Transplante de célula de gordura reprogramada reverte diabetes pela 1ª vez
Uma chinesa de 25 anos teve seu diabetes tipo 1 revertido após um transplante de ilhotas do pâncreas "fabricadas" com suas células de gordura, anunciou um time de pesquisadores liderados pelo biólogo celular Deng Hongkui, da Universidade de Pequim. O caso foi publicado na revista científica Cell em 31 de outubro.
O que aconteceu
Reversão de células. Pesquisadores coletaram células de gordura da jovem com diabetes tipo 1 e, em seguida, reverteram-nas a um estado pluripotente, ou seja, para o estágio em que seriam como uma espécie de "argila", capazes de se tornarem diferentes tecidos do corpo.
Cientistas reprogramaram as células com técnica inovadora. Em vez de adotar a reprogramação de células com proteínas que provocam a expressão do gene, eles optaram por expor as células de gordura a pequenas moléculas de substâncias químicas abióticas (não vivas) para controlar melhor o processo.
Ideia era paciente ganhar "pâncreas novo". O processo "moldou" as agora quimicamente induzidas células-tronco (iPS) em ilhotas do pâncreas, capazes de produzir insulina —em quem tem diabetes tipo 1, o órgão deixa de produzir (ou produz quantidades muito baixas) desse hormônio, causando o desequilíbrio dos níveis de açúcar no sangue.
Transplante primeiro foi testado em macacos e ratos. Antes de passarem as ilhotas à paciente, os cientistas testaram o transplante em animais.
Na paciente, procedimento durou menos de meia hora. Em junho de 2023, ela recebeu 1,5 milhão de ilhotas em seus músculos abdominais, um local novo para este tipo de intervenção. Em técnicas anteriores, médicos tentaram realizar os transplantes no fígado, mas era mais difícil acompanhar a evolução do enxerto, o que os chineses puderam fazer com ressonâncias. A ideia era que fosse fácil remover as ilhotas, caso houvesse rejeição.
Não precisa mais de insulina. Dois meses e meio depois, a jovem já não precisava de insulina. Ela continua livre da necessidade da medicação após quase um ano e meio do procedimento, revelaram a paciente e os pesquisadores de Pequim à revista científica Nature. "Eu posso comer açúcar agora. Eu gosto de comer de tudo, especialmente ensopados", comemorou. Ela pediu à publicação que não fosse identificada.
Outros dois pacientes também passaram pelo mesmo procedimento. Todos eles continuam sendo monitorados. O caso da mulher, o primeiro de sucesso do estudo clínico, ainda não é considerado uma cura definitiva, já que ela estava sob medicação anti-rejeição devido a um transplante de fígado. Por isso, o enxerto pode ter sido melhor recebido pelo corpo. Mas também é possível que o sucesso seja porque ela recebeu suas próprias células.
Vida curta? Os estudiosos ainda não descartaram totalmente a possibilidade de que o próprio corpo da paciente comece a atacar as novas ilhotas em um futuro próximo e provocar uma nova falha. Por isso, explicou Hongkui à revista Nature, eles já levam em consideração como desenvolver ilhotas que possam "escapar" de uma resposta autoimune do corpo.
Resultados foram celebrados pela comunidade científica. O caso, divulgado também pelo Conselho Federal de Farmácia, no Brasil, impressionou também James Shapiro, cirurgião de transplante e pesquisador da Universidade de Alberta, em Edmonton, no Canadá. "Eles reverteram completamente o diabetes da paciente, que estava precisando de quantidades substanciais de insulina antes."
Primeira paciente só será considerada curada após cinco anos. O estudo procede agora para sua segunda fase, com testes em outros 20 pacientes.
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