Casos de câncer em alta: quais exames preventivos são essenciais?

Mesmo sabendo que o câncer é considerado uma das principais causas de morte no mundo atualmente, os números ainda assustam. Dados do Globocan 2022, relatório do GCO (Global Cancer Observatory), plataforma de dados ligada à OMS, estimam, até 2050, teremos 35 milhões de novos diagnósticos de tumores.

Espera-se que um em cada cinco indivíduos terá câncer durante a vida.

A pergunta que muitos de nós faz é, claro, o que pode ser feito para frear essa alta de casos —se é que algo pode ser feito. Afinal, o processo de desenvolvimento do câncer (chamado de carcinogênese) é complexo e influenciado por diversas variáveis, como envelhecimento, hereditariedade, hábitos ruins (como tabagismo e dieta rica em ultraprocessados), sedentarismo e poluição do ar, entre outros.

Nem tudo dessa lista pode ser modificado, mas uma coisa pode ser feita para reduzir os danos daqueles que irão desenvolver a doença: os exames de rastreio, recomendados para certos grupos e que auxiliam a detectar a doença em estágios iniciais ou pré-cancerígenos.

A importância disso é enorme: mesmo não sendo possível impedir o câncer de aparecer, a descoberta precoce do tumor oferece mais opções de tratamento e um prognóstico mais positivo, além de altas taxas de cura em muitos casos.

Quem precisa fazer o rastreio?

Em geral, a maioria dos exames de rastreio é recomendada para pacientes acima dos 40 anos, já que o câncer é uma doença mais comum na velhice. Para se ter uma ideia, dados do Globocan indicam que aproximadamente 53% das pessoas diagnosticadas com câncer em 2022 tinham 65 anos ou mais.

Mas atenção: isso não é regra. Para o câncer de colo de útero, por exemplo, é recomendado que os exames se iniciem antes dos 40 anos, já que a doença tem outro fator de risco prevalente: a contaminação pelo vírus HPV, algo que pode ocorrer já a partir do início da vida sexual ativa —daí o início do rastreio ser mais cedo.

Além disso, as recomendações devem ser personalizadas se o indivíduo tiver casos na família ou histórico anterior de tumores. Nesses casos, pode ser até que o médico recomende a realização de testes genéticos para ter uma visão mais clara do risco de cada paciente.

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Quais exames devem ser feitos e quando?

As recomendações de exames de rastreio são feitas com base na incidência da doença em determinada população. Por isso, cânceres mais raros ou que tenham menos casos geralmente não têm indicação para entrarem na busca ativa nos exames de rotina.

A regra é clara: é preciso ter um benefício, ou seja, de fato reduzir a mortalidade de pessoas, para virar uma política pública e/ou recomendada por associações médicas.

No caso do SUS, como os recursos são mais limitados, também é preciso analisar o custo-benefício para avaliar quais as melhores formas de rastreio, já que muitos exames são de alto custo.

Confira a seguir os exames de rastreio dos principais tipos de câncer atualmente:

Câncer de pele

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O Ministério da Saúde afirma que não há consenso quanto ao rastreio populacional para o câncer de pele. Por enquanto, as evidências mundiais não são suficientes para recomendar o rastreio.

No entanto, sugere-se que médicos clínicos fiquem alertas para lesões com características malignas durante exames físicos para outras finalidades.

O Ministério da Saúde recomenda ainda que pessoas com alto risco para melanoma (o tipo mais agressivo de câncer de pele), como indivíduos com histórico pessoal ou familiar da doença, sejam examinadas periodicamente por um médico.

Já a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) recomenda consultar um dermatologista ao menos uma vez ao ano para um exame completo e avaliar manchas, pintas e outros sinais do corpo.

Câncer de mama

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O Ministério da Saúde recomenda a mamografia como exame de rotina para rastreamento da doença, a cada dois anos para mulheres entre 50 e 69 anos, sem sinais ou sintomas de câncer.

A recomendação inclui homens trans e pessoas não-binárias designadas como sexo feminino ao nascer, que mantêm as suas mamas.

Mulheres em grupo de alto risco (com histórico familiar ou anterior de câncer) devem iniciar o monitoramento a partir dos 35 anos.

Já a SBM (Sociedade Brasileira de Mastologia) recomenda a realização do exame anualmente a partir dos 40 anos. Mulheres no grupo de alto risco devem iniciar a rotina aos 30 anos.

O autoexame não é mais recomendado por sua baixa efetividade. Mas a mulher pode e deve ficar atenta a qualquer mudança nas mamas e buscar ajuda médica se isso acontecer.

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Câncer de próstata

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O Ministério da Saúde, assim como a OMS, não recomenda o rastreio do câncer de próstata sem que existam sinais ou sintomas. Isso porque os estudos indicam que não há benefícios ao se adotar essa prática, que não reduz a mortalidade pela doença.

A orientação geral é de que os homens procurem o urologista se notarem alguma alteração, como dor, inchaço e dificuldade para urinar.

Os exames iniciais são o toque retal e o PSA, que mede a quantidade de uma proteína específica produzida na próstata.

O exame PSA pode ser pedido para homens a partir dos 50 anos, de acordo com a recomendação e orientação do médico que cuida do paciente.

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Já a SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) recomenda que homens a partir dos 50 anos busquem um profissional especializado para avaliar individualmente a necessidade ou não de realizar exames de rastreio.

Homens negros ou com parentes de primeiro grau que tenham tido câncer de próstata têm maior risco de desenvolver a doença. Por isso, para eles, a recomendação é de realizar o rastreio a partir dos 45 anos.

Câncer colorretal

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O Ministério da Saúde recomenda o rastreamento de câncer de cólon e reto em adultos (homens e mulheres) de 50 a 75 anos de idade por meio de pesquisa de sangue oculto nas fezes, colonoscopia ou sigmoidiscopia (exame em que avalia o cólon).

O exame de sangue oculto nas fezes é feito como teste de triagem. Caso dê positivo, é necessário realizar outros exames para confirmar o diagnóstico.

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Já SBCP (Sociedade Brasileira de Coloproctologia) recomenda buscar orientação médica a partir dos 45 anos para avaliar fatores de risco gerais e individuais para determinar ou não a necessidade de exames.

A orientação da entidade é realizar a pesquisa de pesquisa de sangue oculto nas fezes de forma anual a partir dos 50 anos em homens e mulheres com baixo risco para a doença e sem doenças intestinais inflamatórias. Também recomenda a realização de retossigmoidoscopia (anual ou bianual).

Já pessoas com histórico pessoal e/ou familiar de câncer de intestino, ovário, endométrio, mama e tireoide, devem iniciar o rastreamento aos 40 anos (ou 10 anos antes do familiar com doença mais precoce) por meio de colonoscopia.

A SBCP recomenda ainda que pessoas com antecedente de doença inflamatória intestinal (retocolite ou doença de Crohn) iniciem o rastreamento entre 7 e 10 anos após o início do tratamento da doença.

Câncer de pulmão

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A SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia) defende que indivíduos de alto risco para desenvolver câncer de pulmão devem realizar exames de rastreio.

Os fatores de risco são: ter mais de 55 anos, ser fumante ativo ou ex-fumante que parou há menos de 15 anos.

Tabagistas e ex-tabagistas são considerados de alto risco quando têm carga de consumo de cigarro acima de 30 maços/ano.

O exame requisitado é a tomografia computadorizada com baixa dose de radiação.

O Inca (Instituto Nacional do Câncer) não recomenda o rastreio de câncer de pulmão, embora reconheça que estudos recentes mostraram que a realização de tomografia computadorizada com baixa dose de radiação pode reduzir a mortalidade de indivíduos com alto risco para a doença.

O Ministério da Saúde estuda incluir o exame de rotina no calendário do SUS; por enquanto, a recomendação é realizar o detecção precoce por meio da investigação de sintomas sugestivos da doença, como tosse, dispneia, fadiga e emagrecimento.

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E os exames genéticos?

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Em alguns casos, o médico pode recomendar a realização de exames genéticos para o rastreio do câncer. A orientação geralmente é feita quando há histórico familiar ou pessoal de câncer de mama, ovário, cólon e reto, para buscar possíveis alterações genéticas que aumentem o risco de desenvolver a doença.

No caso dos tumores de mama e ovário, que têm forte influência dos genes BRCA1 e BRCA2, o exame genético já é previsto no hall de procedimentos da ANS e deve ser feito na paciente e em seus familiares, caso volte como positivo.

Esses exames são importantes pois, uma vez portador de alguma alteração genética, o acompanhamento médico permite mudar fatores de risco modificáveis (como sedentarismo e má alimentação) para reduzir o risco de desenvolver a doença, além de orientar o profissional na hora de estabelecer uma rotina personalizada de exames de rastreio periódicos.

Fontes: Anelisa Coutinho, oncologista da rede de clínicas AMO; Cynthia Lemos, oncologista do Hospital Nove de Julho (SP); Gustavo Fernandes, diretor da Dasa Oncologia; Luiz Henrique Araújo, oncologista do Hospital São Lucas de Copacabana (RJ); Rizzieri Gomes, médico cardiologista, especialista em medicina preventiva, de Manaus (AM); e Vladmir Lima, oncologista e assessor de medicina personalizada do laboratório Hermes Pardini (do Grupo Fleury).

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