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O que acontece no seu corpo quando você fica acordado por mais de 24 horas

Privação do sono pode ter efeitos como cansaço, sonolência e dor de cabeça Imagem: Arte UOL

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

24/09/2024 05h30

A ciência por trás do chamado sono da beleza vai muito além da estética. Afinal, dormir é uma necessidade humana básica que garante não só uma pele bonita, mas saúde e bem-estar por toda a vida.

A importância desse repouso noturno é que ele atua sobre o cérebro, mas também em todo o organismo, o que inclui o metabolismo, as defesas do corpo, hormônios, bem como a regulação do apetite e até o sistema cardiovascular.

Para que tudo funcione como um reloginho, o segredo é manter o perfeito equilíbrio entre duração e qualidade, rotina e regularidade, bem como estar de olho em doenças e distúrbios associados ao sono.

Mas o que esperar quando, por algum motivo —voluntário ou não— você não dorme tempo suficiente?

15% de adultos com mais de 18 anos sentem-se cansados na maioria dos dias da semana.

Mais de 30% dormem menos que 7 horas em um período de 24 horas regularmente.

Esse é o comportamento de 37% de pessoas de 20 a 39 anos de idade, 40% das com 40 a 50 anos, e 32% dos com 60 anos ou mais.

Entre 1985 e 2012 o número de indivíduos dormindo 6 horas ou menos aumentou em 31%. Os dados são do CDC, o centro de controle e prevenção de doenças dos Estados Unidos.

30% a 36% dos indivíduos apresentam sintomas noturnos de insônia.

Efeitos no seu corpo

Falta de sono pode comprometer tarefas básicas do dia a dia Imagem: iStock

Para a maioria das causas da privação do sono por 24 horas ou mais, os efeitos esperados são semelhantes e se caracterizam pelo cansaço, a sonolência e a dor de cabeça. Mas as consequências desse quadro também podem ser observadas nas funções cerebrais, no equilíbrio do organismo e no sistema de defesa do corpo. Confira:

A sensação é de embriaguez

Deixar de dormir o suficiente atrapalha as atividades do cérebro como um todo, o que resulta em sintomas como alterações do humor, irritabilidade, ansiedade, falta de motivação e impaciência.

A lentidão de raciocínio é comum: é como se você tivesse tomado 12 copos de cerveja.

Concentração e atenção são reduzidas. Depois aparecem alterações no equilíbrio e na coordenação. A memória também é prejudicada (formação e consolidação), assim como o aprendizado e a tomada de decisões.

Apresenta-se ainda deficiência no processamento das informações, maior propensão a cometer erros durante a prática de atividades costumeiras, bem como a adoção de comportamentos de risco e julgamento, segundo dados publicados pelo periódico Nature and Science of Sleep.

Privar-se repetidamente do sono por tempo prolongado ainda é associado a problemas de saúde mental como ansiedade e depressão. Nesse contexto, não dá para saber o que vem primeiro —a privação do sono, que leva a esses quadros— ou a ansiedade e a depressão que promovem a insuficiência do repouso noturno, provocando ou piorando tais condições.

Ao longo do tempo, deixar de dormir horas suficientes pode favorecer o aparecimento de doenças cognitivas e degenerativas. Uma das funções do sono é fazer uma espécie de faxina em proteínas tóxicas que se acumulam no cérebro durante o dia. Quando esse trabalho não é feito, facilita-se o acúmulo delas, o que tem sido relacionado ao Alzheimer.

Sinal aberto para doenças crônicas

O sono influencia variados processos do corpo humano (funções fisiológicas), como a regulação da pressão sanguínea, o colesterol, as taxas de açúcar no sangue (glicemia), além do apetite e a disposição para a prática de atividades físicas.

Depois de mais de 24 horas sem dormir, o desejo de comer alimentos ricos em gordura e carboidratos aumenta —tudo culpa da redução do hormônio leptina que regula a sensação de saciedade. Isso explica por que trabalhadores de turno tendem a aumentar 5 kg no peso inicial durante o primeiro ano de trabalho nesse esquema de horário; nos anos seguintes, o ganho é de 1 kg para cada 12 meses trabalhados.

Cansaço e sonolência ainda podem desmotivar a prática de exercícios ou reduzir a performance, dada a diminuição da força muscular, da resistência, da habilidade motora, etc. Um atleta só consegue ter alto desempenho quando ele dorme bem.

No longo prazo, repetir as noites em claro pode predispor a doenças metabólicas e cardiovasculares, como o diabetes, a hipertensão, o colesterol alto e a obesidade. Aliás, duração do sono menor que 6 horas por noite é fator de risco para infarto, AVC (Acidente Vascular Cerebral), além de mortalidade precoce: quem tem qualidade e quantidade de horas de sono vive mais.

Atrasos na defesa contra enfermidades

Uma boa noite de sono propicia o aumento da circulação de proteínas envolvidas com o sistema de defesa do seu corpo, as citocinas. Elas fortalecem a resposta imunológica para combater infecções, recuperar-se de doenças e promover a cicatrização, por exemplo.

Mais de 24 horas sem dormir pode atrapalhar o sistema imunológico, expondo-o a infecções, facilitando o aparecimento de um estado inflamatório constante que prejudica a saúde como um todo.

Cada pessoa com os seus tempos

Crianças, em geral, têm a necessidade de dormir mais Imagem: dragana991/Istock

As necessidades de sono variam de pessoa a pessoa e elas devem ser respeitadas. Mas, a depender da idade, podem ser considerados os seguintes parâmetros:

Idosos (65 +): 7 horas

Adultos (26-64 anos): 7 a 8 horas

Adolescentes (14-17 anos): 8 a 10 horas

Crianças em idade escolar (6-13 anos): 9 a 11 horas

Crianças (3-5 anos): 10 a 13 horas

Crianças pequenas (1-2 anos): 11 a 14horas

Recém-nascidos e bebês: 14 a 17 horas

Os indivíduos mais suscetíveis à privação de sono são os vespertinos, isto é, aqueles que biologicamente preferem dormir e acordar tarde.

Dia e noite acordado: possíveis causas

A privação de sono por mais de 24 horas pode decorrer das seguintes situações:

Comportamento voluntário: deixar de dormir em razão do estilo de vida que não deixa espaço para ter uma rotina consistente para dormir e acordar.

Cuidados com a família: suporte para pessoas idosas, doentes ou bebês.

Trabalhadores em turno ou estudantes: profissionais que trabalham durante a noite ou alunos que têm o hábito de estudar de madrugada.

Problemas de saúde: quadros clínicos (dor crônica, diabetes, etc.) ou psiquiátricos (ansiedade, depressão, etc.).

Abuso de substâncias: medicamentos, álcool, drogas ilícitas e dependência.

Além desses fatores, exposição excessiva a telas e ao barulho também colaboram para a insuficiência do sono.

Depois eu compenso

O volume do sono não funciona como um banco de horas. Se alguém perde determinado período de repouso, dormir horas a mais, depois, não compensará totalmente o período que ficou para trás.

Quando dormimos menos do que é considerado necessário, a qualidade do sono fica comprometida. E mesmo que quando dormimos mais horas depois, as fases do sono não são completamente restauradas.

O que pode acontecer é que períodos curtos de sono operam como uma espécie de crédito. Por exemplo, pessoas que trabalham em esquema de plantão noturno, podem dormir 3 horas durante o dia, o que resultaria na necessidade de dormir mais 3 ou 4 horas depois, caso o padrão de sono corresponda a 7 horas/noite. Quanto mais tempo você demora para recuperar essas horas, menor será a compensação.

Será que é insônia?

Os especialistas consultados afirmam que esse quadro tem como característica uma série de queixas que revelam uma insatisfação com a qualidade e a quantidade de sono, somadas a sintomas diurnos.

Em geral, as pessoas relatam as seguintes situações:

Dificuldade para iniciar e manter o sono.

Despertar antes do horário planejado e esperado

Quando o sintoma é ficar mais de 24 horas sem dormir, observe se isso ocorre ao menos 3 vezes na semana, e se isso tem se repetido ao longo dos últimos 3 meses ou mais. Se este é o caso, é preciso buscar por uma avaliação médica.

Embora exista muita informação disponível sobre o assunto, muitas vezes, a ajuda médica —se possível com um especialista em medicina do sono— é essencial para entender as causas e encontrar possíveis soluções.

A abordagem terapêutica geralmente começa com a TCC (Terapia Cognitivo Comportamental).

O uso de medicamentos só é indicado quando a TCC não apresenta o resultado esperado.

Como nem sempre a TCC é acessível, algumas pessoas se valem do uso de aplicativos como o oferecido pelos Vigilantes do Sono, que podem ser úteis.

Higiene do sono

Essa estratégia é uma proposta educativa que sugere a modificação do estilo de vida, como limitar as sonecas da tarde, evitar jantar perto da hora de dormir ou consumir álcool e cafeína, e também evitar fumar. A adoção de uma dieta equilibrada é também indicada, assim como o estabelecimento de uma rotina de horários para o sono e o despertar.

Os especialistas consultados afirmam que essas medidas ajudam, mas elas devem ser personalizadas porque nem sempre cabem na vida de quem tem dificuldade para dormir. Para pessoas com insônia crônica, esta estratégia deve sempre somar-se a outras.

Fontes: Alan Luiz Eckeli, professor de neurologia e Medicina do Sono na FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo); Cristina Salles, laringologista e médica do sono, coordenadora do Serviço de Medicina do Sono do HUPES-UFBA/Ebserh (Hospital Universitário Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia, que integra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); é professora adjunta da EBMSP (Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública) e coordenadora do Serviço de Medicina do Sono da mesma instituição; Gisele Richter Minhoto, médica neurologista, especialista em Medicina do Sono e professora da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Revisão técnica: Cristina Salles.

Referências: Consenso de Diagnóstico e Tratamento da Insônia em adultos 2023. Associação Brasileira do Sono. Com informações do UOL.

Hanson JA, Huecker MR. Sleep Deprivation. [Atualizado em 2023 Jun 12]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK547676/

Medic G, Wille M, Hemels ME. Short- and long-term health consequences of sleep disruption. Nat Sci Sleep. 2017. Disponível em https://doi.org/10.2147%2FNSS.S134864

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