza como um traço de personalidade. Corre o risco de se tornar um indivíduo individualista, ganancioso, com dificuldades para se relacionar.
6. Falta de responsabilidade financeira e impulsividade
Pobreza e dívidas são constantemente atribuídas à falta de responsabilidade financeira e disciplina para poupar. Se você é pobre e comete erros, por exemplo maus investimentos, esquecer de pagar contas, o preço na vida será muito mais alto.
Flavia Ávila, especialista em economia comportamental, diz que "um dos pontos-chaves da pobreza é que em momentos de escassez, seja de dinheiro ou de tempo, você tende a tomar decisões impulsivas, instintivas e menos racionais no geral".
*Com informações de reportagens publicadas em 17/12/2021; 28/03/2021; 05/11/2021; 29/05/2022
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