Por que pacientes cardíacos têm dificuldade em manter uma dieta saudável
As doenças cardiovasculares continuam sendo uma das principais causas de morte no mundo, e controlá-las de forma eficaz exige mais do que apenas intervenção médica: o que você come desempenha um papel crucial na saúde do seu coração.
Para pacientes cardíacos, seguir recomendações nutricionais não é apenas uma sugestão; é uma tábua de salvação. Uma dieta saudável para o coração pode ajudar a controlar os fatores de risco, como pressão alta, níveis de colesterol e obesidade, todos os quais contribuem fortemente para doenças do coração .
Uma dieta saudável o ajudará a prevenir novos problemas cardíacos — o que é chamado de prevenção secundária —, e a melhorar a capacidade funcional e de vida, dando-lhe mais independência para as atividades diárias. Mas, para muitos pacientes, aderir a essas diretrizes alimentares pode ser um desafio significativo, mesmo quando eles estão em um programa de reabilitação. Isso é especialmente desafiador para aqueles que vivem em ambientes de poucos recursos (áreas ou comunidades economicamente frágeis e pouco suporte para saúde e bem-estar).
A reabilitação cardíaca é uma abordagem interdisciplinar focada em intervenções para prevenção e melhoria do prognóstico cardiovascular, a fim de reduzir o impacto global das doenças relacionadas. Recentemente, realizamos um estudo com o objetivo de compreender as barreiras e os facilitadores que os pacientes que vivem com um orçamento apertado enfrentam ao tentar seguir as recomendações nutricionais.
As descobertas ressaltam a importância, e a complexidade, de os pacientes manterem uma dieta saudável para o coração. Os resultados desse estudo não são apenas informativos - eles são um chamado à ação para prestadores de serviços de saúde, formuladores de políticas e comunidades.
O custo de uma alimentação saudável
Uma das principais barreiras que identificamos é o preço alto de alimentos saudáveis. Muitos que ajudam o coração —como frutas frescas, vegetais e proteínas magras — podem ser caros, especialmente para indivíduos ou famílias que vivem com orçamento reduzido. Em áreas de baixa renda, o acesso a esses alimentos é frequentemente limitado, com opções mais acessíveis, mas menos saudáveis, prontamente disponíveis.
Essa realidade econômica dificulta que os pacientes escolham consistentemente o que comer de forma que favoreça a saúde do coração. Nos últimos anos, o custo de alimentos saudáveis no Canadá, um país de alta renda, tem aumentado devido à inflação dos alimentos. Apesar disso, o atual Guia Alimentar do Canadá é menos caro para adultos seguirem em comparação aos anteriores.
Outra barreira significativa é a complexidade das informações nutricionais. Os pacientes são frequentemente bombardeados com uma grande quantidade de diretrizes dietéticas, o que pode ser confuso e estressante. Sem a orientação adequada, incluindo educação e individualização, é fácil para alguém se sentir perdido ou desencorajado, particularmente se não tiver conhecimento nutricional básico. Isso pode levar à frustração e, em última análise, à baixa adesão às recomendações alimentares.
Fatores culturais também desempenham um papel relevante. Em muitos casos, as dietas tradicionais podem não estar alinhadas com as diretrizes dietéticas padrão recomendadas para a saúde cardíaca. Os pacientes podem achar desafiador adaptar seus hábitos alimentares sem sentir que estão perdendo uma parte importante de sua identidade cultural. Essa desconexão pode tornar ainda mais difícil para manter uma dieta saudável para o coração.
Capacitando os pacientes a comer melhor
Apesar desses desafios, nosso estudo também destacou vários caminhos que podem facilitar e fazer uma diferença significativa. Um dos mais eficazes é o apoio da comunidade. Os programas que oferecem acesso econômico à comida saudável, como bancos de alimentos ou hortas comunitárias, podem ajudar a aliviar algumas das pressões financeiras.
Além disso, fontes de informação acessíveis que dividem conselhos nutricionais complexos em etapas simples e práticas podem capacitar os pacientes a fazer escolhas mais positivas.
É importante ressaltar que a incorporação de alimentos culturalmente relevantes nos planos de dieta pode tornar a transição para uma dieta saudável para o coração mais gerenciável e aceitável. Quando os pacientes percebem que seus alimentos tradicionais podem fazer parte de sua dieta, é mais provável que eles adotem e mantenham as mudanças recomendadas.
Nossas descobertas enfatizam a importância de uma abordagem personalizada para a orientação nutricional na reabilitação cardíaca, especialmente para aqueles com menos recursos. Não basta simplesmente dizer aos pacientes o que comer - os profissionais de saúde precisam ouvir e entender os desafios específicos que enfrentam e oferecer soluções práticas e sustentáveis. Isso significa trabalhar em estreita colaboração com os pacientes, oferecendo orientação personalizada que leve em conta a situação financeira, fornecendo acesso a recursos e considerando as preferências culturais.
Tornando acessíveis dietas saudáveis
As implicações da nossa pesquisa vão além do atendimento individual ao paciente. Elas destacam a necessidade de mudanças sistêmicas que tornem a alimentação saudável mais acessível a todos. Isso pode incluir políticas que subsidiem bons alimentos, aumentem a disponibilidade de produtos frescos em áreas carentes ou criem programas educacionais que sejam abertos a todos.
Seguir recomendações nutricionais é vital para controlar doenças cardiovasculares, mas nem sempre é fácil, especialmente para a população carente. Identificar e abordar as barreiras específicas que esses pacientes enfrentam pode ajudá-los a fazer mudanças duradouras e positivas em sua dieta e, por fim, na saúde cardíaca.
Esta pesquisa ressalta a necessidade de uma abordagem mais equitativa aos cuidados de saúde, que garanta que todos tenham o apoio necessário para ter uma vida mais longa e saudável.
Gabriela Ghisi, Affiliate Scientist, KITE Research Institute, Adjunct Professor, Department of Physical Therapy, University of Toronto e Camila Kümmel Duarte, Professor do Departamento de Nutrição, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
This article is republished from The Conversation under a Creative Commons license. Read the original article.
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