Ele é fisiculturista em cadeira de rodas: 'Recusei cirurgia para competir'
Josué Monteiro, 25, é fisiculturista, mais conhecido como Gorila Albino. Na Área 51, academia onde geralmente treina, em São Paulo, Monteiro se esforça por um objetivo: conquistar o título Mr. Olympia na categoria Wheelchair, para atletas cadeirantes.
Gorila Albino está na cadeira de rodas desde os três anos após um acidente enquanto brincava de skate.
Ele até tem a possibilidade de recuperar parte da mobilidade das pernas, por meio de uma cirurgia de correção, mas decidiu recusar essa alternativa, pelo menos por enquanto.
Escolher pelo procedimento o colocaria automaticamente fora da próxima competição, que ocorre nesta quinta-feira (10), e possivelmente de muitas outras seguintes, tanto pelo tempo de recuperação quanto pela mudança da categoria, caso volte a andar sem depender de sua cadeira de rodas.
Tenho a possibilidade de fazer a cirurgia, mas preferi não fazer agora para seguir com minha carreira. Sei que isso me daria mobilidade, mas tenho um propósito, não me permito fazer. Quero ser o primeiro Mr. Olympia da categoria. Depois de dois ou três títulos, posso pensar em fazer.
Josué Monteiro
O campeonato é o mais importante no fisiculturismo e consagrou nomes de grandes atletas no passado, como os mundialmente conhecidos Arnold Schwarzenegger e Louis Jude Ferrigno, que interpretou Hulk no cinema. O brasileiro Ramon Dino também conseguiu o segundo lugar da competição em 2023, na categoria Classic Physique.
Monteiro conquistou o terceiro lugar do Mr. Olympia no ano passado na categoria Wheelchair e agora quer subir ao pódio de novo.
"Esse esporte salvou minha vida: eu era um cara que morava numa casa pequena, estava no fundo do poço. Sempre valorizei, saberia que um dia daria certo", conta.
O começo de sua revelação no esporte foi em 2019, por meio do convite de um influenciador conhecido como Toguro. O influencer chamou Monteiro para morar e produzir conteúdos por três meses na Mansão Maromba, uma espécie de reality show que foca principalmente em atletas de fisiculturismo.
Hoje, Monteiro vive em um apartamento com acessibilidade, rampas e elevadores e até o acesso à possibilidade de cirurgia está ligado a sua ascensão no fisiculturismo e ao patrocínio —ele é apoiado pela Growth.
Como é o treino
Monteiro começa sua série de peitoral em um aparelho que simula um supino com barra —o maquinário facilita sua entrada e saída e também a possibilidade de colocar pesos mais facilmente, apenas ajustando os blocos de peso içados por cabos.
Em outro exercício, em uma máquina de supino articulado, que tem ênfase no trabalho da porção superior do peitoral, ele começa com 80kg, vai para 120kg e termina a série com 200kg.
Treinei com ele e só aguentei o "tranco" até 100kg e com um pequeno apoio do atleta durante a execução.
"Agora estou em bulking [período em que o atleta consome mais calorias para ganho de peso], por isso é fácil fazer os exercícios com mais carga", conta Monteiro, entre uma repetição e outra.
Nesse período de preparação, Monteiro faz cerca de cinco refeições no dia e todas com cerca de 1kg de comida.
O patrocínio também garante que ele viva somente para o esporte, com valores de suporte para suplementação e alimentação que ultrapassam R$ 10 mil mensais.
"Agora posso viver para o esporte. Minha única função é treinar, comer, dormir e treinar."
O acidente e a cirurgia
Aos 3 anos de idade, Monteiro caiu andando de skate e bateu a região da coluna.
Após algumas cirurgias, foi constatado que houve uma compressão de nervos. Isso o fez perder a mobilidade dos membros inferiores e o levou à cadeira de rodas.
Lesões nos nervos podem ocorrer em quedas severas. Quando um nervo é danificado, ele pode sofrer estiramento, compressão ou ruptura. Esse tipo de lesão pode interromper a comunicação entre o cérebro e os músculos, levando à perda de mobilidade e sensibilidade. Em crianças, essas lesões podem ter um impacto significativo no desenvolvimento.
Daniel Edde, ortopedista, médico do esporte e especialista em dor
A cirurgia não é garantia de melhora completa, de acordo com Edde. "Cirurgias para reparar ou alongar nervos danificados podem envolver riscos, como infecção, sangramento, formação de cicatrizes, e possível falha na recuperação completa da função nervosa. Procedimentos múltiplos aumentam o tempo de recuperação e os riscos cumulativos", aponta o médico.