4 pontos críticos que quem tem diabetes precisa ficar de olho
O diabetes atinge 10,2% dos brasileiros acima de 18 anos, segundo a pesquisa Vigitel Brasil 2023. A frequência é maior em mulheres e em pessoas com mais de 60 anos. No país, algumas barreiras dificultam o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, principalmente para pessoas com menor escolaridade e renda.
Tempo de espera para agendar consultas e exames é o principal desafio. Em paralelo, falta de acompanhamento adequado, desconhecimento sobre a doença e o mau controle da glicemia podem levar a consequências graves.
Parte dos problemas pode ser evitado com conhecimento sobre aspectos importantes da doença, seja do tipo 1 (autoimune) ou do tipo 2 (geralmente associada à obesidade e hábitos de vida não saudáveis). Outras ações demandam políticas públicas para reduzir a fila de espera para atendimento e melhorar a oferta de medicamentos, por exemplo.
Se você ou alguém próximo tem diabetes, fique atento a estes quatro pontos importantes:
1. Hemoglobina glicada sob controle
Monitorar e manter o nível de açúcar no sangue (glicemia) dentro de valores adequados é essencial no tratamento.
O teste de hemoglobina glicada dá a média de glicose dos três meses anteriores e, para pessoas com diabetes, 7% é considerado um bom controle.
Mas 30% dos brasileiros com a doença têm valores acima disso, mostra uma pesquisa do Vozes do Advocacy em Diabetes e Obesidade, realizada pela consultoria Imagem Corporativa (veja metodologia no fim do texto). Além disso, 42% não lembram ou não sabem a taxa atual. Os dados foram apresentados na última terça-feira (5).
O controle está ruim, mas o pior de tudo é não medir, não saber o que é isso ou não saber se isso foi medido. Monica Gabbay, endocrinologista e coordenadora do Ambulatório de Bomba de Insulina da Unifesp
A pesquisa mostra que 38% das pessoas não fazem medições diárias da glicemia, sendo que o ideal seria, ao menos, duas por dia. Nas regiões Norte e Nordeste do país, a taxa dos que não medem ultrapassa 50%.
Gabbay lembra que um dos desafios para a medição adequada é a distribuição de fitas reagentes pelo SUS. "É um problema no Brasil tão desigual. Se a gente fala de diabetes tipo 1, em São Paulo a entrega é de cinco fitas por dia e várias cidades são uma ou duas por dia. Se fala de diabetes tipo 2, é pior, porque tem que provar que precisa."
2. Calendário especial de vacinação
Vacinas são importantes para toda a população, mas quem tem doenças crônicas precisa de uma atenção a mais.
Segundo a SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), o alto nível de açúcar no sangue afeta diferentes mecanismos do sistema imunológico, com risco aumentado para infecções, complicações e morte.
Pessoas com diabetes, outras doenças crônicas e/ou com o sistema imunológico comprometido podem se vacinar fora do calendário vacinal padrão nos CRIEs (Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais). Eles oferecem alguns imunizantes que não estão nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) ou são apenas para determinadas idades.
Mas, segundo a pesquisa do Vozes do Advocacy, 60% das pessoas não conhecem o serviço, 29% já ouviram falar, mas nunca usaram, e apenas 11% já se vacinaram nos centros.
O que a gente tem hoje no cenário das imunizações é uma subutilização de vacinas, inclusive gratuitas, nos CRIEs. O Brasil consegue colocar algumas das vacinas, mas elas são pouco procuradas por desconhecimento. Então, a jornada desse paciente em relação ao seu próprio cuidado precisa ser estimulada. Renato Kfouri, infectologista e vice-presidente da SBIm
As vacinas especialmente recomendadas para pessoas com diabetes são:
Influenza
Pneumocócicas conjugadas (VPC10, VPC13 ou VPC15)
Pneumocócica polissacarídica 23-valente (VPP23)
Hepatite B
Herpes zóster inativada (VZR)
Confira aqui a lista completa de vacinas para cada condição de saúde.
3. Consultas com oftalmologista
O diabetes aumenta o risco de doenças oculares, sendo a retinopatia diabética a mais comum. Na pesquisa, 49% dos entrevistados disseram ter ou tido algum problema de visão.
Manter a hemoglobina glicada abaixo de 7% e fazer acompanhamento com oftalmologista já reduzem o risco de complicações. Embora 59% tenham sido orientadas a consultar especialista, 15% daquelas com problemas de visão não receberam indicação —a maioria é acompanhada por clínico geral ou médico da família.
A jornalista Bia Cunha, 36, foi diagnosticada com diabetes tipo 1 aos oito anos. No final de 2022, acordou um dia vendo pontos pretos e vultos no olho esquerdo: era retinopatia diabética. Ela ficou um ano na fila à espera de uma cirurgia, que foi feita em janeiro deste ano. Uma nova operação está prevista para dezembro, mas ainda sem certeza.
"Controlei minha glicemia dez vezes mais do que controlava antes, tenho que mudar minha alimentação e minha forma de viver, justamente para não ter mais problemas, para não perder a minha visão", disse a VivaBem.
A recomendação é que o acompanhamento com oftalmologista seja a cada seis meses, mas apenas 13% seguem a indicação. O problema também é a fila de espera: 54% aguardam uma consulta com especialista há mais de três meses —19%, há mais de um ano.
4. Cuidado com os rins
De 30% a 40% das pessoas com diabetes podem desenvolver doença renal crônica, segundo a IDF (Federação Internacional de Diabetes, em português).
A falha nos rins devido ao tipo 2 aumentou 74% no mundo entre 1990 e 2017, mas tem diminuído entre aqueles com o tipo 1.
Quem tem as duas condições corre um risco maior de doenças cardiovasculares, progressão para insuficiência renal e morte. A estratégia mais efetiva para reduzir esse risco é prevenir o diabetes tipo 2 e, para aqueles já diagnosticados, identificar e tratar a doença renal o mais cedo possível.
A presença da proteína albumina na urina é um indicador de falha renal, então a IDF recomenda fazer exames de rastreio anualmente após o diagnóstico de diabetes tipo 2 e depois dos primeiros cinco anos em pessoas com diabetes tipo 1.
Controlar a glicemia e a pressão arterial também reduzem o risco tanto para doença renal quanto cardiovascular.
Metodologia da pesquisa
A pesquisa foi feita com 1.843 adultos brasileiros (com 18 anos ou mais) que reportaram diagnóstico de diabetes entre os dias 1º de julho e 22 de agosto de 2024. O levantamento foi coordenado pelo núcleo de Pesquisas e Tendências da Imagem Corporativa, e a coleta dos dados foi realizada pelo Instituto Qualibest por meio de painel online do universo correspondente.
A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos no total da amostra, e o nível de confiança é de 95%. Os dados foram ponderados segundo o perfil dos que têm diabetes na PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), do IBGE, de 2019 e dados de posse de planos de saúde, segundo a ANS.
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