O que acontece na sua pele quando você dorme de maquiagem

Mesmo que o seu kit de maquiagem se limite à máscara para cílios, batom, blush e um protetor solar com cor, saiba que esses produtos contêm algumas substâncias cujos usos são meticulosamente regulados pelas autoridades sanitárias.

Todo esse cuidado decorre do fato de que a fórmula desses itens pode conter alguns ingredientes com potencial de causar efeitos colaterais indesejados na pele, a região mais exposta do seu corpo.

Além disso, esses cosméticos são geralmente utilizados em locais próximos às mucosas como os olhos e a boca, o que faz dessas áreas vulneráveis a esse tipo de reação.

  • A maioria dos cosméticos, incluindo maquiagens, tem polietilenoglicol (PEG), acrilato e petrolato, derivados do petróleo que podem conter impurezas e metais pesados.
  • Outro ingrediente comum são os parabenos: usados como conservantes, eles já foram classificados como disruptores endócrinos, ou seja, eles podem atuar no sistema endócrino e nos hormônios, segundo dados publicados pelo Journal of Preventive Medicine and Hygiene.

Os efeitos na sua pele

Dormir apenas uma noite maquiado pode não trazer nenhuma consequência grave para a pele de boa parte das pessoas, mas antes de deixar de fazer o seu ritual de limpeza, considere os possíveis prejuízos que essa prática pode causar:

A pele pode ser definida como uma barreira protetora contra ameaças do ambiente externo: microrganismos, toxinas, traumas, raios ultravioleta, etc. Além disso, ela também tem um papel em nossas sensações (dor/temperatura/toque); mobilidade; atividades endócrinas (como a produção de Vitamina D e absorção do cálcio); excreção (suor, sebo, etc.), bem como na imunidade e regulação térmica.

Para manter o equilíbrio dessas funções, a pele é renovada constantemente por meio de descamações: no período de 24 horas perde-se cerca de 500 milhões de células mortas.

A maquiagem, somada aos poluentes, à poeira, agentes infectantes, suor e à oleosidade natural da pele, promove um efeito oclusivo (abafamento) dos poros, comprometendo esses processos naturais.

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O acúmulo da "sujeira" ainda pode facilitar a mudança do microbioma local, provocando a proliferação de ácaros e fungos presentes nessa região, levando ao agravamento de condições como dermatite seborreica e rosácea.

Entre pessoas com peles sensíveis ou oleosas, a falta de higienização pode resultar no aparecimento de espinhas ou cravos (comedão), já na manhã seguinte.

A médio prazo, manter a pele em contato com a maquiagem pode induzir sensibilização e, posteriormente, alergias; em longo prazo, o descuido com a remoção desse produto e da poluição pode resultar em alterações no DNA das células da pele.

A saúde ocular sofre

A maquiagem para a região dos olhos geralmente contém substâncias e pigmentos minerais ou vegetais compatíveis para essa área delicada.

Apesar disso, esse tipo de cosmético é reconhecido como uma espécie de corpo estranho capaz de deixar resíduos nos tecidos oculares, como na conjuntiva (parte branca dos olhos e nas pálpebras) e no tecido lacrimal.

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Ao dormir com os olhos maquiados, ou mesmo ao lacrimejar e coçá-los ao acordar, esses produtos podem se acumular nas pálpebras e entre os cílios e atingir a conjuntiva, provocando irritação, obstrução das glândulas locais e inflamações, como a blefarite.
Ardência, lacrimejamento, vermelhidão e coceira são queixas frequentes.

Quais são os itens mais irritantes

Veja a lista:

Rímel
Lápis de olho
Primers
Fixadores de sombra e maquiagem
Batom
Protetor solar

Saiba escolher e usar o demaquilante

Oleoso, bifásico ou aquoso? As opções variam, mas você deve considerar a maquiagem que deseja remover, além do seu tipo de pele.

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Mesmo quando se faz tudo correto, por vezes é preciso rever a escolha, a depender da sensação que o produto causa na pele. Confira algumas características que contam na hora da compra:

Em geral, os aquosos, como a água micelar, são melhores para a pele do rosto, mas removem pouco o rímel, o delineador e o lápis.
Já os oleosos podem trazer um peso para a região dos olhos, por isso, evite os à base de óleo puro (exemplo).

Algumas pessoas também podem se sentir incomodadas com os bifásicos na hora da limpeza dos olhos e eles também podem deixar resíduos. Use-os para a remoção de produtos que sejam a prova d´água, e não face como um todo.

A higiene sempre deve se completar com o sabonete, capaz de remover o resíduo e deixar a pele pronta para o skin care.

Está com pressa, cansada? Faça uma limpeza rápida

Comece pelos olhos, usando demaquilante específico para essa região ou xampu para os cílios. Na falta deles, lave o rosto todo com água morna (muita gente desperta com a água fria) e sabonete líquido suave e diluído com água, ou o indicado para o seu tipo de pele.

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Outra opção é utilizar água micelar, depois lavar com sabonete líquido suave para a retirada de resíduos.

O conselho dos dermatologistas

Embora alguns produtos e procedimentos possam, de fato, melhorar o aspecto da pele, a verdade é que não existe receita mágica. Uma pele saudável é o resultado de atitudes conjuntas que incluem dieta equilibrada, boa hidratação, atividade física, sono de qualidade.

Além disso, colaboram a seu favor:

  • Evitar exposição excessiva ao sol.
  • Preferir usar sabonetes líquidos e suaves no rosto, deixando os em barra para outras regiões do corpo. Ambos devem ser usados com moderação.
  • Procurar um dermatologista ao primeiro sinal de mudanças na pele para uma avaliação.

Fontes: Elisete Crocco, dermatologista e coordenadora do departamento de cosmiatria da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia); Jéssica Magalhães, biomédica esteta especializada em pele negra, possui habilitação em análises clínicas e acupuntura pela UNIRB (Faculdade Regional da Bahia); Patricia Akaishi, oftalmologista, membro do CBO/ SBCPO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia/ Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular) e chefe do Setor de Vias Lacrimais e Estética Periocular do HCFMRP-USP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo); Vanessa Medeiros, dermatologista do HC-UFPE/Ebserh (Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, que integra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), professora de Dermatologia da mesma universidade; possui doutorado em Medicina Tropical; Valéria Franzon, dermatologista e professora da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), atua em clínica particular em Curitiba. Revisão técnica: Vanessa Medeiros.

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Referências: SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia); AAD (American Academy of Dermatology Association).

Lopez-Ojeda W, Pandey A, Alhajj M, et al. Anatomy, Skin (Integument) [Atualizado em 2022 Out 17]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024 Jan. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK441980/

InformedHealth.org [Internet]. Cologne, Germany: Institute for Quality and Efficiency in Health Care (IQWiG); 2006-. In brief: How does skin work? [Atualizado em 2022]. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK279255/

Panico A. et al. Skin safety and health prevention: an overview of chemicals in cosmetic products. J Prev Med Hyg. 2019. Disponível em https://doi.org/10.15167%2F2421-4248%2Fjpmh2019.60.1.1080

Milstone LM. Epidermal desquamation. J Dermatol Sci. 2004 Dec. Disponível em https://doi.org/10.1016/j.jdermsci.2004.05.004

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