Ela deu à luz por vácuo: 'Tirou bebê em minutos e perdi 2 litros de sangue'

Livia Geampaulo, 32, de São Paulo, deu à luz Caetano, seu primeiro filho, em 2022. Os meses de gravidez e as horas que antecederam o parto foram marcadas por angústias e uma série de complicações de saúde, como ela relata a VivaBem:

'Minha imunidade despencou'

"Primeiro começou com a gastrite, que piorou muito com o início da gestação: eu tinha enjoos e vomitava com frequência. Passava mal da hora que acordava à hora que me deitava.

Depois, do segundo para o terceiro mês, minha prisão de ventre também piorou e, após tomar um remédio para melhorar o trânsito intestinal, fiquei uma semana com diarreia, que evoluiu para infecção.

Como eu ainda estava passando por problemas emocionais, minha imunidade despencou e facilitou o aparecimento de herpes genital pela primeira vez.
Lívia Geampaulo

No quarto mês, continuei tendo muita azia, tive febre, uma nova diarreia e gastroenterite e, para piorar, havia acabado de me mudar para um novo apartamento e contraí covid-19; precisei ser levada para o hospital.

'Acabei ficando anêmica'

Livia engordou pouco e ficou anêmica.
Livia engordou pouco e ficou anêmica. Imagem: Arquivo pessoal

Por conta desse combo de problemas e da dificuldade em ganhar peso, eu, que já sou magra, fui diagnosticada com anemia. Passava por três médicos diferentes.

Nos primeiros quatro meses de gestação, perdi quatro ou cinco quilos e isso era um fator de risco para o bebê, que poderia sofrer e ter seu desenvolvimento afetado.

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Precisei rever minha alimentação, mas ainda assim foi complicado, engordei apenas seis quilos até o final da gestação.
Lívia Geampaulo

Livia enfrentou 36 horas de trabalho de parto
Livia enfrentou 36 horas de trabalho de parto Imagem: Arquivo pessoal

Todo esse processo e ainda o que eu viria a enfrentar nos momentos finais até a chegada do meu filho fizeram com que eu quase desistisse do que tanto lutei durante a gestação: um parto normal e natural. Infelizmente, precisei abdicar do natural.

'36 horas em trabalho de parto'

O Caetano estava na posição normal de nascer desde o final do sexto mês. Veio ao mundo com 2,8 kg e medindo entre 46 e 47 centímetros.

Não tinha nada relacionado à posição que dificultasse seu nascimento, mas eu fiquei 36 horas em trabalho de parto.

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Depois de 30 horas de dores e finalmente aos 8 cm de dilatação, foi feita a analgesia. A evolução estagnou e precisei de ocitocina (hormônio aplicado para estimular as contrações uterinas, sendo frequentemente utilizado para induzir o trabalho de parto), outra intervenção que lutei contra durante a gravidez.
Lívia Geampaulo

Consegui cochilar e, ao amanhecer, fui acordada às pressas pela equipe médica porque Caetano estava vindo. Mas o meu corpo já muito cansado não conseguia fazer a força necessária para seu nascimento.

Meu filho então apresentou taquicardia e precisou nascer com urgência.

'Passei por transfusão e cirurgia'

A solução veio pelo uso do vácuo extrator, que tirou meu bebê de mim em questão de minutos.

Tive laceração aguda de grau 1 e 2 no períneo e na vagina [a laceração de grau 2 afeta a pele e o músculo perianal] e perda de sangue, cerca de dois litros, piorando um quadro já pré-existente de anemia. No dia seguinte, tive de fazer transfusão de sangue.

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Também precisei entrar em cirurgia logo após o parto para tratar as lacerações, o que eu nem percebi que estava sendo feito devido aos devaneios causados pelo cansaço extremo e o excesso de medicamentos, que ainda me fizeram vomitar inteira enquanto deitada.
Lívia Geampaulo

Por sorte, quando me levaram para a mesa cirúrgica, meu marido e meu filho me acompanharam. Caetano não precisou ficar em incubadora e Arthur ficou ali o tempo todo com ele, me dando todo o apoio necessário.

Livia deu à luz Caetano por vácuo extrator
Livia deu à luz Caetano por vácuo extrator Imagem: Arquivo pessoal

De volta para casa, passei duas semanas de muita dor, tanto que tive de retornar ao hospital, para aumentarem a dose dos analgésicos e ainda precisei fazer uma lavagem intestinal, porque fiquei muito tempo sem ir ao banheiro entre o parto e o pós-operatório; sofri bastante.

Mas, ao final, deu tudo certo, hoje estamos bem e saudáveis. Em 36 horas, me redescobri de uma forma que não havia conseguido em 30 anos de vida. O que resta é o sentimento de pura alegria."

Parto e anemia

Os médicos conseguem prever, monitorar e tratar problemas em gestações e partos por meio de consultas pré-natais regulares e exames específicos. Além disso, durante o parto, os profissionais estão preparados para lidar com possíveis complicações.

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Mães anêmicas podem ter partos normais (ou vaginais), afirma Lourivaldo Rodrigues de Souza, médico especializado em ginecologia e obstetrícia pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas) e professor da Faculdade de Medicina da Afya Manacapuru (AM).

Mas é necessário priorizar que elas não cheguem ao parto com anemia, que deve ser tratada no pré-natal. Não há indicação absoluta de uma cesariana, a menos que haja um diagnóstico obstétrico que contraindique o parto normal.
Lourivaldo Rodrigues de Souza

"Não há limite total de horas [para o parto]", diz Monique Novacek, ginecologista e obstetra pelo Hospital Municipal e Maternidade Escola Dr. Mario de Moraes Altenfelder Silva (SP) e da Clínica Mantelli. Depende mais se a mãe e o bebê estiverem bem.

O que é o parto com vácuo extrator

O vácuo extrator e fórceps são instrumentos presentes há muito tempo na obstetrícia para a retirada do bebê. Quando utilizados por profissionais experientes, podem acelerar o parto e reduzir o sofrimento da mãe e do bebê. No entanto, seu uso pode favorecer lacerações —algo que também pode acontecer em partos normais sem esses instrumentos, segundo Novacek.

O vácuo extrator é um método usado durante o parto para ajudar a guiar o bebê para fora do canal vaginal. Ele é utilizado em casos de período expulsivo prolongado, sofrimento fetal (batimentos cardíacos irregulares ou baixos), posicionamento inadequado do bebê e condições de saúde da mãe que dificultam a realização de força.

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O dispositivo cria uma sucção na cabeça do bebê. Isso permite que ele seja puxado suavemente pelo médico durante as contrações. É uma alternativa considerada antes de optar pela cesariana.

Lacerações vaginais ou vulvares podem ocorrer no parto normal. O obstetra deve avaliar bem o espaço do canal de parto e relacioná-lo ao tamanho do feto para evitar lacerações graves e sangramentos contínuos. "Quando ocorrem, é necessário um procedimento cirúrgico de correção (com suturas absorvíveis)", explica Souza. Mas, mesmo com lacerações, a recuperação do parto normal geralmente é boa.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgou no ano passado um documento em que destaca que o parto vaginal assistido (quando há uso de fórceps ou vácuo extrator, por exemplo) é parte integrante do atendimento obstétrico de emergência. O documento lembra que um parto vaginal assistido frequentemente é menos arriscado do que a cesariana.

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