Qual o significado de ouvir a mesma música várias vezes seguidas?
De repente, o refrão de uma música surge na sua cabeça e você, mentalmente, começa a cantar. As horas se passam — às vezes, alguns dias também — e, quando se dá conta, você ainda está ali cantando as mesmas estrofes.
Popularmente conhecida como "música chiclete", a síndrome da canção presa também é chamada de "verme de ouvido" (earworm, em inglês) e dá a ideia de que, muitas vezes, a música chega para ficar.
Motivo está no seu cérebro
De acordo com o neurologista Rodrigo Santos de Araújo, do Hospital Universitário da UFS (Universidade Federal de Sergipe), vinculado à Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), quando isso acontece, o cérebro entende como uma memória evocada.
"Quando a gente ouve uma canção, ativa um processo auditivo temporal. Ouve ali [a música] e passa. Já a canção presa é uma memória que fica sendo evocada, às vezes, por anos, o que chega a incomodar bastante a pessoa. Isso impacta na qualidade de vida. A pessoa está fazendo outra atividade e aquela música ali na cabeça o tempo todo. É difícil conseguir tirar do pensamento", diz Araújo.
Felipe Chaves, neurologista do Hospital Sírio-Libanês, diz que o cérebro sempre vai tentar comparar esse som que está ouvindo com outros sons que já ouviu antes. "Se você está ouvindo a mesma música mais de uma vez, pode acessar áreas de memória. Isso quer dizer que essa música vai aparecer hora ou outra."
Outras possíveis explicações
Se a pessoa tiver, constantemente, a percepção de que está ouvindo no ambiente uma música que não está sendo tocada, é alucinação musical. Isso, implica uma atenção um pouco mais especial e vale a pena procurar um médico. A alucinação musical está ligada a casos mais sérios de transtornos, como a esquizofrenia.
Também pode ter relação com características obsessivas, contemplando sinais do TOC, no qual o pensamento é intrusivo e ocasiona prejuízo na qualidade de vida da pessoa.
Agora, casos menos preocupantes, em que a pessoa busca ouvir a mesma música repetidamente, incluem:
Busca por sensação de prazer, conforto e familiaridade;
Reativação de memórias e lembranças boas;
Necessidade de regulação emocional (dar significado a sentimentos de tristeza e alegria, por exemplo);
Aliviar o tédio e o estresse, disparando dopamina (o hormônio do prazer) em todo o nosso corpo;
Fazer da música uma prática do mindfulness, que é a capacidade humana de estar no momento presente sem julgamentos, críticas, apegos etc.
Como se desprender de uma música?
A orientação nos casos em que uma música "gruda" da cabeça, diz Rodrigo Costa Oliveira, psicólogo do Hospital Universitário Onofre Lopes, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), é fazer algo mecânico. "Alguma atividade com alguma complexidade ou atividade física ao ar livre, por exemplo. Também escutar no sentido de ouvir a música. Quando você para e escuta, é como se tivesse fechado esse pensamento. Isso funciona em 90% das abordagens. Em casos mais graves, que não é a maioria, seria necessária uma intervenção terapêutica", diz o psicólogo.
Mascar chiclete, diz o neurologista Felipe Chaves, também pode funcionar. Assim como fazer atividades como sudoku, ler um livro ou matérias de jornal mais longas e que prendam sua atenção.
*Com informações de reportagens publicadas em 17/01/2023 e 26/02/2021
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.