7 mitos sobre obesidade que precisam ser derrubados
Apesar de já ter sido amplamente estudada, ainda existe bastante desinformação sobre a obesidade, até mesmo entre profissionais da saúde. Muitas pessoas acreditam que ela é sinônimo de desleixo e preguiça, ou que para emagrecer basta "fechar a boca".
Mas o quadro é complexo e precisa de acompanhamento e orientação de profissionais. O volume de afirmações erradas pode atrapalhar o tratamento da obesidade, além de prejudicar estigmatizar as pessoas que enfrentam essa questão.
VivaBem listou alguns dos mitos mais comuns a respeito do assunto para que eles sejam esclarecidos e derrubados. Veja:
1. É falso que obesidade é falta de força de vontade ou culpa da pessoa
Como uma doença complexa, multifatorial e de difícil tratamento, a obesidade não é resultado de falta de vontade e, raramente, pode ser resolvida sem ajuda de profissionais. Além do sedentarismo e problemas na alimentação, fatores como má qualidade de sono e poluição também contribuem para o desenvolvimento da obesidade.
De acordo com a endocrinologista do hospital Sírio-Libanês Gabriela Resende, a genética desempenha grande papel na predisposição ou não do indivíduo a ter obesidade. O tratamento envolve, muitas vezes, não apenas corte de calorias e exercícios físicos, como também remédios que ajudam no controle da saciedade.
A obesidade precisa de uma atenção, de cuidados especiais, de tratamento, de acompanhamento médico.
Gabriela Resende
Ela ressalta que a crença de que o emagrecimento na obesidade depende da força de vontade reforça o estigma que as pessoas com esse quadro já sofrem.
2. É falso que toda pessoa com obesidade é menos ativa fisicamente
Resende explica que o sedentarismo é um fator de risco para o acúmulo problemático de gordura e que praticar exercícios físicos de forma rotineira está entre os eixos de tratamento contra obesidade. No entanto, uma pessoa pode ser fisicamente ativa e, ainda assim, ter obesidade.
A atividade física é muito importante para a manutenção do peso. Mas para perder peso só com atividade física é muito difícil, porque o gasto calórico não é tão grande. Tem que estar associado à parte alimentar e ao controle da saciedade.
Gabriela Resende
3. É falso que o sucesso do tratamento pode ser medido pelos quilos perdidos na balança
Nem sempre a perda de quilos por si só é interessante. Em algumas ocasiões, isso significa perder massa magra, em vez de gordura. "A quantidade de perda de peso total é importante, é um dos parâmetros que a gente olha. Mas também é muito importante a composição corporal", diz Gabriela Resende.
É normal que em uma grande perda de peso, parte disso seja massa magra. Mas, segundo a médica, o ideal é que, pelo menos, 80% dos quilos perdidos venham da gordura. É isso o que reduz o risco de surgimento ou melhora do controle de doenças, como diabetes e hipertensão.
Quando o paciente faz um tratamento em que apenas toma os remédios contra obesidade receitados pelos médicos ou deixa de fazer exercícios é comum uma perda maior de massa magra.
A professora do Departamento de Nutrição Clínica e Social da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Simone Gonzaga do Carmo avalia que um dos pontos pelo qual o sucesso do tratamento pode ser medido é a melhora da qualidade de vida do paciente.
Por exemplo, um paciente que tem um diabetes associado, quando ele perde peso e muda alimentação, pode ter um controle maior desse diabetes.
Simone Gonzaga do Carmo
4. É falso que existem remédios e receitas milagrosas
Como a obesidade é difícil de tratar, surgem promessas de remédios e tratamentos alternativos e fórmulas milagrosas. Mas a professora da UFOP é enfática: não existe chá ou vitamina capaz de fazer as pessoas perderem peso.
Mesmo os medicamentos receitados por médicos para emagrecimento precisam estar associados à melhoria na alimentação e exercício físico. "Tudo aquilo que promete demais é passível de desconfiança", avalia.
O estigma do quadro de obesidade faz com que as pessoas queiram emagrecer a qualquer custo e de forma rápida. Gabriela Resende conta que muitos que procuram uma consulta com ela para tratamento contra obesidade já buscaram ajuda médica em outras ocasiões.
Além de não contribuir para melhora do quadro, algumas das fórmulas que prometem emagrecimento fácil podem apresentar riscos para os pacientes e causar, por exemplo, problemas cardiovasculares, câncer e morte súbita, de acordo com a endocrinologista.
A pessoa que tem obesidade passa a vida tratando, porque é uma coisa crônica. Então, a pessoa fica suscetível a esse tipo de desinformação.
Gabriela Resende
5. É falso que deixar de comer vai ajudar no tratamento
Dietas muito restritivas não são viáveis no longo prazo. Em um primeiro momento, o paciente pode emagrecer. Mas o processo irá envolver perda de massa magra e líquidos. O indivíduo terá dificuldade de manter a dieta por muito tempo e, ao interromper, pode se deparar com episódios de compulsão com comida.
Além disso, após uma dieta restritiva, o organismo pode buscar compensar a carência nutricional e alterar os níveis de hormônios relacionados à fome e à saciedade. Isso contribui para o aumento da fome e, assim, da ingestão de alimentos. O ideal no tratamento é manter uma dieta balanceada com diversos nutrientes.
6. É falso que cortar carboidratos e adicionar mais proteínas é a solução
Existe uma disseminação da ideia da proteína como o "mocinho" e o carboidrato como o "vilão" para quem deseja emagrecer. Muitas pessoas procuram suplementos como whey para aumentar a ingestão de proteínas e cortam os alimentos ricos em carboidratos.
Mas o excesso de proteína sem levar em consideração as especificidades de cada indivíduo também é transformado em glicose. Se não for utilizada, a glicose se torna gordura acumulada no tecido adiposo.
"Essa questão de que para emagrecer você precisa de suplementos e de alimentos especiais não é verdade. Os alimentos especiais que a gente precisa são o aumento da ingestão de frutas, verduras e legumes, e reduzir o consumo geral", diz a endocrinologista Maria Edna de Melo, médica do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
Simone Gonzaga do Carmo diz que, de forma geral, a população adulta deve consumir entre 45% a 60% de carboidratos por dia. Esse nutriente é essencial para fornecer energia para o corpo, o que permite, inclusive, funções fisiológicas, como os batimentos cardíacos.
Os carboidratos podem se tornar um problema se ingeridos em excesso, assim como qualquer componente. Grande parte dos alimentos ultraprocessados têm alto valor energético e são pobres em outros nutrientes, como a fibra. Os ultraprocessados também são ricos em carboidratos simples, que são absorvidos de forma rápida pelo corpo, aumentando a fome depois.
As pessoas devem priorizar o consumo dos chamados carboidratos complexos, que estão presentes em alimentos com fibras, como as frutas, vegetais e alimentos integrais.
7. É falso que a obesidade não traz perigo quando os exames clínicos estão "normais"
Ainda que os exames da pessoa estejam dentro da faixa de normalidade, o quadro tende a se deteriorar com o passar dos anos, explica Maria Edna de Melo. Além disso, a pessoa com obesidade enfrenta complicações mecânicas, como sobrecarga nos joelhos e artrose, o que afeta a qualidade de vida e precisa de tratamento.
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