Adultos subestimam 6 comportamentos que crianças percebem e sofrem

Quando os pais levam seus filhos à terapia e não resolvem os próprios problemas, as crianças correm o risco de ficar estigmatizadas por algo que não lhes compete, que cabe, na verdade, a um ambiente disfuncional, explica Wimer Bottura, psiquiatra pelo IPq-FMUSP (Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP).

Segundo o médico, ainda hoje é muito difícil e complexo para alguns pais admitirem e aceitarem ter problemas, principalmente quando têm êxito profissional/financeiro e cumprem o que o especialista chama de "padrão da sociedade".

Portanto, nem sempre é a criança ou o adolescente que precisa de ajuda. Há casos em que os adultos é que têm questões internas a serem resolvidas e causam problemas familiares. Tanto que nessas situações, quando questionados, é muito comum os pais abordarem apenas superficialmente os problemas do filho.

Crianças registram de tudo

A seguir, veja seis comportamentos que os adultos acreditam que as crianças não percebem, mas que elas notam e podem impactá-las negativamente:

  1. Relação com o parceiro: as crianças captam atitudes não verbais e críticas sobre outros cuidadores, o que pode afetar sua sensação de segurança e confiança.
  2. Imagem corporal: elas observam como os adultos falam e agem em relação aos seus próprios corpos, aprendendo o que é considerado bom ou ruim.
  3. Valores reais: as crianças percebem o que os adultos realmente valorizam, muitas vezes diferente do que dizem valorizar.
  4. Autocompaixão ou falta dela: elas notam como os adultos lidam com seus próprios erros e frustrações, aprendendo a importância da autocompaixão. Mas também podem absorver dos pais uma tendência perfeccionista, crítica demais.
  5. Reações emocionais: as crianças são sensíveis às reações emocionais dos adultos, mesmo quando eles tentam escondê-las.
  6. Interações sociais: elas observam como os adultos tratam outras pessoas e aprendem sobre empatia e respeito a partir dessas interações.

Em sofrimento, requerem ajuda

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Imagem: iStock

Para que comportamentos sejam considerados preocupantes e exijam acompanhamento de perto com um profissional de saúde mental, é necessário que se manifestem com frequência. Assim, quando a criança ou adolescente é levado pelos pais ou responsáveis a um terapeuta, a primeira coisa que este deve fazer é investigar as queixas e observar os problemas relatados.

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Como não todas, mas algumas respostas mentais e emocionais da criança ou do jovem podem ter origem em alguma situação dentro do ambiente familiar, é aconselhável que os pais procurem saber o que compete a eles. "Os pais são as referências principais para a criança, que tende a copiar os comportamentos de seus modelos. É algo natural", aponta Thays Mendes, psiquiatra e professora da Afya Educação Médica, de Fortaleza.

Agressões físicas e verbais entre o casal ou a família, falta de diálogo, de disciplina, carinho, disponibilidade, tolerância, sensibilidade, ou até depressão, narcisismo, traumas de infância e inexperiência são alguns dos pontos que os adultos eventualmente devem reconhecer para que não gerem reações emocionais nos filhos e possam prejudicar seu desenvolvimento.

"Muitas vezes, não há a intenção dos pais em transferir seus problemas aos filhos, muito menos os comportamentos que nem eles identificam como problemáticos. Isso nos faz pensar que ser uma boa mãe ou um bom pai exige um exercício constante de humildade e reflexões sobre seus atos e valores", acrescenta Mendes.

*Com informações de reportagem publicada em 07/12/2023

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