Mecanismo que ativa produção de glicose no fígado em estresse é revelado

Um estudo brasileiro publicado em agosto na revista Metabolism detalhou a morfologia dos nervos no fígado e seu papel no controle da glicose em situações de estresse.

A pesquisa, realizada em camundongos, revelou que, em resposta ao frio, os nervos simpáticos (que controlam as respostas involuntárias do corpo, principalmente as reações ao estresse, como "luta ou fuga") liberam noradrenalina, aumentando a produção de glicose no fígado.

Essa ativação envolve moléculas específicas, como a proteína CREB e seu ativador CRTC2, que foram pouco exploradas até agora.

Os pesquisadores utilizaram a técnica 3DISCO, que torna amostras biológicas mais transparentes por meio de solventes orgânicos, permitindo uma visualização tridimensional dos nervos.

Como estudo foi feito

Os cientistas usaram uma técnica chamada imunomapeamento em 3D para estudar como os nervos simpáticos estão distribuídos no fígado de camundongos. Eles descobriram que esses nervos estão bem presentes, mas não se conectam diretamente às células do fígado.

Para entender melhor o papel desses nervos, os pesquisadores expuseram os camundongos a temperaturas muito baixas (4°C) por até seis horas. Essa situação de estresse ativou a proteína chamada CREB, que ajuda o fígado a liberar glicose, que fornece energia para os músculos e ajuda a manter a temperatura do corpo.

Os cientistas queriam aprofundar seus conhecimentos, então, seguindo estudos dos anos 1980 que já haviam mostrado que o sistema nervoso pode influenciar a produção de glicose, eles testaram camundongos de duas maneiras: removendo os nervos do fígado com métodos químicos e cirúrgicos, e usando camundongos geneticamente modificados que não tinham a proteína CRTC2, que ajuda a CREB.

Os pesquisadores então descobriram que, sem os nervos ou sem a proteína, os camundongos não conseguiam produzir glicose em situações de estresse. "Com esses resultados, estamos acrescentando um novo componente nas pesquisas", completou à Agência Fapesp Luiz Carlos Navegantes, professor do Departamento de Fisiologia da FMRP-USP e autor correspondente do artigo.

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Noradrenalina controla glicose hepática

A noradrenalina é um neurotransmissor vital para a resposta do corpo ao estresse, aumentando a frequência cardíaca, a pressão arterial e a liberação de glicose.

Embora a maioria das pesquisas sobre a produção de glicose no fígado foque em hormônios do pâncreas e das glândulas adrenais, entender a ação da noradrenalina é importante para desvendar processos que levam a doenças metabólicas, como diabetes e obesidade.

Os achados da pesquisa podem abrir novas direções para estudos, especialmente em condições que alteram o sistema nervoso simpático, como hipertensão e esteatose (acúmulo de gordura) hepática. Adultos brasileiros com esteatose hepática têm 30% mais risco de desenvolverem diabetes tipo 2.

*Com informações de reportagem publicada em 26/07/2023

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