Obesidade controlada: você não precisa de IMC perfeito para ganhar saúde

Associada a problemas cardiovasculares, diabetes e até alguns tipos de câncer, a obesidade é uma das doenças crônicas que mais crescem no mundo. Quem sofre enfrenta ainda uma pressão extra: a ideia de que só com o IMC (Índice de Massa Corporal) considerado ideal será possível colocar a saúde nos eixos novamente.

O resultado é uma jornada desgastante, desestimulante e, muitas vezes, impossível de ser dominada.

A boa notícia é que isso não passa de um mito. A realidade é bem diferente, aliás! Ao se perder, pelo menos, uma porcentagem modesta de peso, já é possível conquistar uma série de benefícios para a saúde.

"Isso já é muito bem estabelecido na literatura científica e também pode ser observado em pacientes com outras doenças crônicas, como a diabetes", diz Maria Edna de Melo, endocrinologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

É nesse contexto que surge o conceito de obesidade controlada, proposto pela ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) e pela SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e que estabelece o peso máximo já alcançado ao longo da vida (com exceção de períodos especiais como gravidez ou lactação) como ponto de partida.

Segundo as instituições, para quem tem IMC entre 30 e 39, 9 kg/m2, perdas de 5% a 10% do valor mais alto alcançado já indicam obesidade reduzida, e acima de 10%, obesidade controlada. Para IMCs a partir de 40kg/m2, os valores são de 10% e 15% respectivamente.

A nova classificação deve permitir "que indivíduos com obesidade e seus profissionais de saúde se concentrem em estratégias para manutenção do peso em vez de redução adicional de peso", de acordo com o documento.

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5%, 10%, 15%: quanto perder?

Apesar de os conceitos de obesidade reduzida e controlada levarem em conta os valores citados no início da matéria, os benefícios para a saúde não dependem deles.

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"Qualquer perda de peso é bem-vinda, independente do IMC atingido", resume Cintia Cercato, endocrinologista do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

"Inclusive, diversos estudos sobre obesidade mostram que, após um tempo, é muito difícil normalizar o IMC", completa Lorena Lima Amato, endocrinologista pela Universidade de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM).

Isso causa expectativa de algo que pode não acontecer e a frustração de a pessoa achar que não foi bem-sucedida no tratamento, quando, na verdade, já teve, sim, benefícios.
Lorena Lima Amato, endocrinologista

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Para se ter uma ideia, estudos mostram que a perda de 2,5% do peso máximo já abre caminho para a queda nos índices de glicemia e triglicérides e melhora a fertilidade - nos homens, a obesidade impacta negativamente a produção dos espermatozoides e, nas mulheres, está relacionada ainda a uma série de doenças reprodutivas, como miomas uterinos e síndrome do ovário policístico.

Reduções de peso de 5% a 10% comprovadamente aumentam o HDL (colesterol bom), diminuem dores articulares e promovem melhorias nos índices de glicemia (reduzindo o risco de diabetes e resistência à insulina), na qualidade de vida, na mobilidade, na função sexual e em casos de depressão e incontinência urinária.

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Quedas a partir de 10% já impactam eventos cardiovasculares. É o caso da hipertensão, da doença arterial coronariana, da insuficiência cardíaca e do acidente vascular cerebral (AVC).

Acima de 15% já estamos falando da diminuição no risco de mortalidade.
Cintia Cercato, endocrinologista

Motivação extra

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Além de estimular benefícios de saúde reais e atingíveis, o conceito de obesidade controlada tem outro superpoder, de acordo com as especialistas ouvidas para esta matéria.

Ao mostrar que o tratamento atingível é efetivo, permite que as pessoas adequem expectativas, evitem frustração e se engajem ainda mais - o que pode motivar uma perda de peso ainda maior. "O fato de o paciente saber que já conseguiu um sucesso terapêutico pode estimulá-lo a seguir em frente", acredita Lorena Amato.

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Outra vantagem da abordagem é deixar ainda mais claro que a obesidade é uma doença crônica, que deve ser observada para sempre e tratada (com sucesso!) por meio de mudanças no estilo de vida e de um emagrecimento sustentável - sem falsas receitas milagrosas.

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