O que acontece no seu corpo quando você tem vermes

Vermes ou verminoses são formas populares de se referir a enfermidades causadas por parasitas. Esses microrganismos estão presentes na natureza e, para sobreviverem, precisam de organismos mais complexos —como os dos humanos— que são definidos como hospedeiros.

Também conhecidas como parasitoses, essas doenças podem ser adquiridas por meio da ingestão de alimentos e/ou água contaminados, e mesmo através do contato (inclusive com os pés) com fezes de uma pessoa ou animal infectado.

A América Latina figura no mapa das regiões do mundo mais afetadas por parasitoses porque se situa em uma zona tropical que estão associadas a condições precárias de moradia, higiene e saneamento básico.

Parasitoses são mais comuns na infância, mas acometem pessoas de todas as idades.

Classificadas como doenças tropicais negligenciadas, elas afetam 1 em cada 4 indivíduos (24% da população global).

No Brasil, a prevalência é de cerca de 45%. A região Norte é a que apresenta maior número de infecções (58%). Dados publicados na Revista Brasileira de Medicina Tropical.

Os efeitos no seu corpo

Boa parte das pessoas infectadas podem conviver com parasitas sem que sejam observadas alterações na saúde.

Mas a depender da fase da vida, da intensidade da parasitose, das defesas do organismo e do tempo da contaminação, alguns efeitos são esperados:

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  • Mudanças no sistema respiratório

Na fase inicial da infecção, alguns microrganismos podem migrar para os pulmões, o que pode resultar em febre baixa, tosse e dificuldade para respirar.

O quadro pode estar presente na ascaridíase e ancilostomíase.

  • Alterações gastrointestinais

A presença de grande número de vermes adultos no intestino pode se manifestar como desconforto abdominal caracterizado por dor ou gases (flatulência).

Outros possíveis efeitos são diarreia e perda do apetite, que tem como efeito cascata a perda de peso, de nutrientes (como o ferro) e a fraqueza.

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Ao longo do tempo e sem o devido tratamento, a anemia é um quadro esperado.

Encaixam-se nesse perfil a ascaridíase, giardíase, ancilostomíase e a teníase.

Já a enterobíase está associada à coceira ao redor do ânus, causada pela presença de microrganismos nessa região. Irritação na pele e, entre as meninas, irritação vaginal podem estar presentes.

Embora raro, pode haver obstrução do intestino por vermes adultos —especialmente em crianças pequenas cujo órgão é mais estreito. Apêndice, vias biliares são outras regiões gastrointestinas passíveis de sofrerem o mesmo efeito.

A expulsão dos vermes também pode ocorrer, seja por meio de vômito, pelo ânus ou nas fezes (ascaridíase).

  • Sintomas neurológicos
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Parasitas como a tênia podem atravessar a parede intestinal e chegar até o cérebro e as meninges formando cistos —também conhecidos como cisticercose.

Dor de cabeça, confusão e até convulsões estão associadas.

  • Problemas dermatológicos

Alguns microrganismos podem penetrar na pele, provocando lesões semelhantes a picadas de inseto, que coçam e ficam vermelhas. Um exemplo é a Larva migrans, mais conhecida como bicho geográfico.

Como não consegue penetrar profundamente na pele, o parasita se move de forma sinuosa, formando desenhos em curvas que mais parecem um mapa.

Outro possível quadro dermatológico é a queda de cabelo. Nesses casos, o sintoma pode sinalizar condições de infestação prolongada na qual há intensa perda de nutrientes (como o ferro) e até mesmo desnutrição.

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Infecções comuns

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Imagem: iStock

Geralmente são as que acometem o trato gastrointestinal. Conheça as mais frequentes:

Giardíase: o parasita associado é o Giardia lambia, contaminante encontrado em águas frias, incluídos lagos e rios.

Ascaridíase: o microrganismo responsável é o Ascaris lumbricoides. A infecção se dá pelo consumo de alimentos que contenham seus ovos. Os vermes adultos podem ter de 15 cm a 50 cm.

Ancilostomíase: a espécie causadora da infecção em zonas tropicais é o Necator americanus, cujas larvas desenvolvidas penetram na pele —durante o caminhar pela terra contaminada.

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Enterobíase: infecção por oxiúros, causada por nematelmintos (acometem mais as crianças), e decorre da ingestão de seus ovos.

Teníase: causadas por espécies de tênias de vaca, porco ou peixe e transmitidas aos humanos pelo consumo de carnes cruas ou pouco cozidas.

Os vermes adultos que causam a ascaridíase e a ancilostomíase são conhecidos como lombrigas intestinais.

Automedicação

Dadas as condições precárias de saneamento básico no país, no passado já foi sugerido pelas autoridades sanitárias o uso periódico de antiparasitários.

Hoje, não há evidências científicas que indiquem tal prática, especialmente na ausência de sintomas.

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A interação entre humanos e vermes pode trazer prejuízo e, portanto, infecções devem ser controladas. No entanto, os cientistas têm discutido que a completa eliminação dos parasitas poderia alterar a resposta imunológica dos humanos.

Essa hipótese leva a pensar que poderia haver alterações na resposta às vacinas e a doenças infecciosas, além do aumento da suscetibilidade a enfermidades inflamatórias, tais como alergias e doenças metabólicas. Dados publicados no jornal científico Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene.

Caso a sua alimentação diária seja feita majoritariamente fora de casa, e haja suspeita de que você esteja correndo algum tipo de risco, antes de se automedicar, é essencial uma avaliação médica.

A razão para isso é que existem contraindicações, possíveis reações adversas e interações com outros medicamentos que devem ser avaliadas por um especialista para evitar efeitos indesejados.

Posso pegar parasitas de outra pessoa?

Sim. De acordo com os especialistas consultados, quem tem verminose, de algum modo, foi infectado por outra pessoa, direta ou indiretamente.

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Um exemplo é o contato com mãos mal lavadas de pessoas com parasitas. Levar a sua mão à boca, sem pensar, logo após essa prática facilitaria a infecção.

Ser portador de verminose, ter maus hábitos de higiene ou ausência de acesso ao saneamento básico aumenta a probabilidade de disseminação de parasitoses na comunidade.

Alimento não é vermífugo

Itens como cravo, alho, açafrão, coco, hortelã e semente de abóbora são popularmente usados no combate da verminose. O problema é que não existem evidências científicas de que esses itens tenham propriedades antiparasitárias, mas também não existem estudos que contraindiquem seu uso.

Os especialistas, porém, são unânimes: a depender do quadro de saúde de cada um, as infestações podem ter consequências graves. Portanto, esses alimentos não podem ser usados de forma isolada para o tratamento desses quadros.

Verminose e imunossupressão

Tratamentos preventivos de verminoses são indicados para pessoas com enfermidades cujas terapias podem levar à imunossupressão, ou seja, a redução das defesas do corpo. Um exemplo é a quimioterapia.

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Nesses quadros, antes dela, os pacientes deverão ser orientados a fazerem uso de vermífugo para evitar que essa mudança nas defesas do corpo possa dar espaço para doenças infecciosas que podem ser graves.

Dá para prevenir, sim

Além do saneamento básico (água e esgoto tratados) acessível para toda a população e educação em saúde, algumas práticas simples de higiene reduzem a contaminação:

Lave as mãos regularmente. A rota fecal-oral é a primeira via de transmissão de parasitas.

Habitue-se a lavar as mãos antes das refeições, mesmo as rápidas. A regra vale para crianças, adultos e idosos.

Capriche na higiene dos alimentos. Vegetais crus devem ser lavados com água limpa, descascados e cozidos.

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Organize-se para deixar verduras de molho em solução de cloro. A medida é capaz de matar ovos de grande variedade de vermes.

Evite beber água de lagoas, fontes e rios.

Prefira comer carnes bem passadas ou cozidas (bovina, suína, pescados).

Fontes: Bárbara Borba, gastroenterologista do HDT-UFT (Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Tocantins), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) em Araguaína (TO); Rafael Mendonça Rey dos Santos, médico de família e professor do curso de medicina da PUC-PR; e Valdes Roberto Bollela, professor associado da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) da Divisão de Moléstias Infecciosas e Tropicais do Departamento de Clínica Médica e presidente da Comissão de Graduação da mesma instituição. Revisão técnica: Valdes Roberto Bollela.

Referências:

Campbell S, Soman-Faulkner K. Antiparasitic Drugs. [Atualizado em 2023 May 29]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK544251/

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Ahmed M. Intestinal Parasitic Infections in 2023. Gastroenterology Res. 2023 Jun;16(3):127-140. doi: 10.14740/gr1622. Epub 2023 Jun 11. PMID: 37351081; PMCID: PMC10284646. Disponível em https://doi.org/10.14740/gr1622

Celestino AO et. al. Prevalence of intestinal parasitic infections in Brazil: a systematic review. Rev Soc Bras Med Trop. 2021. Disponível em https://doi.org/10.1590/0037-8682-0033-2021

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