'Cópia' que funciona: medicamento biossimilar deixa remédio mais barato
Insulina, hormônio de crescimento, anticorpos monoclonais e até as vacinas. Em comum, essas substâncias entram na classe de medicamentos biológicos, ou seja, são produzidos a partir de células vivas.
Grandes farmacêuticas foram as responsáveis pela biotecnologia utilizada na criação de cada uma dessas moléculas. Quando a patente expira (ou ainda vai expirar), outras empresas podem "copiar" o remédio — assim como ocorre com os genéricos. Entenda a seguir.
O que são os medicamentos biossimilares
São as "cópias" das medicações biológicos de referência, que foram as primeiras do mercado. O nome não é à toa: os medicamentos não são idênticos aos de referência —e isso não é um problema.
São seguros porque passam pela regulamentação da Anvisa. Etapas de aprovação envolvem prova de qualidade e similaridade, bioequivalência farmacocinética, além de dados clínicos demonstrando segurança comparada e eficácia.
Para que eles servem? Há diversos medicamentos biológicos e, no Brasil, mais de 50 aprovados pela Anvisa. Eles são responsáveis por tratar doenças autoimunes, cânceres, diabetes, problemas reumatológicos, entre outros.
Você com certeza conhece alguém que usa medicamento biológico ou biossimilar. Insulina (para diabetes), hormônio de crescimento (para distúrbio de crescimento), anticorpos monoclonais, como Rituximabe (lúpus e artrite reumatoide), Blinatumomab (câncer — leucemia linfoblástica aguda) e vacinas no geral são alguns exemplos de medicações que têm biossimilares.
Esses medicamento mudaram a vida de muitos pacientes para melhor. Não podemos falar em cura, mas esses medicamento biológicos, assim como os biossimilares, revolucionaram a medicina, proporcionando maior qualidade de vida para as pessoas. Cleber Sato, diretor de assuntos médicos da farmacêutica Sandoz
Há uma diferença mínima entre a estrutura do remédio de referência e o biossimilar. "Algumas estruturas presentes ali naquela molécula vão interagir da mesma forma no medicamento biossimilar, mas com outros agrupamentos [do que o de referência]. No geral, é praticamente a mesma coisa, com o mesmo efeito", explica o farmacêutico clínico LincoIn Marques, doutorando na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (SP).
Por que é difícil copiar original
As moléculas usadas para uma medicação biológica são diferentes. "É um estrutura mais complexa, mas que não causa impacto algum ao paciente", reforça Cleber Sato, diretor de assuntos médicos da farmacêutica Sandoz.
Não dá para falar que é uma cópia porque não é possível produzir um lote completamente idêntico ao de referência. Essa pequena variação existe, mas são feitos estudos exaustivos para garantir segurança e eficácia. Cleber Sato
Moléculas de um biológico são mais instáveis, precisam de temperaturas e estocagem adequadas. É totalmente diferente dos medicamentos sintéticos, que não precisam de tanto cuidado para o transporte, por exemplo, explica Valderilio Feijó Azevedo, reumatologista e coordenador do Fórum Latino Americano de Biossimilares.
Medicamentos não são genéricos. Biológicos são originados de um ser vivo — no caso da insulina, há diversas técnicas, mas um exemplo é usar uma bactéria modificada geneticamente como fonte para produzir a substância. As moléculas também são maiores em relação ao genérico, que é originado de uma síntese química, com moléculas menores e menos complexas.
Biossimilares tornaram mercado mais acessível. Antes da criação deles, havia poucas opções aos pacientes, que pagavam mais caro devido à ausência de outros remédios.
Sabemos a crise econômica que vivemos, incluindo o sistema público de saúde. Os biossimilares custam mais barato e trazem maior acesso. Em países em desenvolvidos, o acesso a eles é muito maior, [mas no geral] as pessoas sequer têm acesso ao de referência porque é muito caro. Valderilio Feijó Azevedo, reumatologista