Aluna da USP que desviou dinheiro diz ter transtorno do pânico; o que é?

A ex-aluna do curso de medicina da USP (Universidade de São Paulo) Alicia Dudy Muller Veiga, condenada por estelionato após desviar quase R$ 1 milhão do fundo de formatura de sua turma, alegou ter sofrido "agravamento de sua doença de transtorno do pânico" e, por isso, a audiência de seu caso marcada para o dia 29 de agosto foi adiada.

Segundo documentos públicos da Justiça de São Paulo a que VivaBem teve acesso, a defesa de Alicia apresentou dois atestados que somam 15 dias de afastamento das atividades para tratamento de sua saúde mental. Apesar de condenada a cinco anos de prisão pelo desvio, a estudante recorre da decisão em liberdade.

O que é o transtorno do pânico?

É oficialmente chamado de "ansiedade paroxística episódica". O transtorno do pânico é definido pela Classificação Internacional de Doenças (CID-11) da Organização Mundial de Saúde como "uma desordem caracterizada por ataques recorrentes e inesperados de pânico que não ocorrem exclusivamente devido a um estímulo específico ou situações".

São episódios de 'medo intenso e apreensão acompanhadas pelo rápido e concomitante início de sintomas característicos'.
CID-11

A OMS diz que o paciente que sofre de transtorno do pânico "desenvolve um prejuízo importante pessoal, familiar, social, educacional, ocupacional e em outras importantes áreas". Um episódio do transtorno não é "manifestação de outra condição médica e não ocorre devido a efeitos de substâncias ou medicações no sistema nervoso central".

Qual é a diferença entre o pânico e a ansiedade?

O transtorno do pânico é uma manifestação extrema da ansiedade. A condição é acompanhada de medo intenso da morte e outros sintomas físicos importantes, como a taquicardia e dificuldades para respirar.

A crise clássica de pânico aparece do nada, quando a pessoa está, por exemplo, dormindo, e pode ser confundida com um infarto ou AVC. Já a ansiedade generalizada é outro transtorno da mesma "família", em que a preocupação é mais constante, com picos eventuais, mas diferentes de um ataque de pânico.

As raízes dos dois problemas ainda não estão totalmente esclarecidas, mas, no caso da ansiedade, frequentemente há um gatilho envolvido, além de certa predisposição genética.

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Quando os ataques de pânico são recorrentes, o quadro é classificado como um transtorno de saúde mental associado à ansiedade. O ataque vem sem dar aviso e é uma resposta corporal a um estímulo imaginário que libera adrenalina, hormônio que prepara o corpo para fugir ou lutar.

Se um leão entra na minha casa, meu cérebro está pronto para reagir e dispara uma cascata de sensações associadas à adrenalina para fugir ou lutar com essa ameaça. Na crise de pânico, é como se o leão estivesse na minha sala, sem ele estar. Essa desconexão culmina na sensação de estar morrendo, adoecido ou perdendo a sanidade.
Lucas Giustra Valente, médico psiquiatra, em reportagem publicada em dezembro de 2022

O que causa? A grande maioria das pessoas associa dificuldades no convívio interpessoal e a falta de bem-estar físico com o surgimento dos episódios, sendo a vivência do estresse um importante fator no desencadeamento das crises.

Sintomas do transtorno do pânico

Sem motivo aparente, o cérebro dispara um sinal de alerta para o corpo todo. É como se fosse um curto-circuito, que provoca uma descarga de noradrenalina e adrenalina pelo organismo. Essas substâncias são responsáveis, junto com outros processos, pelas manifestações físicas da crise, que duram poucos minutos e envolvem quatro ou mais dos sintomas a seguir:

  • Palpitação, coração pulsando forte ou acelerado;
  • Suor;
  • Tremores;
  • Falta de ar;
  • Sensação de desmaio;
  • Náusea ou desconforto abdominal;
  • Formigamentos;
  • Dor ou desconforto no peito;
  • Calafrios e sensação de calor;
  • Sentimentos de irrealidade;
  • Despersonalização (sentir-se fora de si mesmo);
  • Medo de perder o controle ou enlouquecer;
  • Medo de morrer.
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Dificilmente o ataque ocorre só uma vez e é justamente a repetição que caracteriza o transtorno do pânico, como a comunidade médica chama hoje a antiga síndrome do pânico.

O transtorno costuma ser tratado com remédios e precisa ser acompanhado por um psiquiatra, pois pode levar à depressão e limita muito a qualidade de vida de quem sofre com ele. O transtorno de pânico tem uma variante — o transtorno de pânico com agorafobia. Neste caso, o ataque é provocado por um gatilho específico. Há pessoas que ficam em pânico, literalmente, em lugares muito cheios, ou de difícil acesso, como um túnel muito longo ou um avião, por exemplo. Nesse segundo caso, além do medicamento, é fundamental que o paciente seja tratado com terapia cognitivo-comportamental, para expor gradativamente a pessoa ao que provoca mais medo e combater a fobia desmedida.

*Com informações de matérias publicadas em 03/03/2024, 09/06/2024 e 23/08/2024.

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