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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


'Acordei com dor de cabeça insuportável': aos 27, ela teve 2 AVCs em 5 dias

Adriana Martins Ferreira teve dois AVCs aos 27 anos Imagem: Arquivo pessoal
Bárbara Paludeti e Bárbara Therrie

De VivaBem, em Berlim (Alemanha)* e Colaboração para VivaBem

21/08/2024 05h30

A gerente de marketing Adriana Martins Ferreira tinha apenas 27 anos quando sofreu dois AVCs em um intervalo de cinco dias em 2017. O primeiro foi no dia da festa de aniversário de 1 ano da filha. O segundo foi no hospital. "Meu maior medo era morrer e não ver minha filha crescer, não estar ao lado dela para dar amor e educá-la" diz ela hoje, aos 33 anos. A seguir, Adriana conta sua história.

"No dia da festa de 1 ano da minha filha, a Analu, acordei com uma enxaqueca muito forte, a dor era na parte superior. Nunca tinha sentido algo parecido, era como se alguém estivesse enfiando algo pontiagudo no coco da minha cabeça.

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Achei que a dor fosse devido ao nervosismo e a expectativa para que desse tudo certo na festa. Também estava ansiosa por causa do meu ex-marido, nos separamos quando a Analu tinha alguns dias de vida, estávamos em meio a um processo judicial de guarda.

Me automediquei e fui para a festa, mas a dor só piorou. Ao chegar em casa à noite, fui dar janta para a Analu, minha visão ficou turva e não conseguia acertar a colher na boca dela. Desmaiei enquanto dava comida pra ela.

Minha avó conta que estava tomando banho, ouviu a Analu chorar e perguntou se estava tudo bem, como não respondi, ela foi até a cozinha e me encontrou caída no chão. Ela pediu ajuda e uma vizinha me levou para o hospital.

Adriana com a filha Imagem: Arquivo pessoal

O médico me examinou, pediu para eu fazer alguns movimentos, mas não conseguia mexer o braço e a perna esquerda. Fiz uma tomografia do crânio, mas não foi constatada nenhuma alteração. Fui diagnosticada com enxaqueca e orientada a passar com um neurologista. Recebi alta mesmo com dificuldade nos movimentos.

Passei o domingo todo dormindo devido às medicações e na segunda fui trabalhar. Meu chefe notou que eu estava estranha e disse que eu precisava de atendimento médico. Minha fala estava embolada, continuava com dor de cabeça e a visão estava turva.

Fui para o hospital, fiz uma bateria de exames e foi identificado que eu estava com um trombo no cérebro e que eu havia tido um acidente vascular cerebral isquêmico. Os sintomas que apresentei no dia da festa da Analu e que foram tratados como enxaqueca na verdade eram um AVC.

Fiquei assustada, só chorava e queria ir embora da UTI porque queria ver minha filha. Os médicos começaram a investigar a causa do AVC, quando cinco dias depois tive o segundo acidente vascular cerebral isquêmico.

Senti uma dor de cabeça muito forte e comecei a vomitar. Fui medicada, dormi e na hora que acordei estava com o lado esquerdo totalmente paralisado e com a visão do olho esquerdo embaçada.

Ter 2 AVCs em um intervalo de 5 dias aos 27 anos de idade foi desesperador. Meu maior medo era morrer e não ver minha filha crescer, não estar ao lado dela para dar amor e educá-la. Não acreditava no que estava acontecendo e me questionava o porquê de tudo aquilo. Era jovem, praticava atividade física, não fumava, só bebia socialmente.

Os médicos fizeram vários exames, mas não descobriram a causa do problema. Minha avó materna teve três AVCs antes de eu nascer. Fui o segundo caso da família.

Fiquei 12 dias internada, recebi alta e fiz acompanhamento com neurologista, fisioterapeuta e oftalmologista. Minha reabilitação durou seis meses.

Fiquei com algumas sequelas, perdi 60% da visão do olho esquerdo e perdi a força no braço esquerdo, não consigo, por exemplo, pegar uma sacola pesada. As pessoas só percebem essas limitações quando conto que tive dois AVCs, se não conto ninguém nem desconfia.

Imagem: Arquivo pessoal

A orientação para evitar ter um novo AVC é tomar alguns cuidados, como fazer atividade física, ter uma boa alimentação, tomar a medicação diariamente, ficar de olho no colesterol, fazer os exames rotineiros.

Meu neurologista, o doutor Wanderley Cerqueira de Lima, sempre fala: 'Adriana, todo mundo vai morrer, então seja feliz e aproveite a vida'.

Antes, me estressava por qualquer motivo ou deixava de fazer as coisas devido ao excesso de trabalho. Hoje vejo a vida de uma outra forma, me priorizo e administro melhor o meu tempo.

Faço academia três vezes por semana e, aos domingos, pedalo uma média de 40 km a 45 km, gosto de ver o nascer do sol.

Tenho uma rotina puxada, trabalho durante o dia e fico com a minha filha à noite. Na sexta fazemos aula de dança juntas, gostamos de passar momentos simples e felizes na companhia uma da outra. Trabalhar e ser mãe é importante, mas me olhar e me cuidar enquanto pessoa e mulher também é. Sou a minha melhor escolha."

AVC pode ter a ver com histórico familiar?

O AVC é uma condição séria que pode ser influenciada por fatores familiares, especialmente em indivíduos com predisposições genéticas ou condições específicas de saúde, explica Wanderlei Cerqueira de Lima, especialista em neurocirurgia e neurologia do Hospital Albert Einstein (SP).

De forma geral, AVC é a morte de células do cérebro, que acontece pela interrupção do fluxo sanguíneo no órgão. Essa falta de circulação do sangue pode ocorrer de duas maneiras:

AVC hemorrágico: quando um vaso sanguíneo ou artéria se rompe, causando vazamento do sangue na região e interrompendo o fluxo sanguíneo apropriado.

AVC isquêmico: pode acontecer quando há o entupimento de um vaso sanguíneo, devido ao acúmulo de placas de gordura em suas paredes. Ou então quando um coágulo migra para um vaso sanguíneo cerebral e limita o fluxo de sangue, o que vai "matando" as células que não recebem nutrição.

Segundo o médico, embora o termo "hereditário" implique na transmissão direta de uma condição de pai para filho, o que ocorre com o AVC é mais uma predisposição familiar. "Pessoas com histórico de AVC na família, especialmente aquelas que compartilham as mesmas condições de saúde, têm até quatro vezes mais risco de sofrer um AVC", afirma.

Além disso, pessoas que já sofreram um AVC estão em risco aumentado de ter novos episódios. O neurologista explica que indivíduos que já tiveram um AVC isquêmico ou um ataque isquêmico transitório —conhecido pela sigla TIA ou como mini-AVC— devem ser monitorados de perto, pois esses eventos podem ser sinais de alerta para futuros problemas. "Quem já teve um AVC pode, sim, ter outros, especialmente se os fatores de risco, como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares não forem controlados adequadamente", afirma.

Entre os fatores que aumentam o risco de AVC estão a hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, como infarto e arritmias cardíacas, além de condições como obesidade, dislipidemia e doenças inflamatórias crônicas, que podem levar à formação de trombos e coágulos, obstruindo vasos sanguíneos e causando AVC isquêmico.

Cerqueira também destaca a maior prevalência de AVC em pessoas negras devido à maior incidência de hipertensão arterial e anemia falciforme nessa população. "A anemia falciforme pode causar obstrução de pequenos vasos, levando a um AVC isquêmico", explica.

Outro ponto importante é a fibrilação atrial, uma arritmia cardíaca comum em pessoas acima de 60 anos, que pode resultar na formação de coágulos no coração. "Esses coágulos podem se desprender e obstruir artérias, aumentando o risco de AVC isquêmico", alerta o especialista.

O AVC hemorrágico, por sua vez, está frequentemente relacionado a fatores como hipertensão não controlada, aneurismas e condições genéticas como rim policístico, que podem levar à formação de aneurismas nas artérias cerebrais. "O rompimento desses aneurismas pode causar um AVC hemorrágico, uma condição grave e de difícil prevenção", destaca o médico.

A prevenção do AVC, segundo o médico, envolve o monitoramento e controle rigoroso de fatores de risco, como hipertensão, diabetes, colesterol alto e sedentarismo, além de evitar o consumo excessivo de álcool e tabagismo.

Medicamento em estudo

Um estudo clínico de fase 3, da farmacêutica Bayer, quer melhorar a prevenção de AVCs isquêmicos. A pesquisa é voltada para pessoas que, nas últimas 72 horas, sofreram um AVC isquêmico não-cardioembólico (em que o coágulo se forma fora do coração) ou um mini-AVC, que tem alto risco de se transformar em um AVC completo. Esses pacientes já estão em tratamento padrão com medicamentos antiplaquetários, que evitam a formação de novos coágulos.

O foco do estudo é o medicamento asundexian, um novo tipo de anticoagulante em desenvolvimento. Diferente dos antiplaquetários, que impedem as plaquetas de se aglomerarem, o asundexian atua no processo de coagulação para evitar a formação de coágulos.

"Descobrimos esse outro alvo, que é a inibição do fator XIA, que, na nossa opinião, mantém a promessa de oferecer um benefício melhor, ou seja, oferecer um benefício adicional em relação a prevenir um segundo AVC, enquanto, por outro lado, aumenta menos o sangramento do que outros anticoagulantes", explica Christoph Koenen, diretor de desenvolvimento e operações clínicas da Bayer.

A principal meta da pesquisa é determinar se o asundexian, quando usado junto com a terapia antiplaquetária, é mais eficaz do que um placebo na redução de novos AVCs isquêmicos, sem aumentar significativamente o risco de sangramentos graves.

"E isso não é apenas mostrado por experimentos em animais, por pensar na cascata de anticoagulantes onde você poderia intervir, mas o que faz isso tão interessante como alvo é o fato de que isso é corroborado por evidências genéticas sólidas, ou seja, há pessoas que, por causa de mutações, têm os níveis de fator XI e XIA mais baixos, e o que observamos nesses pacientes é menos AVCs, enquanto, por outro lado, quando sofrem acidentes ou passam por cirurgias, eles não têm um risco de sangramento aumentado, o que faz esse alvo tão interessante", conta Koenen.

Durante o estudo —que tem previsão de ser finalizado em outubro de 2025—, que pode durar de três a 31 meses, os mais de 12 mil participantes (inclusive no Brasil) serão monitorados regularmente por meio de exames de saúde do coração, controle de pressão arterial e coleta de amostras de sangue. A pesquisa também vai comparar a incidência de eventos hemorrágicos graves entre os grupos que recebem asundexian e placebo, além de avaliar a qualidade de vida dos participantes ao longo do tempo.

*A jornalista Bárbara Paludeti viajou a convite da Bayer.

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