3 fatias de presunto por dia aumentam risco de diabetes tipo 2 em 15%
Um estudo liderado pela Universidade de Cambridge (Inglaterra), envolvendo cerca de 2 milhões de adultos de 20 países, incluindo o Brasil, revelou que o consumo de carne processada, vermelha e de aves aumenta o risco de diabetes tipo 2. A pesquisa foi publicada na edição de setembro da revista The Lancet Diabetes & Endocrinology.
Dados sobre as dietas dos participantes foram revisados e, dez anos depois, os pesquisadores analisaram a saúde deles. Mesmo após ajustarem para outros fatores de risco como tabagismo, um índice de massa corporal mais alto, inatividade física e histórico familiar de diabetes, os cientistas descobriram que para cada 50 g de carne processada (duas ou três fatias de presunto ou uma salsicha de tamanho médio) que os participantes comiam por dia, o risco de diabetes tipo 2 aumentava em 15%.
Já 100 g de carne vermelha (um bife pequeno ou um hambúrguer de tamanho médio) por dia aumentam o risco em 10%. Uma porção de 100 g frango por dia também foi associada a um aumento de 8% no risco de diabetes tipo 2, mas essa descoberta foi menos consistente e significativa apenas nos estudos europeus, então mais pesquisas são necessárias.
De acordo com a pesquisa, a substituição de 50 g/dia de carne processada por 100 g/dia de carne vermelha não processada foi estimada para reduzir o risco de diabetes tipo 2 em 7% em média. Uma estimativa semelhante foi obtida ao substituir 50 g/dia de carne processada por 100 g/dia de aves. Entretanto, eles não encontraram evidências de que a substituição de carne vermelha não processada por aves estivesse associada a uma redução na incidência da doença.
Qual a relação
Segundo o estudo, o consumo de carne pode afetar o risco de diabetes tipo 2 por meio de diferentes mecanismos que pioram a sensibilidade à insulina, a função das células beta pancreáticas ou ambos.
"Por exemplo, a carne vermelha é rica em ácidos graxos saturados, mas pobre em ácidos graxos poli-insaturados, e a mudança de uma dieta rica em gordura saturada para uma rica em gordura insaturada foi associada à melhora da resistência à insulina", diz a pesquisa.
Além disso, a carne é caracterizada por seu alto teor de proteína, e algumas pesquisas indicaram uma possível associação entre uma alta ingestão de proteínas animais e um risco aumentado de diabetes tipo 2. E aditivos de nitrato ou nitrito e a formação de compostos nitrosos durante o processamento da carne estão associados a um risco maior dessa doença.
O texto ainda diz que "ensaios em pequena escala indicaram que produtos finais de glicação avançada — compostos gerados ao cozinhar produtos cárneos em altas temperaturas, como fritar ou grelhar— podem contribuir para o estresse oxidativo, resposta pró-inflamatória e, subsequentemente, resistência à insulina".
Por fim, os pesquisadores contam que a carne pode ser uma fonte importante de ferro, mas a ingestão de ferro em longo prazo foi implicada em um risco aumentado de diabetes tipo 2 em estudos observacionais.
Risco também é o de câncer
Comer uma porção de 50 gramas de carne processada por dia também aumentaria o risco de câncer colorretal em 18%. Ao menos foi o que mostrou uma revisão de estudos de 2011, divulgados em 2018 pelo The New York Times.
A carne vermelha não processada, por comparação, aumentou o risco de câncer apenas em quantidades superiores a 100 g por dia, de acordo com a pesquisa, e a evidência para essa ligação foi limitada. No texto, os cientistas aconselharam as pessoas a "limitar" a carne vermelha e "evitar" a carne processada.
Há algumas evidências que sugerem uma associação entre a carne processada e o câncer de estômago. E um estudo encontrou um risco aumentado de câncer de mama entre as mulheres que comiam mais carne processada.
A carne processada é qualquer carne, incluindo porco, aves, cordeiro, cabra ou outras, que tenha sido salgada, defumada, curada, fermentada ou processada de alguma forma para a preservação ou para aumentar o sabor. A categoria inclui salsichas, presunto, bacon e bacon de peru, carne enlatada, peperoni, salame, peru defumado, mortadela e outros frios, embutidos, carne seca, conservas e molhos à base de carne, entre outros.
Quando você compra um produto cárneo, você quer comer carne, mas na verdade você está comendo um percentual de proteína, com água, sal e gordura. Jenyffer Medeiros Campos Guerra, nutricionista e pesquisadora
Três vezes por semana, por exemplo, já é um exagero.
*Com informações de reportagens publicadas em 27/06/2024 e 01/08/2022
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