Menino faz carta pedindo exame de vista e óculos: 'Estudar era ruim'
Quase 800 mil crianças brasileiras vão para a escola com problemas de visão não corrigidos. Quem tem erro de refração —como miopia, hipermetropia ou astigmatismo— não consegue enxergar lousa e livros, aprendendo significativamente menos que seus colegas, segundo pesquisa inédita lançada pela IAPB (Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira) e a Fundação Seva, nesta quarta-feira (9).
Problemas de aprendizagem associados a problemas de visão
Criança com visão deficiente aprende menos. Elas aprendem aproximadamente metade do que uma criança com visão boa ou corrigida, segundo cálculos do levantamento.
Corrigir visão impacta até financeiramente. De acordo com o levantamento, se uma criança de cinco anos, por exemplo, recebe os óculos em seus primeiros anos escolares e continua usando-os até os 18 anos, ela terá ao longo da vida uma renda, em média, 78,1% maior do que se nunca tivesse corrigido a visão — ou até R$ 296.500.
Brasil aparece em terceiro no ranking com piores resultados. Lista incluí países que mais perdem em termos econômicos relacionados a problemas de visão não corrigidos. O Brasil está abaixo dos Estados Unidos e China.
'Estudar sem os óculos era muito ruim'
Carta ao Papai Noel pedindo exame de vista e óculos. Dhavi Pietro da Silva, 12, de Campina Grande, na Paraíba, vivenciou a melhora no aprendizado ao ter a visão corrigida. Ele tem astigmatismo, mas não tinha os recursos financeiros necessários para adquirir os óculos de que necessitava. No ano passado, ele aproveitou a oportunidade para escrever uma carta ao Papai Noel pedindo um exame de vista e óculos de grau.
Estudar sem os óculos era muito ruim. Primeiro, me sentava no fundo da sala e precisei me mudar para as primeiras fileiras para enxergar a lousa. Mas, mesmo assim, eu enxergava embaçado, a visão escurecia, tudo era muito difícil. Dhavi Pietro da Silva
Ótica doou óculos ao menino, que percebeu diferença nos estudos. História de Dhavi chamou a atenção de uma ótica da região, que doou óculos para ele e sua mãe. "Com meus novos óculos, tudo mudou completamente. Posso ver de longe e de perto; fez uma grande diferença nos meus estudos. Estou indo bem na escola e agora só tiro notas boas", compartilha.
Institutos se aliaram para fornecer cuidados oftalmológicos
Ganhos potenciais que essas crianças trariam à economia brasileira somam R$ 21,9 bilhões anuais. Nova pesquisa mostra que, se todas as crianças com problemas de visão tivessem acesso a óculos, o Brasil ganharia quase 300 mil anos de escolaridade a cada ano.
Com essa primeira estimativa global das reais perdas de aprendizado associadas à má visão, vemos o quanto nossas crianças poderiam ser beneficiadas ao receber óculos quando necessário. No Brasil, que consistentemente ocupa as últimas posições em indicadores de educação em comparação aos outros países, é importante garantir que a má visão não esteja impedindo nenhuma criança de aprender e prosperar. Caio Abujamra, presidente do Instituto Suel Abujamra
Institutos criaram aliança "Juntos pela Visão". Instituto Suel Abujamra, a Renovatio/GoodVision Brasil e o Instituto VerTer uniram forças para criar a aliança "Juntos pela Visão", comprometida em fornecer cuidados oftalmológicos para populações socialmente vulneráveis em todo o Brasil. Por meio dessa parceria, as três organizações combinam seus recursos e esforços para estender seu alcance a nível nacional, garantindo que o maior número possível de pessoas receba esse suporte.
Iniciativa oferece exames de visão gratuitos em escolas públicas. Grupo identifica crianças que precisam de óculos e oferece-os sem nenhum custo. Além disso, crianças diagnosticadas com problemas oculares são encaminhadas ao sistema público de saúde para tratamento especializado.
A intervenção precoce e a saúde ocular regular são essenciais para desbloquear oportunidades educacionais e potencial econômico futuro. A saúde ocular em jovens não é opcional — é fundamental para tudo. Peter Holland, CEO da IAPB
IAPB conscientiza sobre importância dos exames de visão. A agência organizou ainda uma competição entre crianças de todo o mundo, intitulada "Óculos do Futuro". O concurso propõe que elas usem sua criatividade para imaginar como serão os óculos das próximas décadas, contribuindo, assim, para a conscientização a respeito da necessidade de exames de vista regulares.
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