'Descobri gravidez após ver que minha glicemia oscilava mais que o normal'

A jornalista carioca Beatriz Libonati, 33, descobriu que está grávida pela primeira vez após perceber sua glicemia desregulada. Diabética, ela seguia uma rotina habitual de cuidados, mas não conseguia controlar o nível de glicose no sangue.

Sempre acompanhei de perto o diabetes, medindo a glicemia diariamente, mas notei que, mesmo comendo as mesmas coisas, ela oscilava mais do que o normal.
Beatriz Libonati

Com outros sintomas como cansaço, sono, fraqueza e seios inchados e doloridos, ela decidiu fazer um exame de sangue. Os resultados mostraram que estava tudo bem, mas os sintomas persistiram. "Fiz um teste de farmácia e descobri a gravidez."

Beatriz planejava engravidar apenas no final do ano, mas a gestação ocorreu antes do previsto. Ela não desconfiou de cara que pudesse estar grávida: foi a oscilação da glicemia o que de fato a preocupou, inicialmente.

Tudo fez sentido e percebi que precisaríamos ajustar o tratamento da doença. Recebi a notícia com surpresa e muita apreensão sobre o que poderia acontecer durante a gestação, de alto risco.
Beatriz Libonati

Durante a gravidez, ela, que tem diabetes tipo 2, precisa usar insulina. "Muitos medicamentos para diabetes não podem ser usados durante a gestação devido à falta de estudos de segurança ou porque podem prejudicar o bebê."

A necessidade da injeção a deixou apreensiva no começo. "Não pela agulha, que é muito fina, mas porque exige mais atenção. Tomar medicamento oral é mais fácil do que injeção, já que você precisa medir a glicemia mais vezes ao longo do dia e manter metas glicêmicas."

Controle glicêmico vem sendo feito com insulina na gravidez
Controle glicêmico vem sendo feito com insulina na gravidez Imagem: Arquivo pessoal

Além de incluir insulina no tratamento, ela também repõe vitaminas, especialmente a B12, que pode ser afetada pelo uso de medicamentos para diabetes. No sexto mês de gestação, Libonati ainda presta atenção na alimentação e pratica atividade física.

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O maior desafio é aprender a fazer a contagem de carboidratos, porque aplico insulina de acordo com o que vou comer em algumas refeições. Nem sempre temos uma balança para pesar os alimentos, especialmente quando comemos fora. É difícil acertar a dose nesses casos.
Beatriz Libonati

O acompanhamento médico se intensificou. Beatriz passa por consultas regulares com endocrinologista, obstetra, nutricionista, psiquiatra e psicólogo. Ela também faz exames para monitorar possíveis complicações do diabetes.

"Meu acompanhamento médico é bem intenso. Também faço exames regulares com um oftalmologista para monitorar possíveis complicações do diabetes, como retinopatia diabética. Realizo um exame de fundo de olho a cada trimestre."

Beatriz adaptou rotina para controlar glicemia na gravidez
Beatriz adaptou rotina para controlar glicemia na gravidez Imagem: Arquivo pessoal

Descoberta do diabetes tipo 2

Beatriz teve o diagnóstico de diabetes tipo 2 de forma traumática, aos 24 anos, após um quadro de cetoacidose diabética (aumento descontrolado no nível de glicose e acidez no sangue) e pancreatite aguda. A suspeita inicial era de infecção estomacal, devido aos vômitos, tontura, e falta de ar.

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A glicemia foi medida apenas em uma segunda ida ao hospital —e estava em 580. "Recebi o diagnóstico de diabetes de forma muito traumática, durante uma internação de 15 dias e com risco de morrer."

"No início, tive muito medo de não conseguir controlar a doença e de viver uma vida limitada. Esse medo me impulsionou a buscar tratamento e a aprender a controlar o diabetes. A partir dessa experiência, tirei muita força para me cuidar", lembra.

Desde então, Beatriz passou por diversos tratamentos e conseguiu se adaptar à maioria dos medicamentos. Antes de engravidar, estava usando metformina, uma medicação oral, e semaglutida injetável.

Como o diabetes interfere na gravidez

Diabetes: controle exige acompanhamento médico, cuidado com alimentação e exercícios
Diabetes: controle exige acompanhamento médico, cuidado com alimentação e exercícios Imagem: Getty Images

Gestações de mulheres diabéticas são consideradas de risco. Isso ocorre porque o diabetes pode causar aborto espontâneo, anomalias fetais, pré-eclâmpsia (pressão arterial elevada), morte fetal, macrossomia (peso ao nascer maior ou igual a 4kg), hipoglicemia fetal (pouco açúcar no sangue) e síndrome do desconforto respiratório neonatal.

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As complicações mais comuns para as gestantes também incluem problemas nos olhos, doença renal e infecção urinária. O controle glicêmico adequado durante a gravidez com acompanhamento médico regular é crucial para evitar esses desfechos. Controlar o ganho de peso, pressão arterial, tomar vitaminas e monitorar a saúde e o peso do bebê também é necessário.

Gestantes devem observar uma série de parâmetros. Os parâmetros recomendados incluem hemoglobina glicada abaixo de 6%, glicemia de jejum abaixo de 95 mg/dl, glicemia uma hora após refeição abaixo de 140 mg/dl e duas horas após refeição abaixo de 120 mg/dl, explica Aline Guimarães de Faria, médica endocrinologista do Hospital Sírio-Libanês.

A pressão arterial, colesterol e triglicérides também devem ser monitorados, juntamente com rastreios de complicações como retinopatia e nefropatia diabética. O acompanhamento pré-natal deve ser rigoroso e constante.
Aline Guimarães de Faria, médica endocrinologista do Hospital Sírio-Libanês

Uma dieta equilibrada, sem muitos carboidratos e com alimentos de baixo índice glicêmico, é essencial. "Alimentar-se de forma fracionada, com refeições menores e mais frequentes, ajuda a manter a glicemia estável. Além da dieta, a prática de atividade física leve a moderada, quando liberada pelo ginecologista, é recomendada. Evitar o ganho excessivo de peso, cigarro, álcool, estresse e a falta de sono também são importantes para uma gestação saudável", recomenda Paulo Rosenbaum, médico endocrinologista do Hospital Israelita Albert Einstein.

Gravidez e resistência à insulina

A descompensação da glicemia, como ocorreu com Beatriz, pode acontecer antes mesmo de descobrir a gestação. "O ambiente hormonal e de secreção de citocinas (que sinalizam e comunicam processos entre células e sistemas) já começa a mudar, mesmo na gestação inicial", explica Helga Marquesini, ginecologista do Hospital Sírio-Libanês. Até mesmo em pacientes com ótimo controle do diabetes essa descompensação pode ocorrer.

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A resistência à insulina muda ao longo da gravidez, o que afeta o tratamento do diabetes. No início da gravidez, a gestante responde melhor ao hormônio e os níveis de açúcar no sangue são mais baixos porque a placenta absorve essa glicose.

Na segunda metade da gestação, a placenta produz hormônios que tornam o corpo mais resistente à insulina Isso faz com que sejam necessárias doses maiores desse hormônio para manter o controle adequado do açúcar no sangue.

A resistência à insulina tende a aumentar conforme a gestação avança, especialmente a partir da 24ª a 28ª semana, devido a fatores placentários. Isso eleva a necessidade de controle mais rigoroso da glicemia, principalmente no terceiro trimestre, quando o risco de ganho de peso e de complicações associadas ao diabetes gestacional é maior.
Paulo Rosenbaum

Medicamentos na gestação

Durante a gravidez, a insulina é preferida em vez de medicamentos orais por questões de segurança. Alguns medicamentos orais, como as sulfonilureias (tolazamida, por exemplo), podem atravessar a placenta e causar problemas ao bebê, como baixo nível de açúcar no sangue e crescimento lento.

A metformina, embora com menos riscos para o bebê, pode causar acidose e tem efeitos desconhecidos a longo prazo. Por isso, a insulina, comprovadamente segura para o feto, costuma ser a escolha mais comum para controlar o açúcar no sangue durante a gravidez, a menos que um médico indique outro tratamento.

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A troca de medicamentos orais por insulina costuma acontecer assim que a gravidez é confirmada, sempre com orientação médica. Mulheres grávidas com diabetes tipo 2 precisam de avaliações frequentes, pelo menos uma vez por mês, ou semanal se o controle do açúcar no sangue não estiver adequado.

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