Preta Gil amputou o reto para tratar câncer; como é feita a cirurgia?
Preta Gil revelou na noite de domingo (8) no Fantástico (TV Globo) que teve de passar por uma amputação do reto em seu tratamento contra um câncer de intestino.
Em seis meses, quatro tumores nasceram. Não é fácil, mas a gente não tem outra opção a não ser encarar. Tudo nessa doença é um grande tabu. Eu amputei o reto e não posso ter vergonha [disso] porque é a minha realidade.
Preta Gil
O que é a amputação do reto?
A amputação do reto ou proctectomia, como é chamada oficialmente, é uma das técnicas de cirurgia usadas por médicos para tratar o câncer colorretal. Ela também é uma opção para quem sofre de quadros graves de doenças inflamatórias intestinais como doença de Crohn ou colite ulcerativa, segundo a Rede D'Or São Luiz.
O que define se um cirurgião vai optar por amputar o reto de um paciente com câncer ou não é a localização do tumor. Segundo a Sociedade Americana de Câncer, tumores em estágio inicial e pólipos costumam ser removidos ainda durante o exame de colonoscopia, enquanto cânceres mais desenvolvidos e situados na parte alta do reto são retirados com outras técnicas cirúrgicas que não removem totalmente o órgão.
Quando o câncer —mesmo que ainda em estágio não tão avançado— está localizado no meio ou no terço final do reto, pode ser necessário retirar o órgão inteiro.
Como a amputação pode ser feita?
Nestes casos, há três opções:
1. Proctectomia com anastomose coloanal: quando o médico remove o reto e linfonodos ao seu redor para depois conectar o cólon (final do intestino) ao ânus "para que o paciente consiga passar as fezes da forma natural", segundo a Sociedade Americana de Câncer. Alguns médicos ainda optam por "dobrar" um pedaço do cólon ou alargá-lo (coloplastia) para criar um espaço que possa armazenar as fezes antes da excreção, como o reto fazia antes.
Assim, o paciente pode ter um ritmo intestinal mais próximo do saudável. Uma bolsa de colostomia ou ileostomia pode ser usada provisoriamente depois dessa cirurgia, enquanto a região cicatriza e depois é retirada. Pacientes podem ter de fazer fisioterapia pélvica para controlar melhor as fezes, como Preta já contou que está realizando.
2. Ressecção abdominoperineal: necessária quando o tumor já atingiu o músculo do esfíncter que mantém o ânus fechado (e impede o vazamento de fezes), esta cirurgia inclui a amputação do reto, a retirada do ânus, dos tecidos ao redor deles e do esfíncter. Por causa da remoção do ânus, o paciente vai precisar de uma bolsa de colostomia permanente conectada ao abdome, que coletará as fezes.
3. Exenteração pélvica: neste caso, quando o câncer está afetando órgãos ao redor do reto, esta cirurgia mais rara é a opção. Ela envolve a amputação do reto, mas também os outros órgãos atingidos como bexiga, próstata (em homens) ou útero (em mulheres). Neste caso, o paciente vai precisar da colostomia permanente, mas também pode pode precisar de uma urostomia para coletar a urina caso tenha perdido a bexiga.
Segundo informações divulgadas pelo Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e pelo centro de pesquisa médica Cleveland Clinic, nos EUA, a proctectomia é hoje frequentemente realizada por laparoscopia — a cirurgia de vídeo — ou por robôs manipulados pelos médicos. A cirurgia robótica teria como benefícios menor perda de sangue e recuperação mais rápida.
Quais os riscos da cirurgia?
Todo procedimento deste tipo tem riscos. Segundo o Hospital e Universidade Johns Hopkins, centro médico e de pesquisa de referência nos EUA, a proctectomia pode ter como consequência:
- Sangramento;
- Dor;
- Infecção no local da incisão ou no abdome;
- Coágulos que se formam nas veias das pernas e se movem para os pulmões (embolia pulmonar);
- Dificuldades de urinar;
- Dificuldades de cicatrização e reabertura do corte cirúrgico;
- Formação de aderências;
- Disfunções sexuais;
- Danos ao coração ou ao cérebro devido à anestesia;
- Incontinência de fezes;
- Outros riscos relacionados a doenças pré-existentes do paciente.
O que acontece depois da amputação do reto?
O paciente que, como Preta, tem o reto amputado pode ter de permanecer no hospital por diversos dias para se recuperar, ainda de acordo com o Johns Hopkins. Durante este período, ele terá um cateter ou tubo para drenar a urina da bexiga. Também pode ter outros drenos cirúrgicos que vão coletar os fluidos que se acumulam na área operada durante a recuperação.
O paciente recebe analgésicos e antibióticos, para tratar a dor e prevenir infecções, e anticoagulantes. Não será possível comer por alguns dias, durante a cicatrização, em que o paciente será alimentado por outras vias. Quem recebe a colostomia também vai aprender instruções de como lidar com ela.
Antes de voltar para casa, todos os tubos e drenos são retirados e a dor deve estar controlada. O paciente deve ser capaz de comer e beber líquidos, mas deverá ter a companhia de um membro da família, cuidador ou responsável durante cerca de uma semana.
É importante seguir as orientações dos médicos em relação à medicação, à dieta — que será diferente —, banhos e cuidados com a cicatriz. Por exemplo, nada de levantar pesos por pelo menos seis semanas. Também é importante observar a cicatriz para qualquer sinal de infecção: se observar inchaço, dor, sangramento ou vazamento de fluidos na área, deve ir imediatamente ao médico.
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