TOD: como identificar o transtorno opositivo desafiador em crianças
Não é difícil encontrar pais reclamando que os filhos estão cada vez mais desobedientes, respondões, irritados e até mesmo agressivos. É comum ouvir também que as crianças não conseguem se concentrar nas lições de casa, discutem e perdem a paciência com frequência.
No entanto, nem todas essas atitudes são simples "birras". Algumas crianças podem sofrer do chamado TOD (Transtorno Opositivo Desafiador).
Como se trata de um transtorno psiquiátrico que reúne uma série de fatores muito parecidos com comportamentos e emoções que qualquer criança ou adolescente pode apresentar em alguma fase da vida, os pais podem levar muito tempo até levantar essa hipótese. Até mesmo profissionais especializados podem demorar para fechar o diagnóstico, o que pode retardar o início do tratamento adequado e eficaz.
Por isso, a identificação ou não de algum transtorno deve ser realizada seguindo a orientação de uma equipe multidisciplinar de profissionais de saúde.
Como identificar sintomas de TOD
Os estudos científicos indicam uma prevalência do transtorno em torno de 1% a 12% nas crianças entre 5 e 10 anos de idade, sendo mais comum em meninos. Conseguir identificar os sintomas recorrentes torna-se mais difícil à medida que chega à adolescência.
Para diferenciar birra do transtorno, é necessário analisar esse comportamento por três parâmetros: a frequência, a persistência e os prejuízos envolvidos.
A frequência mínima para considerar esse comportamento em crianças acima de 5 anos é de uma vez por semana por, pelo menos, seis meses.
Já para crianças menores de 5 anos, a frequência mínima é superior à metade dos dias da semana, de forma persistente, também por mais de seis meses.
A criança costuma apresentar quadros recorrentes e intensos de desregulação emocional, o que leva a comportamentos inadequados, com quadros comportamentais e emocionais bastante disfuncionais. Gisele Lino Wandermur, psicopedagoga
A psicopedagoga diz que esses comportamentos inadequados atrapalham a aprendizagem, a autoestima e a parte social da criança, além de acarretar prejuízos para as pessoas diretamente envolvidas no cuidado dela, principalmente em relação à mãe, que pode ter dificuldades de continuar trabalhando e estudando. "Ninguém consegue lidar com o filho", diz.
Surgimento dos sintomas e as causas do transtorno
O TOD tem três grandes tipos de sintomas:
- Humor raivoso e/ou irritável: aquela criança que se irrita com muita facilidade, muitas vezes por motivos pequenos;
- Comportamento desafiador: quando apresenta problemas com figuras de autoridade, questiona muito as regras, têm dificuldade em assumir a responsabilidade pelos seus erros ou mau comportamento;
- Índole vingativa: a criança com TOD pode ou não apresentar essa característica.
As causas não são conhecidas, mas, segundo evidências científicas, fatores genéticos, neurofisiológicos e ambientais podem influenciar o desenvolvimento do transtorno. Da mesma forma, um ambiente familiar conturbado e agressivo pode contribuir para o surgimento do TOD.
Outros transtornos associados
As crianças com TOD costumam apresentar outros transtornos associados. É recorrente, seja na infância ou mesmo na fase adulta, a presença de sintomas relativos ao TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada), TEA (Transtorno do Espectro Autista) e até mesmo o TAB (Transtorno Afetivo Bipolar), também conhecido como TBH (Transtorno Bipolar do Humor).
A probabilidade de uma criança com TOD ter mais dificuldades na adolescência e na idade adulta depende dos tratamentos e do ambiente familiar. Geralmente, elas apresentam mais probabilidade de desenvolver depressão e abuso de substâncias, principalmente quando o transtorno na infância for acompanhado por outros, como TDAH, depressão e dificuldades de aprendizagem.
No entanto, com o tratamento adequado e o manejo parental, os sintomas podem melhorar dentro do prazo de três anos.
Como buscar o diagnóstico e tratamento
O diagnóstico de TOD costuma ser realizado através de avaliação com uma equipe multidisciplinar, que reúne um neuropediatra —deve ser o primeiro profissional a ser procurado pelos pais—, um psiquiatra e um psicólogo.
Para essa avaliação inicial, o neuropediatra deverá solicitar a avaliação complementar de outros profissionais, como psicólogo, psiquiatra, psicopedagogo e os próprios profissionais que atuam na escola dessa criança, que podem e devem colaborar com essa avaliação através de relatórios e conversas.
O tratamento deve contemplar diversos aspectos, sempre com acompanhamento multidisciplinar, algumas vezes com a necessidade de medicação. Outro ponto fundamental é o manejo parental, uma vez que são os adultos que passam mais tempo com essa criança.
A forma de lidar com esses comportamentos pode, inclusive, comprometer o tratamento, caso não seja o adequado. Portanto, os pais devem aprender estratégias para manejar esse comportamento no dia a dia e melhorar a convivência.
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