'Para quem é gordo, dieta não é fácil', diz Cacau Protásio após perder 30kg

"Quando cheguei na nutricionista, eu pesava 140 kg e agora estou com 110 kg. Cada vez que vou comer um negócio, penso: 'Ano que vem, na avenida, olha o salto alto!'.'' Foi assim que a atriz e humorista Cacau Protásio destacou o papel central da motivação para manter-se firme em sua jornada contra a obesidade.

Durante o bate-papo com a jornalista e colunista do UOL Cris Guterres, no evento Obesidade: da compreensão à ação, realizado por VivaBem na última terça-feira (17), Cacau falou com bom humor e sem preconceitos sobre assuntos fundamentais para quem sofre da doença, como a importância de estabelecer metas e receber um tratamento multidisciplinar. "Eu procurei cinco especialistas: psiquiatra, psicóloga, cardiologista, nutróloga e nutricionista", contou.

A atriz, que perdeu 28 kg depois de ser convidada para desfilar por sua escola de coração, a Salgueiro, no Carnaval deste ano, e ao longo do ano emagreceu mais 2 kg, explicou por que decidiu mudar hábitos:

"Eu estava gravando o 'Vai que cola' e minha personagem usava salto muito alto. Mas chegou uma época que eu não conseguia mais. Entrava em cena e não tinha pique para ficar em pé. Não estava mais feliz com o meu corpo. Não me achava bonita, feliz. Eu não me sentia sexy. Então, fui convidada para desfilar e falei: 'Musa gordinha, ok. Mas musa que não samba, que não tem disposição, não tem como.' Foi aí que eu decidi fazer uma dieta, uma reeducação alimentar, um tratamento pra emagrecer."

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Imagem: Mari Pekin/UOL

Cacau disse ainda que, para quem é gordo, fazer dieta não é fácil. Para manter o foco na alimentação saudável e não comer besteiras no dia a dia, ela teve de aprender a diferenciar a fome do desejo —que a atriz chamou de "olho grande".

"Eu penso que não preciso comer para viver, eu preciso viver para comer. Porque quando a gente está com fome, a gente come até um 'ovo azedo', mas quando a gente está de olho grande, a gente fala: 'Eu queria um McDonald's."

Outra coisa importante foi entender que para emagrecer é preciso tomar uma atitude imediatamente, não ficar esperando o "momento ideal", pois ele nunca chega.

"É como quando falamos que vamos começar a fazer dieta na segunda-feira ou no primeiro dia do mês. Não, para emagrecer você não pode esperar o fim do mês, tem que começar agora."

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A atriz também desbancou um dos grandes mitos associados às dietas: "Todo mundo fala que fazer dieta é caro. Não é. Alface é barato, chuchu é barato, cenoura... O problema é que a gente arruma problema [para desistir da dieta]."

Sobre os benefícios que já conquistou com a perda de peso, disse: "Hoje eu consigo sambar, andar. Se tiver uma fila de elevador grande, eu subo de escada. Eu consigo sentar, eu consigo cruzar a perna. O sexo melhorou muito. Eu estou redescobrindo o meu corpo, tudo aquilo que eu posso fazer, e estou amando essa nova fase. Tanto que eu cheguei na minha médica ontem e falei que não quero engordar, eu quero emagrecer mais, eu quero ter qualidade de vida e saúde."

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Imagem: Mari Pekin/UOL

Cacau também fez questão de destacar a pressão do mercado e da sociedade que existe sobre as pessoas com obesidade, e como isso dificulta a luta contra a doença.

"Eu cresci acreditando —e com as pessoas me falando— que o meu corpo estava errado: 'Seu rosto é lindo, mas seu corpo?' A sociedade e a televisão não me dão a oportunidade de fazer uma gostosona. Porque eu sou desejada, eu sou amada. Eu tenho alguém que me queira. Eu tenho alguém que olha pra mim e fala: 'Amor, você está uma delícia. Então, a gente precisa mostrar isso. Não é apologia à gordura, eu faço apologia à saúde. A gente tem que se amar."

Assista à entrevista completa no vídeo acima e leia a seguir os melhores momentos do bate-papo entre Cacau Protásio e Cris Guterres no evento Obesidade: da compreensão à ação, que teve patrocínio de "Meu Peso, Minha Jornada", uma iniciativa Novo Nordisk, e apoio da Alice.

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Cris Guterres - Cacau, você começou uma jornada de perda de peso —já eliminou 28 kg, se não me engano—, e isso começou quando você decidiu entrar na avenida pela Salgueiro no Carnaval deste ano. Como é que foi?

Cacau Protásio - Então, foram dois pontos. Eu estava gravando [o humorístico] "Vai que cola", e minha personagem Teresinha usa salto muito alto, sandália plataforma. Chegou uma época que eu não conseguia mais usar sandália plataforma. Às vezes, eu entrava em cena e não tinha mais pique para ficar em pé. Eu entrava em cena e sentava. Se vocês olharem duas temporadas atrás, eu uso galocha e sapatilha.

Ao mesmo tempo, eu amo demais o Carnaval. Eu sou apaixonada pelo Acadêmicos do Salgueiro, que é a minha escola desde pequenininha. E eu fui convidada pra desfilar de musa. Eu falei: "Gente, musa gordinha, ok. Mas musa que não samba, que não tem disposição, não tem como." E foi aí que eu decidi fazer uma dieta, uma reeducação alimentar, um tratamento pra emagrecer.

Eu falei: "Eu quero desfilar. Eu amo Carnaval. Eu quero vir sambando. Mas eu quero vir sambando bem. Eu quero fazer bonito. Eu não quero sentir falta de ar, passar mal." Porque a primeira coisa que eu já imaginava era eu entrando na avenida, caindo, e o Samu me levando. Não era isso que eu queria.

Fora que eu também não estava mais feliz com o meu corpo. Eu me via, me olhava no espelho e não me achava bonita, não me achava feliz. Eu não me sentia sexy. Mas sou eu, Cacau. Eu acho todos os corpos perfeitos, todos os corpos maravilhosos. Mas a gente tem que estar feliz com o nosso corpo. E eu não estava feliz com o meu corpo. E eu não estava tendo rendimento com nada, sabe? Eu não conseguia fazer nada.

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Imagem: Mari Pekin/UOL
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Cris Guterres - E aí como é que foi?

Cacau Protásio - Eu procurei cinco especialistas: psiquiatra, psicóloga, cardiologista, nutróloga e nutricionista. Porque eu tenho compulsão alimentar. E fazer dieta, para quem já foi ou é gordo, não é fácil. É uma batalha espiritual diária. Quando eu falo que vou fazer dieta, juro para você, todo dia chega chocolate e bombom na minha casa.

Entrou também a minha sobrinha, a Flávia, que é musa da Salgueiro também e nutricionista, pra me dar aula de samba, porque academia eu não amo.

Só que hoje eu falo que adoro academia, adoro musculação. Você tem que falar porque a palavra tem poder. Se a gente fala mais de 30 vezes, a gente acredita.

(...) A partir daí, eu fiz um grupo no WhatsApp com todas essas profissionais e falei: "Eu preciso de ajuda. Eu penso em comida 24 horas. Eu quero comer nas 24 horas. Eu como quando eu não tenho fome."

E, no meu caso —eu não sei se todo mundo é igual—, eu comia, comia, comia, comia compulsivamente e, quando ia deitar, tinha refluxo. Enquanto eu não passasse mal, eu não parava de comer.

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A torneira da minha casa era Coca-Cola. Enquanto eu não acabasse com aquele litro de refrigerante, eu não ficava sossegada. Porque eu tinha que acabar. Então isso era surreal. Era uma coisa que tomava conta de mim, que me dominava. E eu falei: "Eu preciso de ajuda." Quando eu cheguei na nutricionista, eu tinha 140kg. Agora eu estou com 110kg.

Cris Guterres - Você se sentiu em algum momento cobrada pela mídia para perder peso?

Cacau Protásio - Então, a mídia pode não cobrar, mas ela não me dá a oportunidade que eu adoraria. Eu adoraria fazer uma gostosona. Gorda, maravilhosa, homem me desejando. Só que a sociedade e a televisão não deixam a gente contar essa história. É uma pressão estética absurda. Enquanto tem pessoas que falam assim: "Ah, você é linda, continua assim. Se você emagrecer, você vai perder a graça." Mas não tem nada a ver uma coisa com a outra.

Eu adoraria que a televisão, que a mídia, que as novelas pensassem no corpo de uma mulher grande e gorda fazendo essa mulher sensual. Porque eu sou desejada, eu sou amada. Eu tenho alguém que me queira. Eu tenho alguém que olha pra mim e fala: "Amor, você está uma delícia".

Quando eu era mais nova, eu não sabia que um dia eu poderia ser amada, porque eu nunca vi na televisão uma mulher gorda sendo amada, sabe? Então, a gente precisa mostrar isso. Eu acho que essa é a cobrança que tem. É a falta de oportunidade.

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Imagem: Mari Pekin/UOL
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Cris Guterres - Você sente que faltou oportunidade de fazer a gostosona ou outros papéis?

Cacau Protásio - Eu cresci acreditando e [ouvindo] as pessoas dizendo que o meu corpo estava errado, que eu estava errada. "Seu rosto é lindo, mas seu corpo?" E a vontade que a gente tem é de falar: vai pra merda, eu te perguntei nada. Só que se eu falar, serei grosseira.

Não tem nada errado com meu corpo, está tudo certo. A gente tem que se amar. Eu não estou fazendo apologia à gordura. Eu faço apologia à saúde. Se você tem saúde, se você é saudável, se você é feliz, vai lá viver. Não é você que vai dizer pra mim se eu tô certa, se eu tô errada.

Cris Guterres - Eu queria saber um pouco mais da sua jornada contra a obesidade?

Cacau Protásio - Então, eu penso assim: eu não preciso viver para comer, eu preciso comer para viver. Eu penso no que é bom para matar a minha fome. Assim, porque quando a gente está com fome, a gente come até um "ovo azedo", mas quando a gente está de olho grande, a gente fala: "Eu queria um McDonald's."

Porque quando é olho, a gente quer aquela coisa específica, mas quando a gente está com fome real, a gente come qualquer coisa, o que tem na cozinha. Eu penso que se eu estou com fome, eu vou comer. Se eu começo a escolher, eu falo: "Não é fome, é olho. E isso não vai fazer bem para mim."

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Imagem: Mari Pekin/UOL

Cris Guterres - E como é que você lida com os momentos em que você sai daquilo que foi proposto ali na dieta?

Cacau Protásio - A gente não pode desistir. É igual quando você fala que vai fazer dieta e diz que vai começar na segunda-feira ou no primeiro dia do mês. Não, quando você vai começar a fazer dieta, tem que começar agora. Eu vou tomar um café ali com adoçante agora. Você tem que começar, você tem que determinar. É agora e agora que eu vou fazer.

Então, assim, em todos os lugares que eu vou tem coisas saudáveis para comer. Sempre tem. É escolher uma coisa saudável. Mas está tudo bem também se eu não quiser comer uma coisa saudável. Se eu falar: "Hoje eu quero entupir minha veia um pouquinho."

Eu fiz promessa de um ano sem chocolate, glória a Deus. Isso me ajuda muito, promessa. Então, quando eu quero tirar aquilo da minha vida, eu faço a promessa

A gente tem a ideia de se dar um prêmio, um consolo. E, às vezes, a gente não precisa desse consolo. Assim, a gente merece tudo todo dia. Eu mereço ganhar na Mega Sena, eu mereço beijar na boca do Brad Pitt. Eu mereço tudo isso, entendeu? Mas assim, a gente tem que escolher. Se você ficar pensando nesse tempo, a gente nunca vai fazer.

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A gente tem que ter uma motivação. Foi isso que eu fiz. O que me motiva a fazer dieta? O que está me motivando a emagrecer? Eu quero vir no segundo ano sambando. Porque no Carnaval passado eu fiz arroz com feijão na avenida. Agora eu quero botar o bife. Então eu estou fazendo isso. Ano que vem eu quero vir sambando, fazendo firula. Então eu tenho uma motivação. Cada vez que eu vou comer um negócio, eu falo assim: 'Ano que vem, na avenida, olha o salto alto!' E isso me faz não querer comer gordice, açúcar, doce.

Cris Guterres - Você fez grandes mudanças na sua alimentação para você eliminar esses quilos?

Cacau Protásio - Não. Todo mundo fala que fazer dieta é caro. Não é. Alface é barato, chuchu é barato, cenoura... O legume é muito barato. Se você tem legume, verdura, você já consegue fazer uma dieta boa.

O problema é que a gente já arruma o problema na hora de fazer [dieta]. É por isso, eu acho, que a gente não consegue.

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Imagem: Mari Pekin/UOL

Cris Guterres - Você acha que a gente vai criando mais barreiras, desafios?

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Cacau Protásio - É hábito. A gente não tem o hábito de comer? Tem. Hábito de namorar, de trabalhar. Quando você cresce, você estuda. Então, você cria o hábito de estudar. Então você tem o hábito de comer.

Cris Guterres - Existe essa relação muito forte da comida com a nossa infância. Como é isso pra você?

Cacau Protásio - Então, eu sempre fui gordinha, sempre fui. Minha mãe, quando eu era pequena, era "taca Maisena nela". Eu vim de família pobre também, mas graças a Deus eu nunca passei fome. Na minha casa sempre teve tudo. Mas é óbvio que o supérfluo não tinha. Então a minha mãe fazia compras do que precisava: arroz, feijão, carne, leite. E aí, quando sobrava, ela falava que podia levar um iogurte. Era o mais barato, mas levava. E aí, óbvio, quando a minha vida melhorou e eu fui ao mercado comprar, eu peguei o quê? O mais caro. Só que depois que passa, a gente vê que não precisa. Se eu quiser, eu posso, mas eu não preciso. Porque eu acho que é uma compensação.

Quando a gente não tem a coisa quando é criança, ao crescer, a gente quer compensar o que a gente não teve. E, quando a gente entende que está tudo bem, se eu precisar, eu posso comprar, aí a gente acalma um pouco o coração

Cris Guterres - E, ao emagrecer, quais os principais ganhos você percebeu aí no seu bem-estar, no seu dia a dia?

Cacau Protásio - Hoje eu consigo sambar, hoje eu consigo andar. Às vezes, dependendo para onde eu vá, se tiver escada, se tiver uma fila de elevador grande, eu subo de escada. Eu consigo sentar, eu consigo cruzar a perna. Várias coisas que eu não conseguia. Eu tinha limitações. Sexo melhorou muito. Para mim, está sendo maravilhoso. Eu estou redescobrindo o meu corpo, tudo aquilo que eu posso fazer. E eu estou amando essa nova fase. Tanto que eu cheguei na minha médica ontem e falei:

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Eu não quero engordar, eu quero emagrecer mais, eu quero ter qualidade de vida, eu quero ter saúde, eu quero respirar

Não sei se todo mundo sabe, mas essa aqui [apontando para a barriga] é a pior gordura, a visceral. E eu tenho ela. Antes eu tomava remédio para pressão alta, agora eu já fui desmamada. E eu não quero voltar. Eu não quero viajar para algum lugar e passar mal. Eu não quero que a minha gordura visceral me mate. Então, pra mim está sendo qualidade de vida, eu não quero voltar ao que eu tinha antes.

Cris Guterres - E isso que você falou do sexo?

Cacau Protásio - Tem a obesidade e a menopausa, porque eu já estou no meio do caminho e é tudo que você pode imaginar. Você tem que fazer tudo voltar a funcionar. Não sei se tem aqui alguém na menopausa. Se não tem, novinhas, se cuidem. Porque a perereca resseca, a lubrificação fica zero. Mas a gente não fala disso. Minha mãe nunca conversou comigo sobre nada. Tudo que eu aprendi foi na rua, com amigo, com namorado, com alguém. Então, hoje, quando eu posso falar, eu falo. A gente tem que cuidar da saúde. Aí, agora, quando o negócio está bom, eu quero voltar a andar para trás? Não. Nem pensar.

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