7 problemas de saúde que o excesso de gordura corporal costuma causar
A obesidade vem crescendo de forma alarmante no Brasil e no mundo. Por isso, nos últimos anos, a comunidade científica tem alertado de forma cada vez mas enfática sobre os riscos e problemas que o excesso de peso pode causar.
O quadro em si já é considerado uma doença. No entanto, ele também pode provocar um "efeito cascata" e predispor a diversos outros problemas de saúde. "A lista de comorbidades causadas, agravadas ou predispostas pela obesidade é extensa, são mais de 60", afirma Denis Pajecki, cirurgião bariátrico do Hospital Nove de Julho, em São Paulo.
As condições variam desde dores crônicas nas costas e articulações até quadros mais sérios, que colocam a vida em risco, como infarto agudo do miocárdio e AVC (acidente vascular cerebral). Dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), por exemplo, afirmam que a obesidade e condições relacionadas fazem cerca de 4 milhões de vítimas fatais todos os anos no mundo.
Veja a seguir 7 doenças que podem ser causadas ou agravadas pela obesidade.
Diabetes tipo 2
É uma das principais doenças associadas à obesidade. De acordo com a SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), estima-se que entre 60% e 90% das pessoas com diabetes tipo 2 têm obesidade.
A relação existe pois o excesso de gordura corporal provoca um aumento na produção de insulina —hormônio que auxilia a entrada de glicose nas células do corpo e regula os níveis de açúcar no sangue— pelo pâncreas. Com o tempo, esse excesso vai criando a chamada resistência à insulina.
"A condição ocorre quando a insulina não consegue mais atuar nos receptores das células, ou seja, o corpo não consegue mais usar o hormônio de forma eficaz", explica Fernando de Barros, gerente médico do Programa de Cirurgia Robótica e Bariátrica dos hospitais São Lucas Copacabana e CHN, no Rio de Janeiro. Como o açúcar não consegue entrar nas células, ele se acumula no sangue, criando, assim, as condições para o aparecimento do diabetes.
Aterosclerose
Esse é o nome técnico para o que chamamos popularmente de "estreitamento das artérias". A aterosclerose é provocada pela formação de placas de gordura e cálcio nos vasos, reduzindo o fluxo sanguíneo para várias partes do corpo e aumentando o risco de infarto e AVC.
Nesse sentido, há duas frentes em que a obesidade contribui para o problema. A primeira é que o excesso de gordura provoca um aumento na taxa de colesterol LDL (conhecido como "ruim), que favorece o acúmulo de placas de gordura nos vasos sanguíneos.
Mas não é só isso. "O tecido gorduroso em excesso, especialmente o tecido adiposo visceral, secreta uma série de proteínas que promovem uma inflamação de baixo grau no organismo", explica o cardiologista Mário Fritsch, membro do conselho científico da SBH (Sociedade Brasileira de Hipertensão).
Mesmo não sendo intensa, essa inflamação já é suficiente para prejudicar a estrutura das artérias. Danificadas, as células desse tecido passam a produzir menos substâncias que mantêm os vasos saudáveis. "Isso leva a uma tendência de estreitamento e maior risco de formação de placas de gordura, contribuindo para o estreitamento", afirma o médico.
Pressão alta
Os danos causados nos tecidos de vasos e artérias pela inflamação sistêmica, combinados ao estreitamento pelo acúmulo de placas de gordura, podem levar à hipertensão arterial —a popular "pressão alta". De acordo com a SBH (Sociedade Brasileira de Hipertensão), a pressão é considerada alta se estiver sistematicamente igual ou maior que 14 por 9. No entanto, atualmente, o resultado 13 por 8 já pode ser considerado acima do normal.
"A resistência insulínica aliada ao excesso de gordura corporal e à inflamação sistêmica podem sobrecarregar o sistema cardiovascular, gerar maior resistência dos vasos e maior necessidade da atividade cardíaca, o que pode culminar no aumento da pressão arterial sistêmica", afirma Barros.
Outra consequência dessa sobrecarga cardiovascular é que a hipertrofia do coração, que precisa trabalhar mais para distribuir o sangue para o todo corpo da pessoa com obesidade, principalmente quando as artérias já estão prejudicadas. "Esse desequilíbrio leva a uma deficiência na irrigação do sangue para o coração que, em casos extremos, leva ao infarto do miocárdio", explica Fritsch.
Câncer
A inflamação sistêmica provocada no corpo por causa do excesso de gordura aumenta o risco de câncer. Dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer) indicam que a obesidade está relacionada ao desenvolvimento de pelo menos 13 tipos de tumores, incluindo esôfago, estômago, pâncreas, fígado e intestino (cólon e reto).
Nesse sentido, a ingestão volumosa de alimentos ultraprocessados, que contribuem para o ganho de peso, também podem ser um fator adicional para elevar o risco de tumores malignos, como mostra esse estudo publicado no periódico eClinicalMedicine.
Mas outros tipos de câncer podem estar ligados à conversão de alguns tipos de células de gordura em hormônios sexuais. "Esse mecanismo aumenta o risco no desenvolvimento de alguns tipos de câncer, como mama e endométrio", afirma Denis Pajecki. O risco pode ser maior em mulheres na pós-menopausa, quando a exposição a esses hormônios pode levar ao desenvolvimento de tumores.
Infertilidade
Pajecki explica que as alterações hormonais provocadas pela obesidade podem afetar a fertilidade em homens e mulheres.
No caso delas, embora ainda não esteja claro por que isso acontece, os médicos já sabem que o excesso de gordura corporal e a inflamação sistêmica do organismo interferem na ovulação (que não acontece), na menor qualidade dos óvulos e nas taxas mais baixas de implantação.
Nos homens, o nível de testosterona do corpo pode ficar reduzido, prejudicando a produção de espermatozóides.
Dores nas articulações
A sobrecarga física que o excesso de peso gera nos joelhos, no quadril, nos tornozelos e na coluna provoca um processo inflamatório constante nas articulações, além de acelerar o desgaste dessas estruturas.
Isso provoca dores e, em longo prazo, pode não só favorecer o aparecimento de lesões como ainda levar ao desenvolvimento de osteoartrite e dores crônicas, que comprometem a qualidade de vida e a mobilidade do indivíduo.
Apneia do sono
A doença é caracterizada por episódios repetitivos de obstrução parcial ou total da via respiratória enquanto a pessoa dorme. Durante essas pausas, há uma relevante diminuição na saturação de oxigênio no sangue, o que está ligado a um risco maior para eventos cardiovasculares.
Além disso, a condição provoca despertares noturnos e prejudica a qualidade do sono, provocando cansaço ao longo do dia e, ao longo do tempo, menor qualidade de vida.
A relação entre obesidade e apneia ocorre porque o acúmulo de gordura no corpo leva a uma instabilidade nas vias aéreas por onde o ar passa enquanto dormimos, o que pode dificultar a respiração.
"Na apneia do sono, a entrada de ar para os pulmões é dificultada, o que reduz a oxigenação durante a noite e ativa o sistema nervoso simpático, contribuindo para uma maior elevação da pressão arterial e o aparecimento de arritmias cardíacas, que são alterações nos batimentos do coração", alerta Fritsch.
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