Pesadelos, premonições e sonhos malucos: o que rola na sua cabeça ao dormir

Sonhos são fenômenos complexos que ocorrem durante o sono, caracterizados por uma série de imagens, sons, pensamentos e sensações que parecem reais enquanto estamos dormindo. Eles têm fascinado a humanidade desde os tempos antigos, sendo frequentemente interpretados como mensagens divinas, presságios ou reflexões do inconsciente.

Para a psicologia, Sigmund Freud foi pioneiro no estudo sistemático dos sonhos, sugerindo que eles funcionam como uma janela para o inconsciente, revelando desejos reprimidos e conflitos internos. Carl Jung, por sua vez, acreditava que os sonhos contribuem para o equilíbrio psicológico, integrando conteúdos inconscientes na consciência por meio de símbolos universais, os arquétipos.

Além de sua importância histórica e psicológica, sonhos também desempenham um papel crucial na neurociência moderna. "Pesquisas sugerem que eles ajudam na consolidação de memórias e na resolução de problemas, funcionando como uma forma de processar e organizar as experiências do dia a dia, ou como um teste para o que precisamos enfrentar quando acordados", informa Júlio Pereira, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e neurocirurgião.

Há várias formas de sonhar

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Imagem: Getty Images

E igualmente existem fenômenos e distúrbios que se confundem ou entrelaçam a eles. Pesadelos, sonhos de temática recorrente ou repetida, terrores noturnos, sonhos lúcidos, falsos despertares, paralisia do sono, alucinações hipnagógicas (experiências sensoriais vívidas que ocorrem durante a transição entre a vigília e o sono), entre outros. Também há relatos de sonhos premonitórios e telepáticos.

"Os sonhos e fenômenos relacionados a eles são estudados geralmente por profissionais como psicólogos e psiquiatras, mas também por neurologistas, neurocientistas e cientistas sociais como antropólogos", explica Everton Maraldi, psicólogo e pesquisador da Ciência Pioneira Idor e pelo Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP.

Mas, segundo Maraldi, são experiências que, embora relatadas por muitas pessoas em diferentes países, parecem desafiar as expectativas e concepções culturais e científicas.

Um exemplo são os sonhos premonitórios, que não se alinham com o que a psicologia e a neurociência sabem sobre a cognição humana. São explicados como tendências, erros de memória ou coincidências. Everton Maraldi, psicólogo e pesquisador

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Refletem como impactam a vida

Independentemente da causa ou origem, sonhos são muito relatados e tendem a influenciar escolhas, crenças e a saúde mental das pessoas. Seu conteúdo se modifica em função de experiências emocionais intensas, medos, desejos mais profundos, e pode apontar para (ou informar sobre) a possível presença de quadros psicopatológicos; sinalizar estresse, ansiedade e traumas não resolvidos.

Portanto, a interpretação dos sonhos pode ser uma ferramenta útil para o autoconhecimento. "Analisar os conteúdos e significados presentes neles pode ajudar a compreender o que é preciso mudar, além de fornecer perspectivas, ideias criativas e soluções para problemas do dia a dia", afirma Eduardo Perin, psiquiatra e psicoterapeuta pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Sonhos frequentes, ainda com situações embaraçosas, envolvendo sobretudo o próprio sujeito, podem denotar preocupações, como em querer cuidar da imagem pessoal diante dos outros, da sociedade. Em seu livro "A Interpretação dos Sonhos", Freud diz que os sonhos ajudam a manter o equilíbrio emocional ao permitir a expressão de desejos inconscientes de forma simbólica, explica Perin.

Qual se encaixa com você?

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Os sonhos se manifestam principalmente durante a fase REM, a mais profunda do sono e caracterizada por movimentos rápidos dos olhos e aumento da atividade cerebral. Sim, o cérebro não descansa nem quando dormimos. Nesse estado, processa pensamentos, associações diversas feitas no dia, imagens mentais, emoções, enquanto continua a comandar todas as funções fisiológicas.

"Sonhos podem ter a ver com a realidade ou irrealidade e acabar até assimilados a premonições, espiritualidade, marcos de mudanças", ressalta Eduardo Perin.

A seguir, veja alguns tipos deles:

Sonhos vívidos

Parecem extremamente reais e detalhados, podendo ser agradáveis ou perturbadores, e deixam uma impressão duradoura, tanto que muitos conseguem se lembrar deles muito bem ao acordar.

Fatores como estresse, ansiedade, luto, uso de medicamentos, álcool, drogas e mudanças hormonais podem contribuir para esses sonhos.

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Eles são relatados em diferentes culturas, e pessoas que têm mais sonhos vívidos podem buscar correspondências entre seus sonhos e eventos cotidianos. Everton Maraldi, psicólogo e pesquisador

Sonhos lúcidos

"A pessoa tem consciência do que está num sonho e consegue ter algum controle sobre o que está acontecendo nele, intervir de alguma forma nas ações, cenários e interações", informa Lidia Maria Guerra Brito, especialista em terapia cognitiva-comportamental pela USP.

Há autores que defendem a possibilidade, inclusive, de se treinar esse processo. Então, não aconteceria de forma espontânea.

Pesadelos

São sonhos perturbadores que causam sentimentos de medo, ansiedade ou desconforto.

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As causas dos pesadelos podem variar, mas alguns fatores comuns incluem estresse e ansiedade por problemas do dia a dia, preocupações, eventos traumáticos; dormir pouco ou ter um sono de má qualidade; medicamentos, como antidepressivos ou para a pressão arterial; uso de álcool e drogas, bem como sua abstinência; ler ou assistir a conteúdos assustadores antes de dormir.

Sonhos premonitórios

Seriam aqueles em que a pessoa acredita ter visões ou sensações dormindo sobre eventos futuros que ainda não aconteceram.

A ciência, entretanto, tem uma visão cética sobre esses sonhos. Muitas vezes, os sonhos premonitórios podem ser explicados como coincidências ou processos cerebrais normais —o cérebro é excelente em fazer conexões e previsões baseadas em informações subconscientes.

"Às vezes, a pessoa já está preocupada, tem noção dos possíveis desfechos, mentaliza cenários e eles só se confirmam", explica o médico Júlio Pereira.

Sonhos telepáticos

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Seriam aqueles em que se acredita ter recebido ou transmitido informações para outra pessoa através dos sonhos, sem qualquer comunicação física ou verbal.

A falta de evidências científicas faz com que eles permaneçam no campo da especulação e do misticismo. Sonhos desse tipo podem ser explicados como afinidade entre pessoas, empatia, troca dos mesmos assuntos, capacidade de prever o comportamento alheio com base em experiências passadas e déjà-vu.

Sonhos "fora do corpo"

"Essas experiências, interpretadas como paranormais, são relativamente frequentes durante estados de paralisia do sono, explicada como um estado entre o sono REM e o estado acordado", explica Maraldi.

A pessoa está consciente e às vezes alerta, mas não consegue se mexer. Durante esse estado, ela pode sentir presenças no quarto ou ver pessoas e seres anômalos. Costuma ser uma experiência negativa e estressante.

"Ocorre uma dissociação entre consciência e controle motor. A pessoa se sente incapaz de se mover, porque o corpo está em atonia muscular, o que pode causar sensação de estar fora do corpo, ter alucinações visuais e auditivas", diz Brito.

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Sonhos "meio acordado, meio dormindo"

Sabe quando você não sabe se sonhou ou viu/experimentou de fato algo estranho? Pode ser que você tenha tido uma alucinação hipnagógica ou hipnopômpica. Ambas ocorrem em momentos específicos do ciclo do sono; são inofensivas, mas podem ser assustadoras.

A primeira acontece durante a transição entre a vigília e o sono, ou seja, quando estamos prestes a adormecer. Pode incluir visões de figuras geométricas, rostos, criaturas fantásticas ou até mesmo sons e sensações táteis.

Já a segunda é comum ao acordar, durante a transição do sono para a vigília. As pessoas podem experimentar visões de pessoas, animais ou objetos inexistentes, além de sons estranhos ou vozes.

Outra possibilidade são os falsos despertares. Experiências em que uma pessoa acredita que acordou, mas na verdade ainda está sonhando. Durante um falso despertar, ela pode realizar atividades rotineiras, como levantar da cama ou se preparar para o dia, apenas para perceber depois que ainda está dormindo.

Sonhos dentro de sonhos

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São experiências em que a pessoa sonha que está sonhando. Esse fenômeno pode ser bastante confuso, pois ela pode acreditar que acordou de um sonho, mas na verdade ainda está dentro de outro.

A ciência explica os sonhos dentro de sonhos como um fenômeno que ocorre principalmente durante a fase REM, quando os sonhos são mais vívidos e complexos. Durante essa fase, o cérebro está altamente ativo, e isso pode levar a camadas de sonhos, onde um sonho se desenvolve dentro de outro.

Em alguns casos, as pessoas podem ter consciência de que estão sonhando (sonhos lúcidos) e, nesse estado, podem experimentar sonhos dentro de sonhos.

Sonhos repetidos e frequentes

São aqueles que ocorrem várias vezes ao longo do tempo, muitas vezes com temas ou cenários semelhantes. Podem ser intrigantes e, às vezes, perturbadores.

Esses sonhos podem ser uma forma de o cérebro processar emoções e experiências não resolvidas ou tentar lembrar a pessoa sobre algo importante. Também podem ser uma manifestação de ansiedade ou estresse crônico, ou, quando agradáveis, resultado de experiências marcantes e significativas.

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Quando procurar ajuda?

Se seus sonhos causarem angústia significativa ou interferirem no sono com frequência, pode ser útil procurar um especialista em sono ou um terapeuta para explorar possíveis causas subjacentes e encontrar maneiras de lidar com eles.

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