'Quase morri por causa de cloro': homem tem convulsão limpando banheiro
O que era para ser uma limpeza de rotina em casa acabou colocando a vida do Dj Raphael Voolk, 29, em risco. Enquanto lavava o banheiro, o morador de Guaratiba, zona oeste do Rio de Janeiro, ficou intoxicado, desmaiou e teve dois episódios de convulsão devido ao uso excessivo de cloro.
O acidente aconteceu no dia 11 de agosto. Raphael estava em casa com sua mulher e enquanto lavava o banheiro de porta fechada, começou a se sentir mal devido ao cheiro forte e a mistura dos produtos de limpeza.
Eu não tinha noção dos cuidados e dos perigos. Nunca iria imaginar que limpar o banheiro de porta fechada, com cloro em excesso, poderia causar isso. Havia misturado o cloro com o desinfetante, percebi que caiu produto demais, mas continuei a faxina. Conforme fiquei inalando aquele cheiro, comecei a me sentir mal. Até que eu caí no chão, de barriga para cima e comecei a convulsionar.
Antes de cair, ele conta que estava conversando com sua mulher e do nada começou o primeiro episódio de convulsão. Assim que ela percebeu que ele havia caído, imediatamente correu para ajudar. Ela o deitou de lado, ele vomitou e ficou com alguns hematomas pelo corpo.
Assim que acabou o primeiro episódio de convulsão, Rapahel ficou inconsciente, depois sonolento e assim que começou a se recuperar, levantou e foi deitar na cama. Minutos depois, ele teve outro episódio de convulsão e foi para o hospital. Essa foi a primeira vez na vida que ele teve quadros de convulsão.
Se minha mulher não estivesse comigo, eu estaria morto, com certeza. Ela ficou desesperada, tentou me ajudar como pôde e assim que recuperei a consciência, fomos para o hospital. Fui examinado e o médico confirmou que tive uma anafilaxia, um problema alérgico, respiratório. Minha glote ficou inchada a ponto de eu ter dificuldade de engolir a saliva. Assim que recebi medicação na veia, comecei a melhorar.
Ele foi medicado com antialérgico e adrenalina, ficou em observação e liberado do hospital horas depois. Raphael não ficou com sequelas, mas os hematomas no rosto, na perna e no braço não o deixam esquecer do episódio. Ele chegou a compartilhar um vídeo nas redes sociais para alertar as pessoas sobre os riscos desses produtos químicos.
@raphavoolk Isso é doideira nunca iria imaginar que estar em um ambiente cheirando cloro pode matar #fy #fyp #foryou ? som original - Voolk
Atenção aos rótulos
Paulo Engler é diretor-executivo da Abipla (Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional) e alerta que os produtos de limpeza comercializados de maneira regular no Brasil são seguros para uso, mas é preciso se atentar a todas as formas de utilização e aplicação prescritas no rótulo.
Não podemos esquecer que estamos falamos de produtos químicos. Se forem usados da maneira e proporções corretas, o risco de acidentes é muito pequeno, mas, caso as recomendações dos fabricantes sejam desrespeitadas, pode vir a acontecer intoxicação ou queimadura, por exemplo. É preciso ter em mente também que a forma correta de uso inclui o ambiente em que o produto de limpeza é aplicado. Se no rótulo do produto é recomendado que o local esteja bem ventilado, é importante manter portas e janelas abertas e ficar no ambiente apenas o tempo necessário para a aplicação do produto Paulo Engler
Diferentemente do que muitas pessoas costumam fazer na rotina doméstica, nenhuma mistura de produto de limpeza deve ser realizada sem que esteja expressamente indicada no rótulo do produto. Além de não ser seguro, pode trazer prejuízos à saúde, explica Engler, que diz que essa é uma prática que tem crescido nos últimos anos.
"Essas misturas podem provocar a formação de gases tóxicos e líquidos corrosivos. Além de diminuir a eficácia dos produtos aplicados."
Para fazer uma faxina segura e sem prejuízos à saúde, o primeiro cuidado que as pessoas devem tomar é sempre usar produtos de limpeza regularizados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Todo produto de limpeza comercializado no Brasil deve, obrigatoriamente, ter o número de Registro ou de Notificação em seu rótulo. Caso não tenha, é muito provável que o produto seja clandestino. Ou seja, foi formulado sem passar pelas extensas baterias de testes de segurança e estabilidade pelas quais os produtos de limpeza regularizados são submetidos.
"Segundo uma pesquisa realizada pela Abipla, o mercado de produtos informais representa 11% de todo o setor de produtos de limpeza de uso doméstico. Por isso, procure no rótulo as informações da avaliação da Anvisa e respeite sempre a forma de uso que consta na embalagem e, é claro, nunca misture produtos de limpeza por conta própria. Dessa forma, as chances de acidentes diminuem consideravelmente", Paulo Engler, diretor-executivo da Abipla
Risco de danos neurológicos
A anafilaxia, diagnóstico que Raphael recebeu, é uma reação alérgica grave e, geralmente, envolve alérgenos específicos, como alimentos, picadas de insetos, ou medicamentos, segundo o médico Arthur Vianna, professor de pneumologia faculdade de medicina da UFF (Universidade Federal Fluminense).
"As reações anafiláticas devido ao contato com cloro são extremamente raras. O cloro, como encontrado em piscinas ou em produtos de limpeza, pode causar irritação na pele, nos olhos ou nas vias respiratórias, especialmente em pessoas sensíveis, mas essas reações geralmente não são do tipo anafilático. No caso do cloro, a maioria das reações observadas está mais relacionada a irritações químicas do que a uma resposta alérgica do sistema imunológico", explica o especialista.
Casos como o de Raphael não são comuns e segundo o médico, precisa ser investigado para saber se o que disparou as convulsões foi devido a uma baixa oxigenação no organismo.
Se houver fechamento de vias aéreas, é possível, sim, que o paciente morra. E as crises convulsivas, a baixa oxigenação, podem provocar dano neurológico devido à demora na reversão da crise. Pessoas com asma ou alergias respiratórias podem ter reações exacerbadas ao cloro, mas não necessariamente uma reação anafilática. Posteriormente, deverá ser feita uma análise cuidadosa com exames direcionados para investigação de asma como provas de função pulmonar e exames para detectar alergias
Arthur Vianna
Anafilaxia
Reação alérgica: anafilaxia ou reação anafilática é uma reação alérgica intensa e potencialmente fatal que tem início súbito e evolução rápida. O quadro pode ser desencadeada por vários fatores, mas alimentos, medicamentos e picadas de insetos são as causas mais comuns.
Organismo invasor: a anafilaxia é uma reação inapropriada do sistema imunológico a determinadas substâncias, tratando como agentes invasores. Os anticorpos entendem que algo é nocivo ao organismo e desencadeiam uma cascata de reações para destruir este suposto invasor.
Sintomas: os sintomas comuns das alergias não são provocados diretamente por comidas, picadas de insetos ou medicamentos, e sim causados pela ação equivocada de anticorpos, que estimulam células de defesa a produzirem uma grande quantidade de histamina.
Grupos de risco: não há muitos grupos de risco conhecidos para a anafilaxia, mas há casos que podem aumentar a chance de seu desenvolvimento. São elas: alergias ou asma; um caso anterior de anafilaxia; e histórico familiar.
Diagnóstico: o diagnóstico é geralmente realizado na emergência do hospital baseado em sintomas como confusão mental; inchaço nas gargantas; fraquezas e tonturas; frequência cardíaca rápida ou anormal; edema facial; urticária; pressão baixa (hipotensão).
O que fazer: o principal tratamento para uma reação de anafilaxia é a adrenalina (epinefrina), que deve ser injetada imediatamente após a constatação de uma crise. Se você está tendo uma crise ou está próximo a alguém que está tendo anafilaxia, ligue imediatamente para uma ambulância.
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