O que acontece no seu corpo quando você mistura álcool e antibiótico

Na hora da prescrição de um antibiótico, a pergunta que nunca cala nos consultórios médicos é se será possível beber álcool durante o tratamento.

A resposta para essa pergunta nem sempre é interpretada como se deve, mas uma coisa é certa: quando esse tipo de medicamento é prescrito, existe alguma infecção causada por bactérias e o objetivo é erradicá-la o mais rápido possível.

Os exemplos mais frequentes da necessidade do uso de antibióticos são a infecção urinária, a otite ou mesmo uma amigdalite na qual estejam presentes placas de pus na região da garganta. Mas será que uma dose apenas de bebida alcoólica pode atrapalhar esse tipo de terapia?

228,3 milhões foi o número de unidades de antibióticos vendidas em 2022 no Brasil (38,53% de aumento em relação ao ano anterior). Nos EUA, em 2016, o total de prescrições foi 270 milhões.

30% dos antibióticos prescritos são desnecessários. Infecções respiratórias agudas causadas por vírus representam 50% das prescrições indevidas.

Os efeitos no seu corpo

Embora os antibióticos sejam amplamente conhecidos, nem todos são iguais. Eles possuem diversas classes, diferentes usos e cada um deles atua de forma específica no organismo.

A ação que se espera deles é a destruir as bactérias e impedir que elas se reproduzam.

Até o momento, as evidências sobre os efeitos da interação entre álcool e antibióticos não estão totalmente estabelecidas, mas revelam que, de modo geral, essa mistura não necessariamente anula os efeitos do remédio. Apesar disso, a combinação não é isenta de riscos.

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Entenda a explicação para isso

Todos os medicamentos têm o potencial de causar reações adversas, assim como as bebidas alcoólicas.

O álcool é metabolizado pelo fígado. Muitos dos antibióticos também. Isso significa que poderá haver sobrecarga para o órgão.

Tanto o álcool como o antibiótico têm efeitos tóxicos para a mucosa gastrointestinal. E mesmo separados, eles podem provocar sintomas como enjoo, náusea e dor abdominal.

Juntos, e a depender do teor e da quantidade de álcool, esses efeitos podem ser maiores e, em situações extremas, ainda facilitam uma lesão do fígado.

O uso abusivo do álcool ainda pode inibir a metabolização de alguns antibióticos, como por exemplo a rifampicina e isoniazida —usados por maior tempo no tratamento da tuberculose, e também a nitrofurantoína, indicada para as infecções urinárias.

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Cada caso é um caso

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Imagem: iStock

Para além do volume de álcool ingerido, a principal preocupação dos médicos é o estado de saúde do paciente que deseja consumir bebidas alcoólicas durante o ciclo do tratamento: a depender da gravidade da infecção, ele pode durar de 5 a 6 dias ou meses.

Pessoas que apresentam um processo infeccioso, não estão nas melhores condições de saúde e precisam que o corpo se concentre no processo de recuperação.

O álcool, de modo geral, atrapalha a absorção de nutrientes, o sono, o funcionamento de todos os sistemas do organismo, e ainda pode comprometer a organização do corpo para a recuperação.

A idade da pessoa, assim como a presença de outras doenças crônicas também devem ser consideradas.

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Só depois de pesar todas essas circunstâncias o médico poderá ou não liberar o consumo de álcool, mesmo que em quantidades moderadas.

Fora ou dentro dos hospitais, os medicamentos mais prescritos pertencem a uma classe chamada betalactâmicos, uma grande família que inclui as penicilinas (como a amoxicilina), cefalosporinas e carbapenemicos. Outros exemplos dos antibióticos bastante prescritos: azitromicina e ciprofloxacina.

Álcool com antibiótico leva à resistência?

Não. A resistência a esse tipo de medicamento decorre do seu uso desnecessário, como por exemplo, no tratamento de doenças causadas por vírus. Isso significa que, quando ele realmente for útil, o antibiótico pode não fazer efeito.

No Brasil, 90% das pessoas se automedicam.

O uso indevido ou o mau uso desse tipo de medicamento em humanos, animais e plantas é considerado a causa principal do desenvolvimento de microrganismos resistentes a remédios. Dados do CFF.

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Beber no final do tratamento corta seu efeito?

Os especialistas consultados afirmam que não. Mas sugerem que se use o bom senso porque o consumo abusivo de álcool depois de um tratamento nunca é uma boa ideia.

Na hora da prescrição do antibiótico, tire todas as suas dúvidas sobre o medicamento e as possíveis interações com o seu médico.

Caso tenha se esquecido ou se sentido acanhado de fazer essas perguntas, procure por um farmacêutico de sua confiança para esclarecer ou completar alguma informação.

Dicas de uso seguro do antibiótico

Obtenha o máximo efeito dessa classe de medicamentos colocando em prática as seguintes medidas:

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Faça uso racional do antibiótico, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado, conforme orientação médica e do farmacêutico.

Observe a validade do medicamento indicado no cartucho.

Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento.

Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio —eles podem ferir sua boca ou garganta.

No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. E sempre limpe o copo dosador antes e após o uso. E armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros medicamentos.

Respeite o limite da dosagem indicada.

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Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15ºC e 30ºC.

Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças.

Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta.

Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Várias farmácias dispõem de área de descarte de medicamentos. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz)
ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo.

Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

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Fontes: Adryella de Paula Ferreira Luz, farmacêutica e integrante do Grupo Técnico de Trabalho de Cuidado Farmacêutico na Infectologia do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo); Aristóteles Cardona Jr., médico de família e comunidade, professor da Univasf (Universidade Federal do Vale do São Francisco), em Petrolina (PE) e gerente de atenção da saúde do hospital universitário da mesma instituição, que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); e Cinara Silva Feliciano, médica infectologista, docente do Departamento De Clínica Médica da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP. Revisão técnica: Aristóteles Cardona Jr.

Referências: CFF (Conselho Federal de Farmácia)

Habboush Y, Guzman N. Antibiotic Resistance. [Atualizado em 2023 Jun 20]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK513277/
Patel P, Wermuth HR, Calhoun C, et al. Antibiotics. [Atualizado em 2023 Maio 26]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK535443/

Mergenhagen KA et al. Fact versus Fiction: a Review of the Evidence behind Alcohol and Antibiotic Interactions. Antimicrob Agents Chemother. 2020. Disponível em https://doi.org/10.1128/aac.02167-19

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