O que é fibrilação atrial, quadro que provocou internação de Tite?
Giovanna Arruda*
Colaboração para VivaBem
23/08/2024 14h42
Tite, treinador do Flamengo, foi internado ao desembarcar no Rio de Janeiro após jogo contra o Bolívar pela Libertadores em La Paz, na Bolívia, na quinta-feira (22).
Exames realizados diagnosticaram fibrilação atrial, mas não houve necessidade de intervenção cirúrgica. De acordo com o Flamengo, até o momento o treinador está "lúcido e estável". Tite permaneceu no hospital para a tentativa de reversão do quadro com o uso de medicamentos.
O que é a fibrilação atrial
Alteração no ritmo do coração. A fibrilação atrial causa irregularidades no ritmo do coração, que não se contrai adequadamente. A alteração deixa o fluxo sanguíneo mais lento, favorecendo a formação de coágulos que, após circular pelas artérias, podem chegar ao cérebro e provocar um derrame.
Coágulo também pode surgir em outros pontos do corpo. Problemas graves como trombose, isquemia nos olhos, rins, intestinos, coluna ou mesmo nos dedos dos pés podem ser consequências da alteração no fluxo sanguíneo causado pela fibrilação atrial.
Causas são diversas. Fatores genéticos podem fazer com que a pessoa desenvolva a doença precocemente, assim como aqueles que já apresentam alguma outra condição cardíaca. Tabagismo, hipertensão, obesidade, diabetes, asma, sedentarismo, consumo excessivo de álcool ou de estimulantes com cafeína podem contribuir para o desenvolvimento do quadro.
Altitude pode interferir. Em locais como esses, a pressão atmosférica é menor, o que torna o ar mais rarefeito e com menos oxigênio. A frequência cardíaca, então, pode ser impactada por essa falta do oxigênio necessário, já que o coração acelera e faz um esforço extra para captar o oxigênio que seu organismo está acostumado a absorver. La Paz é a capital com maior altitude do mundo: a cidade fica a aproximadamente 3.600 metros acima do nível do mar.
Qualidade do sono também pode influenciar no quadro. Diversos estudos, em especial nos Estados Unidos, identificaram que pessoas com má qualidade do sono ou com muitos despertares têm mais chances de ter fibrilação atrial. Menor período de sono REM (fase de intensa atividade cerebral em que o sono é profundo e responsável por diversos fatores fundamentais, como a liberação de hormônios e consolidação da memória), assim como insônia aumentam os riscos da cardiopatia.
Sintomas podem não ser perceptíveis. No caso de Tite, houve sinais de que alguma alteração estava acontecendo. No entanto, é possível que não haja nenhum sintoma e a fibrilação atrial seja detectada somente em exames ou avaliação médica. Consultas regulares ao cardiologista com periodicidade mínima de um ano são recomendadas para identificação de eventuais condições silenciosas. Caso seja necessário, o especialista pode recomendar consultas com um espaçamento ainda menor.
Como identificar a fibrilação atrial? Casos de arritmia "normal", com sequências de batimentos cardíacos irregulares (muito rápidos ou muito lentos), geralmente são muito breves, com palpitações de alguns segundos ou minutos. Caso a alteração seja sentida por vinte minutos, é necessário buscar atendimento médico. As chances de ter um acidente vascular cerebral (AVC) aumentam em torno de 7% caso o paciente não tenha a correta conduta nas primeiras 24 horas do episódio.
Apesar de ser mais comum depois dos 40 anos, a fibrilação atrial pode acometer pessoas mais jovens. As chances de aparecimento da condição aumentam conforme a o envelhecimento, podendo atingir entre 30 e 40% dos adultos acima dos 40 anos.
*Fontes: Enrique Pachón, cardiologista do Serviço de Arritmias Cardíacas do HCor (Hospital do Coração), em São Paulo, e Marcelo Luiz Peixoto Sobral, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular e cirurgião cardiovascular da Beneficência Portuguesa de São Paulo; com informações de matérias publicadas em janeiro de 2023 e em março de 2018.