IMC é confiável? Quais avaliações são indicadas para identificar obesidade?
Colaboração para VivaBem
13/11/2024 05h32
O IMC (Índice de Massa Corporal) tem sido, ao longo de mais de um século, a medida usada para avaliar se uma pessoa está com um peso saudável em relação à sua altura. Mas a medicina evoluiu e novas avaliações já são consideradas mais adequadas para determinar se há excesso de gordura no corpo, principalmente para o controle da obesidade.
Inventado pelo matemático belga Adolphe Quetelet em 1832, o IMC não é irrelevante: funciona bem especialmente para analisar grandes populações e, para análises individuais, deve ser complementado com outros índices.
O IMC é calculado dividindo o valor do peso (em quilogramas) pelo quadrado da altura da pessoa (em metros). Por exemplo, uma pessoa que pesa 70 kg e mede 1,60 m apresenta um IMC de 27,3, o que, segundo a classificação da OMS (Organização Mundial da Saúde), sugere sobrepeso.
As categorias definidas pela OMS consideram IMC:
- Abaixo de 18,5: Abaixo do peso
- 18,5 a 24,9: Peso normal
- 25,0 a 29,9: Sobrepeso
- 30,0 a 34,9: Obesidade grau 1
- 35,0 a 39,9: Obesidade grau 2
- 40,0 ou mais: Obesidade grau 3
A principal limitação do IMC é que o cálculo não permite diferenciar gordura de massa muscular. Mas isso é algo que geralmente é possível diferenciar visualmente.
Podemos ter um fisiculturista e um obeso mórbido com o mesmo IMC, sendo que um tem alto percentual de gordura e o outro é puro músculo"
Clayton Luiz Dornelles Macedo, endocrinologista do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto Cohen
Um exemplo conhecido é o do popular ator e fisiculturista Arnold Schwarzenegger que, com um IMC de 32 (alto pela grande quantidade de massa muscular), poderia ser considerado obeso grau 1 pela classificação da OMS.
"Hoje, consideramos a obesidade principalmente como uma doença em que pode haver aumento da adiposidade, mas também uma distribuição anômala dessa gordura. Por exemplo, o indivíduo com mais gordura central ou abdominal tem maior risco cardiovascular, e nem sempre o IMC será maior do que o de alguém com gordura mais periférica", explica o médico.
Uma medida complementar eficaz é a da circunferência abdominal, que pode ser facilmente realizada sem equipamentos sofisticados, segundo Macedo. Essa medição é um importante indicador de saúde, pois apresenta forte correlação com fatores de risco como doenças cardiovasculares, metabólicas, obesidade e diabetes, além de estar associada à mortalidade. De acordo com a OMS, a circunferência não deve ultrapassar 102 centímetros em homens e 88 centímetros em mulheres.
Ainda assim, o cálculo do IMC, que é gratuito e pode ser aplicado em grande escala, é uma ferramenta útil para estudos científicos.
Ele pode servir para avaliar populações e possibilitar comparações entre países sobre o tamanho corporal desses povos e como isso muda ao longo do tempo.
Gabriela Iervolino, endocrinologista da Unifesp
Por ser uma ferramenta barata e prática, começou a ser usada na prática médica, pois, na maioria dos casos, é possível prever doenças e desfechos de saúde com ela. Em avaliações individuais, a técnica oferece uma 'ideia geral' da distribuição do peso pelo corpo.
"O IMC funciona bem em pessoas com uma composição corporal média, que não tenham uma massa muscular muito desenvolvida, como são atletas, ou uma quantidade muito reduzida de músculo, como é comum em idosos", avalia Ilana Marques Moreira Carneiro, endocrinologista do Hospital Universitário Getúlio Vargas da Universidade Federal do Amazonas,
O método pode ser útil também para atendimentos feitos à distância. "Na telemedicina, por exemplo, a gente não consegue usar os métodos mais modernos, que exigem que o paciente esteja presente no consultório. Então, a gente simplesmente pergunta a altura e o peso e consegue uma avaliação indireta, uma ideia mais geral", diz Gabriela.
Outros métodos usados para calcular composição corporal
- Bioimpedância
"Este método avalia a porcentagem de gordura, músculo e água no corpo, oferecendo uma visão mais detalhada da saúde do paciente", descreve a endocrinologista Ilana Carneiro.
Para realizá-la, é necessário um aparelho que envia uma corrente elétrica de baixa intensidade pelo corpo. A resistência encontrada pela corrente elétrica ao passar pelos diferentes tecidos corporais (como gordura, músculo e água) é medida e utilizada para calcular a composição corporal.
Na avaliação de Maria Fernanda Barca, doutora em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a bioimpedância é boa para acompanhamento de ganho de massa muscular ou perda de gordura de forma semanal ou mensal, dependendo da frequência dos retornos do paciente.
As versões da máquina voltadas aos consultórios médicos e de nutricionistas custam entre 10 mil e 15 mil reais. "Seu uso exige uma preparação específica para o paciente, como evitar cafeína e usar roupa leve, ficar 10 minutos na mesma posição antes de fazer o exame? Sendo realista, é difícil seguir todas as recomendações à risca", diz Gabriela Iervolino.
- Densitometria
Considerada o 'padrão ouro', esta técnica usa raios-X ou ultrassom para medir a densidade óssea e a composição corporal, com foco em gordura e massa magra.
Uma versão chamada de DEXA (Dual-Energy X-ray Absorptiometry), que utiliza dois feixes de raios-X de diferentes energias para medir com precisão a composição corporal, é considerada a técnica mais moderna por especialistas consultados pelo VivaBem.
Ao usar a densitometria, muitas vezes, percebemos que uma pessoa que parecia estar com sobrepeso, na verdade, não tem tanta gordura ou tem pouca massa muscular. Já pessoas magras, que parecem saudáveis, podem ter muita gordura e pouco músculo, e, ao serem avaliadas pela DEXA, podem até ser classificadas com sobrepeso.
Maria Fernanda Barca, doutora em endocrinologia pela USP
Entre os benefícios da DEXA, estão a rapidez do exame e a capacidade de fornecer dados precisos. O teste também tem a vantagem de oferecer marcador de resistência à insulina, especialmente em indivíduos obesos, ao detectar gordura subcutânea central. Além disso, a DEXA segmenta os resultados do tronco e abdômen, permitindo uma análise detalhada da gordura visceral.
No entanto, o método apresenta limitações. Segundo Gabriela Iervolino, é um exame caro e de interpretação complexa. Para garantir consistência nos resultados, é recomendável realizar os exames sempre na mesma máquina.
"Ao contrário da bioimpedância, a DEXA não fornece dados sobre a taxa metabólica basal. Além disso, pode superestimar a massa magra devido à presença de água nos músculos e escaneia apenas metade do corpo, duplicando os resultados, o que não leva em consideração a simetria do corpo."
- Prega cutânea
A medição das dobras cutâneas é prática para medir a gordura sob a pele e pode ser usada como complemento quando não há acesso a métodos avançados, como bioimpedância ou a DEXA.
"No entanto, essa técnica depende da experiência de quem realiza a medição e pode ser menos precisa em pessoas com alto índice de gordura ou com pouca gordura subcutânea. Além disso, ela não mede a gordura visceral, que é a mais perigosa para a saúde", adverte Ilana Carneiro.
"As dobras cutâneas, a meu ver, são um exame muito dependente do examinador, com grande variabilidade", opina o endocrinologista Clayton Macedo.
A médica Maria Fernanda Barca complementa que, embora não seja tão precisa, é uma alternativa útil em certos contextos, como para pacientes com limitações físicas que dificultam a utilização da bioimpedância.
"No consultório, já houve casos de pacientes idosos, com artrose ou próteses, que não puderam realizar a bioimpedância devido a essas limitações. Nesses casos, a medição das dobras cutâneas ou a circunferência abdominal são úteis para avaliar a distribuição de gordura corporal."
- Scanner 3D
O scanner 3D é uma tecnologia que não emite radiação, proporcionando uma avaliação segura e rápida. No entanto, a máquina é grande e exige um ambiente com características específicas, como superfícies sem tinta reflexiva, para garantir precisão.
Uma das limitações do exame é a necessidade de o paciente manter as coxas afastadas durante a medição, o que pode ser desconfortável para pessoas com obesidade.
Além disso, o método ainda precisa de mais estudos com amostras maiores para gerar resultados de referência para populações como idosos e crianças. O endocrinologista Clayton Macedo explica como utiliza o método na prática:
"Em minha clínica, uso um scanner ótico 3D, uma plataforma giratória que, com milhares de pontos de captação, reconstrói o organismo e cria um avatar. Por meio de algoritmos, ele calcula circunferências e estima a massa gorda e magra."
O médico defende que as técnicas mais precisas são especialmente importantes para quem pratica atividade física. "O exercício ajuda a perder gordura visceral (mais prejudicial ao risco cardiovascular e metabólico) e evita a perda de massa muscular. Nesses casos, só os métodos mais sofisticados são adequados para avaliação de composição corporal."