Atingimos o limite? Passar dos 89 anos de idade será exceção neste século
Apesar de nunca ter se visto tantos supercentenários quanto nos últimos anos, o crescimento da expectativa de vida começou a desacelerar, concluiu uma pesquisa liderada pelo professor S. Jay Olshansky, da Universidade de Illinois (EUA), publicada na Nature Aging no dia 7 de outubro.
Os fatores que levaram a grandes extensões da vida humana durante o século 20 já chegaram ao pico do seu impacto e agora seria necessária outra revolução médica ou social para que se viva muito mais.
O grande salto do século 20
"Pandemias episódicas". Ainda durante a primeira metade do século 19, a expectativa de vida ao nascer para seres humanos estava entre 20 a 50 anos de idade. Quaisquer aumentos eram lentos graças a diversas pandemias, epidemias e outros problemas de saúde pública.
Crescimento da expectativa média era de um ano a cada um ou dois séculos. Este padrão médio se repetiu pelos 2.000 anos anteriores, segundo cálculos dos especialistas de Illinois.
Com a chegada dos anos 1900, o jogo virou. A expectativa de vida passou a crescer cerca de três anos por década, dependendo do local onde o indivíduo vivia, seu desenvolvimento econômico, entre outros fatores temporais. Fenômeno foi chamado de "extensão radical".
Redução da mortalidade infantil teve papel fundamental. Quando o ser humano passou a sobreviver melhor aos primeiros anos de vida, ele também chegou, em média, mais longe na meia-idade. Esta foi considerada pelos especialistas a "fase 1" da extensão e aconteceu primariamente nas primeiras duas décadas dos anos 1900, com medidas sanitárias e de saúde pública dos governos (a lei de vacinação obrigatória no Brasil é de 1904) e com a resposta à pandemia de gripe espanhola em 1918.
Segunda fase chegou no Pós-Guerra. Na metade do século, grandes avanços para o tratamento de doenças cardíacas, como os primeiros transplantes, e de câncer levaram os pacientes de meia-idade à terceira idade e com mais saúde. Em 1900, a expectativa de vida era de 33,7 anos no Brasil, segundo o IBGE. Já em 2024, é de 76,4 anos.
O que nos fez chegar aos cem?
Água limpa;
Saneamento básico;
Higiene pessoal, como a bucal;
Vacinas;
Avanços em medicamentos, terapias e técnicas cirúrgicas.
Não vamos mesmo passar dos 89?
Anomalia dos EUA pode indicar tendência para as novas gerações. Pesquisadores analisaram dados de longevidade do período entre 1990 e 2019 dos países com maior expectativa de vida (Austrália, França, Itália, Japão, Coreia do Sul, Suécia e Suíça), além de Hong Kong e EUA. Não foram inclusos dados dos últimos cinco anos para evitar anomalias estatísticas provocadas pela pandemia. Nos EUA, foi percebida uma anomalia: no fim da última década analisada, a expectativa de vida já havia caído. Especialistas apontam relação com abuso de substâncias, suicídio e desigualdade no acesso a cuidados de saúde — o que pode ter sido exacerbado pela covid-19 nos anos seguintes.
Mesmo entre as populações de maior expectativa de vida, o ritmo de crescimento é mais lento hoje. Nestes países, o ganho é de menos de 2,5 anos a cada ano. Para que os recém-nascidos de 2024 cheguem, na média, aos 110 anos, é preciso que pelo menos 70% das mulheres cheguem aos cem anos. Atualmente, apenas 5% das mulheres de países com as melhores expectativas de vida alcançam este aniversário. Se a taxa de morte fosse de zero em todas as pessoas até 50 anos, a expectativa de vida ao nascer seria 89,7 anos para mulheres e 84,7 anos para homens.
Isso não quer dizer que os centenários não serão mais comuns. O time de Olshansky projeta apenas que comemorações do 100º aniversário não serão rotineiros no século 21. Apenas um novo salto científico e de saúde pública pode nos levar a romper esta barreira em grande escala.
Como estamos vivendo?
Diabetes e doenças cardíacas são problemas centrais. Segundo o estudo na Nature, existe uma significativa influência do aumento expressivo dos casos de diabetes e doenças do coração nos últimos anos na expectativa de vida em declínio, pelo menos nos EUA.
Estilo de vida tem imposto batalha à medicina. Enquanto os avanços permitem que sobrevivamos melhor, doenças crônicas como a obesidade e a dependência do cigarro estão cortando o tempo de vida. As muitas horas do trabalho sentado, sem exercício, também não ajudam. "Precisamos aceitar a nova realidade, que há um limite para o quanto conseguimos viver. Estamos colocando band-aids médicos na fase 2 que estão alcançando ganhos cada vez menores em longevidade", comentou o autor à revista Time.
Terceira fase deve lidar com os impactos do envelhecimento. Os pesquisadores apontam que é a hora de gerenciar "as consequências do nosso sucesso" e procurar soluções para o envelhecimento, em si, e não apenas as doenças associadas a ele. "Conseguimos o que queríamos — temos vidas muito mais longas. Mas estamos começando a ver um aumento [nos casos de] demência, comprometimento sensorial e coisas que não somos capazes de manipular tão efetivamente como gostaríamos", lamentou Olshansky.
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