Quando cuidar demais é um problema: os perigos de ser um pai helicóptero

Para proteger uma área, helicópteros podem ser usados para sua vigilância, mantendo um olhar atento sobre o que está acontecendo abaixo. Nesse sentindo, o termo "pais helicópteros" refere-se a um estilo de parentalidade caracterizado por um envolvimento excessivo e muitas vezes sufocante na vida dos filhos.

"O termo surgiu na década de 1990 [no livro Parenting with Love and Logic, de Foster Cline e Jim Fay], capturando a ideia de que esses pais 'pairam' sobre seus filhos, sempre prontos para intervir e solucionar qualquer dificuldade, muitas vezes antes mesmo que o filho perceba que há um problema", informa Leninha Wagner, neuropsicóloga pela Universidade Estácio de Sá (RJ).

Esses pais estão constantemente "sobrevoando" para observar cada aspecto da rotina de suas crias, com a intenção de superprotegê-las e garantir seu sucesso. Eles tendem a intervir em todas as situações, resolvendo problemas e tomando decisões, para evitar riscos e desconfortos, diz Wagner. Controlam atividades, amizades e até mesmo pequenos detalhes de um cotidiano que não é deles.

Impactos desse tipo de criação

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Embora essa abordagem possa parecer benéfica, à primeira vista, em se tratando de crianças, são várias as consequências negativas no seu desenvolvimento.

Crescer sob constante supervisão e intervenção dos pais gera dificuldades para tomar decisões próprias, o que pode levar à falta de autonomia e de habilidades emocionais e sociais —para interagir, negociar e resolver conflitos.

A superproteção pode também afetar a autoestima, pois as crianças acabam sentindo que não são capazes de fazer nada sem a ajuda dos pais. "A constante pressão para atingir padrões elevados de desempenho, muitas vezes ditados pelos pais, ainda pode gerar medo de errar e altos níveis de ansiedade e estresse, prejudicando o bem-estar emocional delas", acrescenta a neuropsicóloga.

Por sentirem que estão sempre sendo observadas e julgadas, as crianças acabam tendo dificuldade para se comportar em público e se adaptar a novos ambientes. Elas podem se tornar mais retraídas, desconfiadas e, alternativamente, também excessivamente críticas consigo mesmas e com os outros, buscando sempre a perfeição e se frustrando quando não conseguem alcançá-la.

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Filhos adultos também sofrem

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Pais helicópteros podem dificultar a transição dos filhos para a fase adulta e sua capacidade de viver de forma autônoma, interferindo até mesmo na escolha de sua carreira, emprego e gestão do próprio dinheiro.

Esses filhos podem se tornar acomodados, imaturos e emocionalmente dependentes em outras relações. Wimer Bottura, psiquiatra e presidente do comitê de adolescência da APM (Associação Paulista de Medicina)

A falta de resiliência é outro problema comum, pois a ausência de exposição a fracassos, dores e "nãos" na infância e juventude os deixa menos preparados para enfrentar adversidades na vida adulta, diz Bottura. Esses indivíduos podem duvidar de suas capacidades e evitar assumir responsabilidades ou desafios, como aceitar cargos mais elevados, tomar decisões difíceis e gerenciar prazos.

Se o filho for casado, a interferência contínua dos pais pode gerar conflitos. Em discussões com o parceiro, esse adulto tem dificuldades em se comunicar de forma aberta e honesta, já que foi acostumado a esconder sentimentos e opiniões para evitar conflitos. Alguns até podem agir de forma mimada, ou se rebelar, inclusive com os próprios pais, por nunca terem aceitado suas opiniões e desejos.

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Como lidar e não agir assim

Sendo adulto, é importante estabelecer limites claros aos pais e comunicar-se abertamente sobre como você se sente anulado, buscando ajuda profissional, se necessário. Como parceiro, ofereça apoio emocional ao seu cônjuge, incentive-o, comunique-se com respeito sobre como as ações dos pais dele afetam o relacionamento e considere a terapia de casal para encontrar soluções juntos.

Os pais podem mudar seu comportamento ao reconhecerem suas atitudes, buscarem informações e consultarem um psicólogo ou psiquiatra para refletir e identificar e tratar padrões disfuncionais. "Precisam promover a autonomia dos filhos, deixando-os realizarem escolhas desde as mais simples na infância; é preciso flexibilidade e sobretudo amor", comenta Jaqueline Vilar Greco Ramalho, psicóloga e professora do Unipê (Centro Universitário de João Pessoa).

Para ajudar um parceiro assim, tenha uma conversa aberta e empática explicando os efeitos negativos da superproteção. Mostre exemplos práticos de como enfrentar desafios pode beneficiar o desenvolvimento do filho e sugira a busca por um terapeuta para obter estratégias de equilíbrio. Reforce positivamente os esforços do parceiro e participe ativamente no processo de criação. Embora desafiadoras, essas mudanças trazem ganhos significativos para toda a família.

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