Juan Izquierdo: como parada cardíaca pode causar quadro neurológico crítico

O jogador Juan Izquierdo, 27, do Nacional do Uruguai, sofreu uma parada cardíaca durante um jogo em São Paulo e, segundo boletim médico, tem "quadro neurológico crítico".

Parada e comprometimento neurológico

Após uma parada cardíaca, o cérebro fica privado de oxigênio e glicose, essenciais para sua função, e os danos começam a ocorrer em poucos minutos. O cirurgião cardiovascular Edmo Atique Gabriel explica que, em geral, após cerca de cinco minutos sem fluxo sanguíneo adequado, as células cerebrais começam a morrer.

A falta de oxigenação causa o colapso dos neurônios, levando ao inchaço cerebral e aumento da pressão intracraniana. Esse inchaço é a resposta imediata do cérebro à falta de oxigênio, um mecanismo de defesa que, paradoxalmente, pode agravar a situação ao aumentar a pressão no crânio, o que dificulta ainda mais o fluxo sanguíneo e a recuperação.

O tempo é o fator mais crítico: quanto mais longa a parada cardíaca, maior o risco de danos cerebrais permanentes. Se a parada durar mais de cinco minutos, as chances de danos significativos aumentam exponencialmente, o que pode resultar em déficits neurológicos permanentes ou até mesmo na morte cerebral.

Pressão no crânio

Para mitigar os danos e permitir a recuperação, Izquierdo está intubado, sedado e em ventilação mecânica na UTI. Segundo o especialista, esse protocolo é essencial para dar ao cérebro o tempo necessário para se recuperar. "Mantemos o paciente sedado para evitar qualquer tipo de agitação que piore a situação e permitir que o cérebro desinche", disse ele, acrescentando que o objetivo é reduzir a pressão intracraniana.

O prognóstico do jogador é incerto, mas Gabriel acredita que ele tem chances de recuperação pelo fato de ser jovem e ter boa forma física. "Há uma possibilidade de ele se recuperar, mas tudo depende de como o cérebro vai responder nos próximos dias", diz o médico.

Arritmia prévia

O colapso do jogador pode ter sido resultado de uma soma de fatores, incluindo seu histórico de arritmia. Diagnosticado em 2014, o quadro o colocava em risco, mesmo sendo um atleta jovem. Segundo Gabriel, essa condição o tornava suscetível a eventos graves, especialmente sob estresse físico e emocional intenso.

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As condições ambientais no momento do jogo também podem ter agravado a situação de Izquierdo, segundo Gabriel. A baixa umidade e a temperatura fria da noite da última quinta-feira em São Paulo criam um ambiente propício para a ocorrência de arritmias severas, explica o especialista.

O médico também levantou a hipótese de que peculiaridades anatômicas possam ter contribuído para o quadro. A anatomia do coração, como o formato das artérias, pode influenciar na gravidade da arritmia —a hipótese, no entanto, ainda não é confirmada. "Algumas pessoas têm variações anatômicas que podem aumentar o risco de arritmias severas, e isso é algo que ainda está sendo avaliado no caso dele."

Juan Izquierdo, 27, colapsou em campo durante uma partida do Nacional do Uruguai contra o São Paulo, na última quinta-feira (22), durante a Copa Libertadores. O jogador sofreu uma parada cardíaca aos 84 minutos de jogo. Ele foi atendido em campo e levado ao Hospital Albert Einstein, que fica próximo ao MorumBis, onde o jogo foi disputado.

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