Autismo em adultos: como reconhecer e por que é importante diagnosticar
Colaboração para VivaBem*
01/11/2024 18h20
Apesar de ser uma condição identificada na maioria das vezes ainda na infância, o autismo vem sendo diagnosticado com cada vez mais frequência em adultos. O TEA (transtorno do espectro autista) apresenta vários graus e sua identificação pode passar despercebida se não for dada a devida atenção.
Sem diagnóstico determinado nem o amparo e a estrutura necessários para viver melhor com a condição, pessoas dentro do espectro passam anos e até décadas lutando contra algo que não sabem o que é, sentindo-se deslocados e "diferentes", mas sem nenhuma explicação.
O que pode levar a um diagnóstico tardio?
A falta de acesso a informações, ao sistema de saúde e a falta de condições emocionais ou financeiras dos pais são as causas mais comuns do diagnóstico tardio. A resistência ao diagnóstico e o estigma em torno de condições neurodivergentes também impedem que algumas crianças sejam examinadas e diagnosticadas.
A maioria dos diagnósticos tardios é relacionada a casos leves de autismo, de pessoas que não apresentam deficiência intelectual e conseguem levar uma vida autônoma, funcional e independente. Esses indivíduos muitas vezes "disfarçam" e lidam bem com a condição, e só vão procurar ajuda quando alguém lhes questiona os poucos amigos, seu jeito direto de falar ou sua pouca habilidade social.
Como é feito o diagnóstico?
Tanto na infância quanto na vida adulta os sinais e sintomas avaliados para investigar um caso de autismo são os mesmos, o que muda é o processo usado para chegar ao diagnóstico.
Vários fatores são levados em consideração, como indicadores genéticos, dados do neurodesenvolvimento, comportamento e o funcionamento das habilidades sociais, emocionais e cognitivas.
Normalmente, o processo inclui entrevistas intensivas, consultas com diferentes especialistas médicos, como psiquiatras e neurologistas, avaliação neuropsicológica e o uso de escalas padronizadas que ajudam a situar o paciente no espectro.
Entre os exames que podem ser solicitados estão uma investigação genética, auditiva e eletroencefalográfica — tanto para o diagnóstico diferencial quanto para investigar a presença de comorbidades.
Relatórios da fonoaudiologia, psicologia, psicopedagogia e terapia ocupacional trazem mais informações ao parecer inicial.
Uma grande dificuldade do diagnóstico na idade adulta é recuperar marcos infantis do desenvolvimento dos quais a pessoa não se lembra, não sabe ou não tem mais membros da família que possam lembrar.
Geralmente, o adulto que não sabe que se enquadra no espectro já sabe como camuflar sua condição e se encaixar no convívio social. E como a comunicação não é o forte das pessoas no espectro, depender delas para contar a própria história pode ser um desafio.
Se o paciente for diagnosticado, ele é encaminhado para profissionais que poderão ajudá-lo a trabalhar melhor as limitações que ele apresenta. Sem o auxílio adequado, elas tendem a se enrijecer, o que significa que a melhora dos sintomas pode demorar mais em adultos.
Que sinais podem ser indícios de que a pessoa está no espectro autista?
Dificuldade em reconhecer e identificar emoções e sentimentos são típicos de casos de autismo.
Pessoas adultas com autismo costumam ter dificuldades na socialização, com prejuízo na compreensão de dicas sociais. Muitas vezes, apresentam um déficit na utilização de sinais verbais e não verbais e dificuldade para compreender aquilo que é dito de forma não explícita.
O autismo em adultos muitas vezes vem acompanhado de comorbidades que também podem apontar ao diagnóstico. Elas podem ser psíquicas, como ansiedade, depressão, TDAH, TOC, comportamentos de irritabilidade e desregulação emocional, ou fisiológicas, como distúrbios gastrointestinais, distúrbios do sono, epilepsia e problemas motores.
Hiperfoco no trabalho, dificuldades com mudanças de rotina e sensorialidade exacerbada (como alta intolerância a ruídos) também são sinais importantes.
Por que é importante diagnosticar
Sem o diagnóstico de autismo e a estrutura adequada, a pessoa acumula prejuízos sociais e acadêmicos que podem desencadear outros transtornos. Não são incomuns sintomas de ansiedade e depressão por se perceber diferente ou sofrer bullying dos colegas.
Muitas vezes, o diagnóstico fecha um longo ciclo de incompreensão acerca da própria existência. Dar um nome à condição também facilita o acesso a informações e propicia a inclusão da pessoa em um grupo, onde ela encontra seus similares e conversa com outras pessoas que vivem como ela.
Além disso, devido aos sintomas não explicados e às comorbidades que muitas vezes aparecem, a pessoa pode ser tratada com terapias e intervenções que não são as mais adequadas e podem até ter efeitos nocivos.
*Com informações de reportagem publicada em 26/11/2022