'Lista proibida': quais palavras médicos nunca devem dizer aos pacientes?

Pacientes, especialmente aqueles com doenças mais graves, estão em uma situação vulnerável. Por isso, cada palavra dita pelo profissional de saúde tanto a eles quanto às famílias deve ser considerada parte do tratamento — para que o doente esteja bem informado e consciente de sua situação e opções, quando possível, e também para garantir um cuidado humano.

Esta foi a conclusão de um estudo realizado por profissionais do Henry Ford Hospital, de Detroit, nos EUA, e da Universidade A&M do Texas, publicado na edição de outubro do periódico Mayo Clinic Proceedings.

A lista do "nunca"

Como resultado de entrevistas com 20 médicos que cuidam de pacientes graves, os três autores — atuantes em casos críticos de doenças cardiológicas, pulmonares e também em UTIs — elaboraram uma relação de palavras e expressões consideradas inadequadas para dar notícias ruins ou até iniciar a conversa sobre quais são os desejos do paciente em situações delicadas do tratamento.

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Em comum, todas elas têm um mesmo conceito. São palavras consideradas definitivas ou negativas, que trazem em muitos casos a mensagem de que a cura "nunca" irá acontecer sem tato ou informações adicionais necessárias.

Maior problema dos médicos?

A segunda etapa do estudo também contou com uma revisão de literatura a respeito dos desafios da comunicação clara entre médico e paciente.

O estudo identificou um problema grave neste campo: muitos profissionais recorrem a uma linguagem muito técnica quando se sentem desconfortáveis ou despreparados para abordar o estado do paciente. Esta questão é exacerbada por "um desequilíbrio de poder inerente entre médicos, com seu vasto conhecimento médico, e pacientes", apontaram os autores.

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Eles ainda destacam que médicos frequentemente não valorizam o autoconhecimento do doente, que deve ser considerado ao tomar decisões sobre o tratamento. Em artigo da própria Universidade A&M do Texas divulgando o estudo, o pesquisador Leonard Berry — um dos autores do trabalho — apontou abordagens ruins. "'Não vamos nos preocupar com isso agora' não só não é resposta a uma preocupação legítima do paciente, é [uma frase] desdenhosa". Apontar que "um câncer em estágio inicial é algo pelo qual o paciente deveria estar grato, sem abrir espaço para a ansiedade e o medo dele em estar com câncer" é presunçoso, acredita ainda Berry.

A melhor abordagem na experiência clínica do autor é sempre convidar o paciente para uma conversa, abrir um espaço para tirarem dúvidas. "Algo tão simples como, 'que perguntas você tem para mim?' em vez de 'você tem alguma pergunta?' convida para um diálogo franco", destaca. Veja outras conclusões do estudo sobre o que médicos devem dizer — e o que nunca mais devem repetir — àqueles que tratam.

O que nunca dizer ao paciente

É má ideia afirmar... "Não há mais nada que nós possamos fazer."
É melhor dizer que... "A terapia X foi ineficiente em controlar o câncer, mas ainda temos a chance de focar em tratamentos que vão diminuir seus sintomas e, esperamos, vão melhorar sua qualidade de vida."
Por quê? Mesmo com nenhuma possibilidade de cura, o médico ainda pode transmitir uma habilidade de cuidar do paciente da melhor forma que puder.

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É má ideia afirmar... "Ela não vai melhorar."
É melhor dizer que... "Estou preocupado de que ela não vá melhorar."
Por quê? Substitua uma negativa firme sobre o prognóstico com uma expressão de preocupação a respeito do quadro ruim.

É má ideia afirmar... "Vamos parar o tratamento."
É melhor dizer que... "Podemos mudar nosso forco para o conforto dele em vez de persistir com o tratamento atual, que não está funcionando."
Por quê? Médicos nunca "param" de tratar do paciente; a frase pode insinuar que o profissional está desistindo ou se negando a ajudar o paciente e suas famílias. Descreva as vantagens em mudar o objetivo do tratamento.

É má ideia afirmar... "O estado dela está indo pelo ralo/por água abaixo/é um caminho sem volta."
É melhor dizer que... "Estou preocupado de que ela esteja morrendo."
Por quê? Evite gírias que objetificam e diminuem a importância da vida do paciente [para o profissional ou para a família].

É má ideia afirmar... "Você quer que façamos tudo que for possível?"
É melhor dizer que... "Vamos discutir as opções disponíveis se a situação piorar."
Por quê? Em vez de usar uma pergunta tendenciosa que pode não se alinhar com os valores ou objetivos do paciente, abra um diálogo.

É má ideia afirmar... "Tudo vai ficar bem."
É melhor dizer que... "Estou aqui para apoiá-lo durante este processo."
Por quê? Ofereça apoio que seja realista e humano.

É má ideia afirmar... "Luta" ou "batalha"
É melhor dizer que... "Vamos enfrentar esta doença difícil juntos."
Por quê? Evite insinuar que apenas força de vontade pode superar uma doença. Pacientes podem sentir como se estivessem decepcionando suas famílias caso não se curem. (Como 'se ela tivesse lutado mais, poderia ter vencido a batalha'.)

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É má ideia afirmar... "O que ele gostaria?"
É melhor dizer que... "Se ele pudesse ouvir tudo isso, o que ele poderia achar?"
Por quê? "Queria" ou "gostaria" são frequentemente palavras mal-definidas em ambiente hospitalar, e o que as famílias imaginam que o paciente iria querer pode ser impossível de realizar.

É má ideia afirmar... "Não sei por que você esperou tanto para passar em consulta."
É melhor dizer que... "Estou feliz que você tenha vindo agora."
Por quê? Culpar um paciente e potencialmente causar mais preocupação é improdutivo. Foque naquilo que pode ser feito realisticamente dadas as circunstâncias.

É má ideia afirmar... "O que seus outros médicos estavam fazendo/pensando?"
É melhor dizer que... "Estou feliz que você veio aqui para uma segunda opinião. Vamos olhar para o seu histórico e ver quais são os próximos passos."
Por quê? Foque no que ainda é possível. Faça próximos passos positivos ao invés de difamar profissionais com quem pode precisar cooperar no avanço do tratamento do paciente.

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