Não é só sobre dentes: higiene bucal pode evitar doenças graves
Escovar os dentes, utilizar fio dental e realizar visitas periódicas ao dentista podem reduzir os riscos de você desenvolver doenças bucais, mas também de ter câncer, doenças cardiovasculares e até de sofrer efeitos adversos na gravidez.
Segundo Luiz Evaristo Ricci Volpato, professor de odontologia da Universidade de Cuiabá e diretor-tesoureiro do CFO (Conselho Federal de Odontologia), isso ocorre porque a boca está intimamente ligada ao funcionamento de vários sistemas do corpo humano.
"O sangue que circula na polpa dentária e nos tecidos gengivais também circula nos demais órgãos e tecidos. Assim, infecções nos dentes e tecidos moles da boca podem levar a consequências que vão além da cavidade bucal."
Dessa forma, quando um pessoa não higieniza corretamente a boca (incluindo dentes, língua e gengiva), esses microrganismos tendem a se proliferar e através da corrente sanguínea (especialmente se houver lesões na gengiva) chegar a outros órgãos.
"Com isso, um simples problema de saúde bucal pode desencadear outros problemas de saúde mais graves em outros órgãos. Da mesma forma que podem ser um sinal de alerta, indicando uma condição sistêmica possivelmente não diagnosticada em alguma parte do corpo", aponta Volpato.
Os problemas mais comuns ligados à má higiene bucal são:
Cárie - é uma doença bucal que causa a destruição das estruturas dos dentes. Ela é causada pelo alto consumo de açúcar, acúmulo de placas bacterianas nas superfícies dos dentes e pela higiene inadequada da boca.
Periodontite - consiste na evolução da inflamação da gengiva para os tecidos de suporte do dente.
Cálculo dentário (tártaro) - ocorre quando a placa bacteriana (deixada por restos de alimentos nas superfícies dos dentes) não é removida totalmente (por falta de higienização adequada) e se torna endurecida.
Gengivite - é a inflamação da gengiva, fazendo com que ela fique inchada, dolorida, podendo sangrar ao escovar os dentes ou até mesmo ao passar o fio dental.
Erosão ácida - é a perda de estruturas do dente causada pela ação de ácidos sem o envolvimento de bactérias.
Câncer bucal - é um tumor maligno que afeta os lábios e as estruturas da boca, como gengivas, bochechas, céu da boca (palato), língua (principalmente as bordas) e a região embaixo da língua (assoalho da boca). Ele é causado, principalmente, pelo tabagismo e consumo de álcool.
"De modo geral, todos esses problemas bucais podem ser prevenidos com práticas adequadas de higiene bucal, visitas regulares ao dentista e mudanças no estilo de vida", ressalta Fabio Abreu Alves, presidente da Câmara Técnica do Crosp (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo) e professor da Faculdade de Odontologia da USP.
"Apesar do avanço das políticas públicas direcionadas para a saúde bucal com a criação do Programa Brasil Sorridente, ainda existe necessidade de aumentar a cobertura em saúde bucal pública, principalmente, nos municípios da região Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil", diz Hélder Antônio Rebelo Pontes, professor vinculado ao Instituto de Ciências da Saúde da UFPA (Universidade Federal do Pará).
Doenças que podem aparecer por causa de má higiene bucal
- Doenças cardiovasculares
Ana Carolina Fragoso Motta, professora do Departamento de Estomatologia, Saúde Coletiva e Odontologia Legal da Faculdade de Odontologia da USP de Ribeirão Preto, aponta que entre todas as doenças desenvolvidas fora da boca que podem ser desencadeadas pela falta de higienização bucal adequada, as cardiovasculares são as que mais preocupam.
"Um exemplo é a endocardite infecciosa, que consiste em uma doença incomum, porém grave, que resulta da invasão de microrganismos (bactéria ou fungo) no tecido endocárdico, valvas cardíacas ou material protético do coração, e pode estar associada a microrganismos que habitam a boca e que podem circular, via corrente sanguínea, até os tecidos danificados do coração", explica Motta.
- Diabetes
Fabio Abreu Alves, presidente da Câmara Técnica do Crosp, ressalta que também existe uma relação bidirecional entre o diabetes e doenças periodontais (gengivite e periodontite).
"A inflamação da gengiva pode dificultar o controle dos níveis de glicose no sangue, enquanto o diabetes mal controlado pode piorar a condição periodontal, criando um ciclo vicioso", aponta Alves.
Isso ocorre porque quando o diabetes está mal controlado existe uma diminuição do fluxo salivar. Essa alteração na salivação —que é importante para a saúde bucal, pois mantém a temperatura ideal na boca— acarreta um aumento na temperatura na boca, o que consequentemente cria um ambiente mais suscetível para proliferação de bactérias, o que gera doenças bucais e mau hálito.
- Parto prematuro
Cuidar da saúde bucal também é importante para gestantes. Isso porque alguma doenças bucais, como infecções na gengiva e cárie, podem aumentar o risco de complicações na gravidez.
Segundo Luiz Evaristo Ricci Volpato, professor da Universidade de Cuiabá, gestantes que fazem má higienização dos dentes podem sofrer de partos prematuros e ter bebês de baixo peso.
"No período da gravidez, a gestante fica mais propícia à gengivite e à periodontite em razão de alterações hormonais características dessa fase. Por isso, da importância redobrada de cuidado com os dentes nessa fase da vida."
- Pneumonia
Casos de pneumonia também podem ser desencadeados pela má higienização da boca. Fabio Abreu Alves explica que esses casos cientificamente estão atrelados apenas a pacientes intubados em UTI.
"Nos pacientes intubados em UTI isso ocorre porque as bactérias da boca podem colonizar no tubo, causando uma pneumonia gravíssima conhecida como pneumonia associada a ventilação. Por isso a importância do cirurgião dentista na UTI", destacou Alves.
Para se ter uma ideia, estudo realizado com pacientes internados na UTI do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, publicado em 2018, mostra que o cuidado odontológico, desde a simples escovação até a restauração de dentes de pacientes na UTI, pode prevenir em 56% infecções respiratórias durante a internação.
- Doenças oculares
Embora a relação entre infecções bucais e doenças oculares não seja tão amplamente pesquisada na comunidade científica internacional, os primeiros estudos já apontam que a má higienização dos dentes também pode causar problemas oftalmológicos.
Luiz Evaristo Ricci Volpato explica que isso ocorre por que as infecções nos tecidos da boca podem ter consequências para a saúde pelo deslocamento de microrganismos bucais até os tecidos oculares por meio da corrente sanguínea e ali se fixando e levando a uma infecção. Ou pela transmissão direta ao passar a mão contaminada com microrganismos bucais nos olhos.
"Essa é uma das razões por que é recomendado que cirurgiões dentistas e pacientes utilizem óculos de proteção durante a realização de procedimentos odontológicos", diz Volpato.
Como cuidar da saúde bucal
Escove os dentes após as refeições e, principalmente, antes de dormir, utilizando uma escova com cabeça pequena e cerdas macias;
Faça uso de pasta de dente com flúor;
Ao escovar os dentes, posicione a escova inclinada em direção à gengiva;
Faça movimentos de cima para baixo em todos os dentes, pelo lado de fora e por dentro. Em seguida, faça movimentos de vai e vem em todas as faces dos dentes e de dentro para fora;
Atenção especial deve ser dada aos dentes de trás. Nesses, ao escovar coloque a escova de forma horizontal;
Para finalizar, escove a língua "varrendo" da parte posterior até a ponta. O objetivo é remover os restos alimentares e as bactérias;
Sobre o fio dental, use 40 centímetros de fio ou fita e enrole entre os dedos;
Passe o fio ou fita dental entre os dentes até o espaço existente entre o dente e a gengiva;
Lembre-se de que é importante retirar a placa bacteriana que fica entre os dentes;
O fio ou fita dental deve ser passado/a duas vezes em cada um dos espaços entre os dentes, primeiro pressionando para um lado, em direção a um dente, e depois para o outro, em direção ao outro dente.
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