Entenda o que é obesidade é por que ela é considerada uma doença crônica

A maioria dos brasileiros (59%) está acima do peso. Segundo pesquisa do Datafolha, são 24% com obesidade e 35% com sobrepeso, mas apenas 11% têm diagnóstico médico.

E esse acompanhamento médico é importante porque o excesso de gordura corporal não é questão estética ou padrão de beleza: a condição é classificada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma doença crônica, ou seja, que não tem cura.

Uma vez que desenvolve o problema, a pessoa precisa controlá-lo pelo resto da vida, já que ele eleva o risco de diversas doenças graves —como infarto, AVC, câncer e diabetes— e é responsável por 165 mil mortes por ano no Brasil.

"A obesidade preenche todos os critérios necessários para ser definida como doença: prejudica a qualidade de vida, tem impacto no desenvolvimento de outras doenças e, dessa forma, pode comprometer a expectativa de vida do paciente", diz o médico Licio Augusto Velloso, diretor do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

COMO IDENTIFICAR?

Para a OMS, uma pessoa está com obesidade quando seu IMC (índice de massa corpórea) —o peso (kg) dividido pela altura (m) ao quadrado— é maior que 30 kg/m2 ou está acima de 27,5 kg/m2, caso o paciente já apresente uma comorbidade, como hipertensão, diabetes, problemas cardiovasculares, entre outros.

Mas o IMC é um cálculo usado para avaliar grandes populações. Para um diagnóstico individualizado, o ideal é fazer uma consulta com um profissional de saúde, que irá verificar o percentual de gordura corporal da pessoa para confirmar o diagnóstico de obesidade.

Doenças associadas

"Uma das principais características da obesidade é que ela está relacionada de forma causal a uma série de eventos sérios de saúde", diz o profissional de educação física Leandro Fórnias Machado de Rezende, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

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Entre os mais estudados e comprovados estão os problemas cardiovasculares. Um levantamento da Associação Americana do Coração mostra que, entre 1999 e 2020, as mortes por doenças cardiovasculares relacionadas à obesidade triplicaram nos Estados Unidos.

A obesidade e o excesso de peso alteram o coração e comprometem seu funcionamento: os vasos sanguíneos inflamam, acumulam placas de gordura, enrijecem e se estreitam, aumentando a pressão arterial (hipertensão) e o risco de insuficiência cardíaca, infarto agudo do miocárdio e AVC.

"Mais de 12 tipos de câncer também já são associados à doença", completa Rezende. Entre eles estão o de mama pós-menopausa, colorretal, do endométrio, renal, de esôfago, de pâncreas e de fígado.

Pessoas com IMC acima de 30 kg/m2 também têm maior risco de desenvolver diabetes —doença crônica que pode provocar cegueira, insuficiência renal, problemas cardíacos e amputação de membros inferiores—, problemas osteomusculares e nas articulações, dificuldades respiratórias, incluindo apneia obstrutiva do sono, gota e pedras na vesícula.

Além disso, especialistas ouvidos por VivaBem afirmam que é comum que pacientes com obesidade sofram de transtornos como depressão.

Diversas causas

Para muitas pessoas, o sedentarismo e a má alimentação são as primeiras coisas que vêm à cabeça quando pensamos nas causas da obesidade. Mas há outros. A doença é multifatorial, provocada por diversos fatores, que vão desde genética até o ambiente em que vivemos. Confira os principais:

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Genética Algumas pessoas são mais propensas a acumular gordura corporal ou têm a percepção de saciedade alterada devido a questões hereditárias.

Influência psicológica Estresse, ansiedade, compulsões e depressão são alguns dos transtornos que podem levar a uma ingestão anormal de alimentos e aumentar o risco de obesidade.

Ambiente O local em que vivemos e as pessoas com quem nos relacionamos também favorecem o ganho de peso. Por exemplo: os amigos ou familiares que influenciam você a comer fast-food várias vezes por semana ou os colegas de trabalho que oferecem um chocolatinho todo dia no escritório.

Alterações hormonais Elas podem afetar o metabolismo e os mecanismos de saciedade, favorecendo o acúmulo de gordura, a disposição para fazer exercícios e a ingestão anormal de alimentos.

Sedentarismo A falta de atividade física contribui para o acúmulo de gordura e a redução da massa magra, o que prejudica o metabolismo basal (calorias que o corpo gasta em repouso).

Alimentação inadequada O consumo regular de alimentos ultraprocessados, fast-food e/ou ricos em açúcares, carboidratos e gorduras favorece o ganho de peso e prejudica a saúde, já que essas comidas geralmente têm muitas "calorias vazias" (que não trazem benefícios nutricionais)

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Estágios e tratamento

"Muitas vezes ouvimos histórias de pessoas acima do peso, que dizem estar com exames normais", diz Ricardo Barroso, endocrinologista e diretor da Sbem-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo). "Mas a verdade é que não existe obesidade saudável —ela sempre leva a comorbidades e diminuição da sobrevida."

Segundo Velloso, os problemas costumam surgir em médio e longo prazo, pois, como toda doença, a obesidade tende a evoluir e tem diferentes estágios.

"Nos mais iniciais, os pacientes têm índice de massa corporal discretamente aumentado e provavelmente outros órgãos e sistemas ainda não foram comprometidos. Mas, eventualmente, os problemas vão aparecer", diz Velloso.

TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR

Por ser uma doença crônica, sem cura e com diversas causas, é preciso perder peso de forma consciente, com a ajuda de diferentes especialistas, e focar na manutenção do que foi eliminado.

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O acompanhamento multidisciplinar, feito por profissionais da saúde de diversas áreas, como endocrinologista, nutricionista, profissional de educação física, psiquiatra e psicólogo, contribui para o emagrecimento efetivo e duradouro.

"Considerar cada caso individualmente, levando em conta as características específicas da pessoa, é fundamental para evitar a recorrência em médio e longo prazo —e a obesidade é uma doença altamente recorrente", afirma Velloso.

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