Terapia do luto: quando é preciso buscar ajuda após perder alguém?
Samantha Cerquetani
Colaboração para o VivaBem
28/10/2024 12h00
Perder uma pessoa querida pode ser um processo transformador que exige a adaptação a uma nova realidade. Muitas vezes, após a tristeza e choque iniciais, as pessoas precisam de apoio psicológico para lidar com as mudanças e sentimentos que surgem durante o luto.
"O acompanhamento psicológico pode ajudar o enlutado a identificar o que se perdeu com a morte de uma pessoa querida e a como se reposicionar na vida diante dessa ausência. O luto é um trabalho ativo realizado pelo pessoa e apoiado pelo profissional", diz Mônica Venâncio, psicóloga e coordenadora do ambulatório do Luto do Hospital Universitário Prof. Edgard Santos da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
Como funciona a terapia do luto
A terapia do luto pode ser fundamental para lidar com esses sentimentos e a falta de disposição. "Trata-se de um espaço seguro e acolhedor que a pessoa enlutada precisa para ter sua dor abraçada e reconhecida. Nesse processo, ela passa a conhecer seu luto, entender seus sentimentos, dar colo à sua dor e construir formas saudáveis de conviver com o luto, de se cuidar e de se reconstruir", explica Amanda Ferreira, psicóloga com formação em psicologia da perda e do luto.
Inicialmente, o terapeuta precisa entender qual vínculo foi rompido, como era a relação entre os envolvidos e como a pessoa está lidando com a perda.
"O paciente vai construindo uma narrativa sobre a sua relação com a pessoa que morreu (ou partiu). O enlutado começa a explicar seus sentimentos, o significado que está atribuindo a essa perda e o que está fazendo para lidar com a presença da ausência. O terapeuta usa diversos recursos, além da escuta acolhedora", afirma Samantha Mucci, psicóloga e coordenadora do Proalu (Programa de Acolhimento do Luto) da Unifesp.
Técnicas e recursos usados na terapia do luto
As especialistas consultadas por VivaBem reforçam que o luto é uma experiência singular e, portanto, as intervenções terapêuticas precisam ser individualizadas. Muitas vezes, para superar o luto (ou lidar melhor com a situação), é preciso compreender os diferentes estágios da dor e os sentimentos que emergem, como tristeza, raiva, culpa e confusão.
O terapeuta ajuda o enlutado a entender que não existe uma forma certa de reagir e ajuda os indivíduos a se adaptar à nova realidade, mas no seu tempo. Veja abaixo a seguir recursos terapêuticos que podem contribuir para o processo de aceitação e ressignificação da perda significativa.
Storytelling
A contação de histórias (ou storytelling) é uma abordagem terapêutica que utiliza as narrativas pessoais para auxiliar as pessoas a processar e compreender a experiência da perda. Ao encorajar os enlutados a compartilharem suas histórias, essa técnica proporciona uma oportunidade de explorar emoções complexas, encontrar sentido na dor e construir uma nova narrativa de vida após a perda.
"Ajuda os enlutados a dar sentido à perda, abordando o legado do falecido e o impacto da ausência, o que facilita a aceitação e a resiliência. Compartilhar essas narrativas em grupos ou com terapeutas promove conexão e compreensão, essencial para o apoio emocional. Também auxilia na reconstrução da identidade do enlutado, permitindo que ele encontre um novo propósito e uma direção após a perda", explica Mucci.
Técnicas de visualização
Permite que o enlutado imagine conversas ou interações com a pessoa que morreu, promovendo uma sensação de conexão. Essas práticas ajudam a processar emoções complexas, como tristeza e culpa, promovem a aceitação da perda e oferecem conforto, reduzindo a ansiedade. Além disso, permitem reviver memórias felizes, celebrando o legado do falecido.
Escrita terapêutica e rituais de memória
Escrever cartas ou diários ajuda a expressar sentimentos não ditos e a refletir sobre a relação. Já os rituais, como acender velas, pode ser uma forma de honrar a memória do ente querido que partiu.
Terapia em grupo (ou grupos de apoio)
Compartilhar as experiências, sentimentos e desafios com outras pessoas que estão passando por situações semelhantes é uma forma de elaborar o luto. Esse tipo de interação permite que os participantes se sintam menos isolados em sua dor.
O que é luto e quais seus sintomas
De forma geral, o luto é o processo que ocorre após uma perda significativa, mas nem sempre envolve a morte de alguém. Há casos de pessoas que entram em luto após a perda de um animal de estimação, o término de um relacionamento ou até mesmo após demissão.
As reações mais comuns são:
Tristeza intensa (o que não significa necessariamente depressão);
Saudade;
Angústia;
Solidão e descrença no futuro;
Medo e desesperança;
Culpa.
Além disso, é comum que o enlutado tenha insônia, alteração no apetite, cansaço e falta de energia.
Quando é a hora de procurar ajuda?
É importante saber que é possível aprender a conviver com o luto e viver com mais leveza e consciência após essa experiência. "De forma geral, é necessário buscar ajuda profissional durante o luto quando a pessoa tem dificuldade em expressar sentimentos, o humor está sempre alterado, quando há pouco ou nenhum suporte social, além do fato da perda ter causado impactos intensos e constantes na rotina", destaca Ferreira.
Para as especialistas, com o tempo, espera-se que o enlutado elabore a perda e volte a ter interesse por atividades que antes traziam prazer e dê mais atenção a outros relacionamentos.
"O trabalho do luto envolve dor e é um processo que se dá ao longo do tempo. Seguir amando a pessoa falecida não implica, necessariamente, em um luto inacabado. Comover-se diante de lembranças e datas significativas pode ser uma maneira de conferir lugar à relação que existiu com a pessoa que se foi", complementa Venâncio.
Se você está passando pelo luto, lembre-se:
Não há nada de errado com o seu luto;
Respeite os seus sentimentos e acolha a sua dor;
Tenha paciência diante desse processo e caminhe um dia de cada vez;
Estabeleça uma rotina diária de autocuidado é fundamental para manter-se saudável;
Defina pequenos objetivos diários;
Entre em contato com a natureza;
Quando a dor da perda resulta em prejuízos duradouros nos diversos âmbitos da vida é importante buscar auxílio profissional.