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Nosso cérebro já pode ser 0,5% plástico, é o que sugere estudo preliminar

Imagem: Getty Images

Colaboração para VivaBem

29/08/2024 05h30

Cerca de 0,5% dos nossos cérebros já podem ser compostos hoje por microplástico, apontou um estudo conduzido por especialistas da Universidade do Novo México, nos EUA. Os achados divulgados em maio pelo National Institutes of Health —a agência de pesquisa biomédica do governo dos EUA— ainda estão no estágio pre-print, ou seja, não foram até o momento revisados por outros cientistas, mas podem indicar uma preocupante realidade.

Durante a análise, foram examinados rins e fígados que também continham microplásticos, mas os resultados das 91 amostras de cérebros retiradas em autópsias realizadas no primeiro semestre de 2024 impressionaram: elas continham, em média, 10 a 20 vezes mais plástico que outros órgãos.

Há uma crescente preocupação com a ameaça que os microplásticos pode representar para a saúde humana Imagem: Alistair Berg/Getty Images

"É muito alarmante. Há muito mais plástico nos nossos cérebros do que eu jamais imaginei ou com que me sinto confortável", explicou o principal autor do estudo, Matthew Campen, toxicologista e professor de ciências farmacêuticas da universidade, ao jornal britânico The Guardian.

"As concentrações que observamos no tecido cerebral de indivíduos normais, que tinham uma idade média de cerca de 45 ou 50 anos, foram de 4.800 microgramas por grama, ou 0,5% em peso. "Comparado às amostras de cérebro de autópsias de 2016, isso é cerca de 50% maior. Isso significaria que nossos cérebros hoje são 99,5% cérebro e o restante é plástico", comentou ainda o professor à CNN americana.

Mas por que o plástico preocupa?

Um estudo realizado pela Universidade Duke, também nos EUA, e publicado pela revista Science em 2023 apontou uma relação entre a exposição do cérebro a nanoplásticos de poliestireno aniônicos —encontrados em embalagens como copos, talheres descartáveis e sacolas— e o desenvolvimento da doença de Parkinson.

A erosão deste tipo de lixo em ambiente marinho e exposto aos raios ultravioletas liberaria partículas que podem não só entrar na corrente sanguínea humana como romper a barreira hematoencefálica em mamíferos, efetivamente invadindo o cérebro.

Cientistas estudam a possibilidade de que haja relação entre a presença de plásticos no meio ambiente e o maior desenvolvimento de demências, como o Alzheimer, na população global nos últimos anos Imagem: Adobe Stock

A nova pesquisa da Universidade do Novo México aponta que a relação também pode existir para outros tipos de doenças neurológicas, como demência frontotemporal (da qual sofre o ator Bruce Willis) e a doença de Alzheimer, já que existiria uma tendência de aumento de casos destes distúrbios nos últimos anos, que poderia estar relacionada a maior exposição dos humanos a este tipo de poluente.

No entanto, o próprio artigo reconhece que é preciso ampliar as pesquisas com mais amostras, refinando técnicas. Por exemplo, não está claro pela pesquisa se o maior número de diagnósticos de demência, Parkinson e Alzheimer poderiam ser resultado também de melhora nas ferramentas de detecção destas doenças —e não exclusivamente um reflexo do maior contato do corpo com plásticos.

Como o plástico invade o cérebro?

"Os plásticos adoram gorduras, ou lipídios, então uma teoria é que os plásticos estão se infiltrando com as gorduras que comemos, que são então entregues aos órgãos que realmente gostam de lipídios —o cérebro está no topo dessa lista", teorizou Campen à CNN.

"Com base em nossas observações, achamos que o cérebro está absorvendo as estruturas nanométricas muito pequenas, como 100 a 200 nanômetros de comprimento, enquanto algumas das partículas maiores, que são de um micrômetro a cinco micrômetros, vão para o fígado e rins."

Os peixes que você come, a água que bebe e o ar que respira já podem estar contaminados pelo microplástico Imagem: Bobby Yip/Reuters

Como o cérebro recebe justamente as menores partículas do plástico, é possível ainda que este contato aconteça aspirando a poluição no ar ou ingerindo através da água ou de alimentos, de acordo com a reportagem do The Guardian que teve acesso a uma nova versão do estudo, ainda não publicada online.

Os dados a que o jornal teve acesso ainda analisam, exclusivamente, 12 pacientes que morreram com algum tipo de demência —inclusive Alzheimer. Os cérebros deles continham até 10 vezes mais plástico que amostras de pessoas saudáveis.

Plásticos têm sido encontrados em outros órgãos

Um estudo publicado no Journal of Hazardous Materials em julho encontrou plástico em 16 amostras de medula óssea analisadas, divididas em dois tipos: poliestireno (embalagens de comida e eletrônicos) e polietileno (embalagem de produtos de limpeza, garrafas PET).

Em junho, outra pesquisa que saiu no International Journal of Impotence Research achou plástico no pênis de quatro a cada cinco pacientes que receberam implantes para tratar disfunção erétil. Um mês antes, o contaminante já havia sido encontrado em testículos humanos e caninos. As consequências para o corpo humano da presença destas substâncias ainda não foram totalmente determinadas, mas um impacto na fertilidade é possível.

Um estudo italiano publicado em março no New England Journal of Medicine apontou relação entre a presença de plástico na carótida e o risco aumentado de infarto, AVC e morte Imagem: iStock

Nos últimos meses, estudos na China e na Itália encontraram plástico no sêmen de pacientes, assim como uma pesquisa americana encontrou em placentas. Outra pesquisa italiana detectou plástico na gordura removida da carótida de pacientes cardiológicos —e apontou que estes casos possuíam até duas vezes mais risco de sofrer infarto ou AVC e até morrer nos 34 meses seguintes ao procedimento do que os pacientes que não tinham plástico no coração.

As evidências parecem ter acendido um sinal de alerta na comunidade científica. No fim de julho, o FDA (Food and Drug Administration, a Anvisa americana) publicou um artigo em seu site relatando os recentes achados de micro e nanoplásticos em alimentos, mas enfatizando que ainda não se conhece quais são os riscos desta exposição à saúde humana.

O FDA continua monitorando as pesquisas em microplásticos e nanoplásticos em alimentos e está tomando medidas para avançar a ciência e garantir que nossa alimentação continue segura.

Como minimizar o contato com o plástico?

É muito difícil, em 2024, viver uma vida sem plástico. E a ciência ainda está evoluindo para determinar exatamente quais são os perigos que este tipo de material oferece à saúde humana e quais tipos de contato precisam ser minimizados.

Mas Philip Landrigan, diretor do Observatório Global sobre Saúde Planetária do Boston College, deu sugestões à CNN americana. "Eu digo às pessoas: 'Ouçam, há alguns plásticos dos quais você não pode escapar. Você não vai encontrar um celular ou um computador que não contenha plástico.' Mas tente minimizar sua exposição ao plástico que você pode evitar, como sacolas e garrafas plásticas", explica o pediatra e professor de biologia. Veja algumas dicas:

  • Retire o alimento da embalagem de plástico antes de cozinhar ou colocar no microondas. "Quando você aquece o plástico, acelera o movimento dos microplásticos da embalagem para o alimento", ensina.
  • Use copos de vidro e garfos e facas de metal --mesmo na marmita.
  • Não use sacolas plásticas no mercado. Prefira as de tecido reutilizáveis.
  • Evite tomar água de garrafa plástica, quando possível.
  • Abandone os potes de plástico para guardar comida: prefira recipientes de vidro.

Em julho, VivaBem ainda mostrou quais outros cuidados podem ser tomados para evitar o contato exagerado com o plástico na sua rotina. Relembre.

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