Ele não come carne e provou ser musculoso sem bomba: 'São 13 ovos por dia'
Quem hoje vê o corpo musculoso e definido que Icaro Lermen, 22, exibe nas redes sociais não imagina que, há cerca de cinco anos, ele era um adolescente magricela.
O profissional de educação física e atleta de fisiculturismo natural (modalidade que prega o condicionamento físico sem anabolizantes) viralizou em 2022, após conquistar diversos troféus no primeiro campeonato brasileiro da categoria e também no mundial, em Las Vegas.
"Participei do campeonato no Brasil e, em todas as categorias que disputei, fui primeiro lugar. Ali foi a minha virada de chave, fiquei conhecido e comecei a chamar a atenção."
O catarinense conta que sempre foi apaixonado por esportes. "Minha mãe era professora de circo, então com 5 anos eu já praticava atividades circenses: a modalidade com tecido, trapézio, argolas. Foi assim até meus 8 anos."
Do circo, o jovem migrou para o futebol.
"Dos meus 8 aos 15 anos, me dediquei 100% ao futebol. Cheguei a jogar pelo time da cidade, o Joinville, até lesionar o joelho. Isso acabou me desanimando um pouco, porque fiquei nove meses parado até me recuperar. Nesse meio tempo, voltei para o circo e também fiz reabilitação com pilates."
Então, comecei na musculação com 16 para 17 anos, quando pesava 72 quilos. Fui buscar conhecimento sobre otimizar o processo de hipertrofia e adotei a progressão de carga como base do meu treino. Hoje, com 1,85 metro de altura, peso 104 quilos. Na época de competição, chego a 109 quilos, com uma porcentagem de gordura de 5%.
Icaro Lermen
Contra o 'terrorismo nutricional'
Na mesma época em que iniciou a musculação, Icaro decidiu virar ovolactovegetariano e cortar a carne do cardápio.
"Parte da minha família é gaúcha e tinha churrasco todo fim de semana. Foi um processo de seis meses até parar de vez: primeiro, tirei a carne vermelha, depois o frango, e assim por diante."
Para obter a quantidade necessária de proteína em sua dieta, o jovem consome outros alimentos. "Bastante ovo, leite, queijo, mel, iogurte, lentilha, grão-de-bico, castanhas. Também faço suplementação com whey protein, creatina e melatonina."
Só de ovos, "são de 10 a 13 por dia", diz ele. Na fase de redução de gordura, Icaro dá preferência para a clara do ovo.
Sou contra o terrorismo nutricional. Atualmente, estou em processo de ganho de massa, consumo mais calorias do que gasto por dia. Gira em torno de 5.000. Na preparação que fiz para um campeonato de que participei no meio do ano, até a quarta semana antes da competição eu tinha uma refeição livre por semana, e comia pizza. Isso me dava mais adesão ao treino, melhorava a minha performance, me deixava mais feliz, e eu consegui chegar para competir em uma excelente condição.
Icaro Lermen
Quando precisa secar e definir o corpo, Icaro e seu time de profissionais trabalham para adaptar sua dieta.
"Quando entro em fase em que preciso ter déficit calórico, consumo cerca de 2.200 calorias por dia. Mas é algo gradativo, é um processo. Aí, dou preferência para alimentos como morango e melancia, que têm muito volume. Mas também consumo doce de leite no pós-treino, então é bem flexível."
@icarolermen Evolução Natural e Vegetariano (14 anos - > 19 anos)#atleta #workout #academia #foryou #viral #bodybuilding #musculation #evolução #fitness #fit ? som original - CARLOS_EDIT ??
Antidoping e teste do polígrafo
Icaro começou a competir profissionalmente no fisiculturismo natural em 2022 e já acumula mais de 40 troféus na categoria.
Para participar das competições, ele passa por testes antidoping para provar que seu corpo é fruto apenas de treino e alimentação, sem o uso de anabolizantes e substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidoping.
"Nos campeonatos em geral, normalmente só quem fica em primeiro lugar e os atletas sobre os quais existe suspeita de uso de anabolizantes fazem o antidoping, que é o exame de urina", explica ele.
"Já nas competições da WMBF (World Natural Bodybuilding Federation), que é uma federação mais rígida, além do exame de urina, que todos fazem, também é preciso passar pelo teste do polígrafo [detector de mentira, com base nas reações do corpo] para competir. E eles ainda realizam testes surpresa esporádicos."
O catarinense diz que nunca fez uso de substâncias ilícitas. "Quando eu comecei na musculação, me ofereceram anabolizante na academia, mas eu recusei. Sempre ouvia que ninguém consegue ficar com bom físico de forma natural, sem utilizar bomba, esteroide, anabolizante, mas eu nunca usei."
Atualmente, Icaro acumula mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais. Ele conta que se preocupa com o conteúdo que entrega para quem o acompanha e que tem uma atenção especial com o público jovem.
"Eu vejo, muitas vezes, os adolescentes com muita ansiedade para atingir o shape perfeito, eles querem isso para ontem. Se o jovem não tem um bom gerenciamento emocional, pode recorrer aos anabolizantes. E eu quero evitar isso."
Muita gente abre mão da saúde em prol de um físico mais estético. Se eu utilizasse anabolizantes, acabaria inspirando outras pessoas a fazerem o mesmo. Eu não quero isso. O meu propósito de vida é incentivar as pessoas a praticarem esportes e terem uma vida mais saudável por meio natural.
Icaro Lermen
Equilíbrio é a fórmula
A ansiedade dos jovens na busca por um corpo musculoso a curto prazo aumentou o uso de anabolizantes no país. Um em cada 16 estudantes brasileiros já utilizou algum tipo de hormônio, e os anabolizantes são a segunda droga mais usada por adolescentes entre 12 e 17 anos. Os dados são da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).
"O uso de anabolizantes pode causar aumento de acne, queda de cabelo, hipertrofia no coração, problemas de colesterol, trombose e até mesmo câncer, entre outras doenças. A lista de efeitos colaterais é enorme", explica Gabriel Ganme, médico do esporte e responsável pelo ambulatório de Medicina dos Esportes de Aventura da Escola Paulista de Medicina.
Para ele, para se atingir uma alta qualidade muscular sem o uso de hormônios, é necessário equilíbrio entre dieta, treino e período de descanso, além de levar em conta a genética.
"Existe uma série de coisas que melhoram o crescimento muscular. Mas, em geral, o que funciona é o beabá do esporte: dormir bem, se alimentar bem e treinar corretamente. Também é importante considerar a genética. A produção natural de testosterona do indivíduo, por exemplo, pode refletir diretamente no resultado que ele vai alcançar."
O médico destaca que, quanto mais individualizados os exercícios e a dieta, maior será a chance de sucesso. "Você tem de achar o ótimo para aquele indivíduo. A gente usa muito na medicina esportiva o princípio da individualidade. Nem tudo o que funciona para uma pessoa, funcionará para outra", diz Ganme.
Por exemplo, o ovo é uma excelente fonte de proteína, mas a gema é altíssima em colesterol. As pessoas com dislipidemia têm de limitar a quantidade de ovo na alimentação. Então você tem de entender aquela pessoa individualmente.
Gabriel Ganme, médico do esporte
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