Solidão não causa doenças diretamente, mas está relacionada a 20 delas
A solidão, que já é considerada uma questão de saúde pública pela OMS, não é a causa direta de diversas doenças, mas pode indiretamente levar a elas. A conclusão é de um estudo da Universidade Médica de Ghangzhou, na China, publicado no último dia 16 de setembro na revista científica Nature.
Os pesquisadores investigaram dados da base biomédica Biobank, do Reino Unido, relativos a um período de 12,2 anos em que a solidão foi associada com maiores riscos para 30 de 56 doenças estudadas (ou seja, 13 em 14 das categorias como doenças mentais, infectocontagiosas, endócrinas, respiratórias e etc).
Destas 30 significativamente associadas à solidão, só havia dados genéticos para a análise de 26 doenças. Delas, foram encontradas relações não causais (ou seja, indiretas) entre a solidão e 20 doenças como as cardiovasculares, o diabetes tipo 2, obesidade, doenças crônicas do fígado e do rim, doenças neurológicas, entre outras.
Nem tudo o que parece é
A informação genética foi analisada por métodos não laboratoriais como a randomização mendeliana —um estudo de causa e efeito entre a solidão a partir das variantes genéticas já associadas a ela— e estatísticos. Eles ainda apontaram que a solidão é "apenas potencialmente" um causador das outras seis doenças.
"Fatores socioeconômicos, comportamentos em relação a saúde, sintomas basais de depressão e comorbidades largamente explicaram as associações entre a solidão e as doenças", descrevem os estudiosos.
Eles ainda frisam que nem sempre é considerado como uma "prova por observação" de que a solidão causou uma doença pode ser considerado como uma evidência genética, apesar de reconhecerem que "manter uma conexão social significativa é fundamental para a saúde física e mental".
Os especialistas da Universidade Médica de Guangzhou ainda reconhecem que modelos teóricos recentes apontam que a solidão pode iniciar ou exacerbar mecanismos biológicos ou comportamentais como uma resposta de estresse, um aumento dos níveis de inflamação no organismo e queda na motivação que acaba tornando o indivíduo vulnerável a doenças.
Doente porque se sente só ou só porque está doente?
Em maio de 2023, o cirurgião-geral dos EUA, Vivek Murthy, chegou a afirmar que uma "pandemia de solidão" ameaçava a saúde pública. Eles acreditam que esta percepção possa estar relacionada a dois fatores: o primeiro, a falta de dados conclusivos a respeito dos fatores genéticos desencadeantes de diversas doenças comuns como a apneia do sono, por exemplo.
O segundo seria uma relação de "causa reversa" entre a solidão e uma ampla gama de doenças, já que indivíduos com uma saúde física e mental ruim frequentemente relatam que se sentem mais sozinhos, embora o estudo não considere elementos como o impacto socioeconômico de uma doença sobre uma pessoa, o contexto de suporte do sistema de saúde local, estigmas de doenças específicas e etc.
Mesmo assim, os cientistas de Ghangzhou admitem que, mesmo que a solidão não possa ser considerada uma causa definitiva destas doenças, deve ser analisada como um "marcador substituto" de fatores de risco para desenvolvê-las.
A lista de todas as doenças está disponível aqui no site da Nature.
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