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'Clinicamente morta', mãe acorda e descobre que deu à luz trigêmeas

Marisa e o marido, Dylan, e as três filhas, Charlotte, Collins e Kendall, ainda no hospital Imagem: Arquivo pessoal

Colaboração para VivaBem*

25/11/2024 05h30

A americana Marisa Christie, de 30 anos, deu à luz trigêmeas enquanto estava clinicamente morta e não tem lembranças do parto.

O que aconteceu

A jovem mãe de Tomball, no estado do Texas, teve uma parada cardíaca no meio da cesariana. Ao acordar, o marido contou a ela que o parto havia acontecido e as crianças passavam bem. "Eu fiquei totalmente apavorada. Como eu não me lembraria de ter meus bebês?", questionou ao site do programa Today, da rede americana NBC.

Marisa passou uma semana desacordada e quase não sobreviveu. O que a mãe não sabia é que ela havia sofrido uma embolia de fluido amniótico, uma complicação rara, mas que costuma ser fatal. Emergência aconteceu quando a médica separou a placenta do útero, logo após a retirada dos bebês. Ela parou de respirar.

Médicos fizeram manobras de ressuscitação enquanto Marisa tinha hemorragia. Enquanto o anestesista Ricardo Mora, do hospital texano Memorial Hermann The Woodlands Medical Center, tentava manter seu coração batendo, a especialista em medicina fetal Amber Samuel tentava fechar seu útero para impedir que o sangramento progredisse. Ela ainda recebeu transfusões.

Marisa Christie durante a gravidez das trigêmeas Imagem: Arquivo pessoal

Pulmões e coração artificial. O cirurgião torácico e cardiovascular Stephen Maniscalco foi chamado para colocar Marisa em uma máquina de ECMO — que substitui o funcionamento do coração e dos pulmões enquanto o corpo se recupera. Uma hora depois de seu coração ter parado, era a ECMO que circulava seu sangue.

"Clinicamente morta". Ao veículo, o anestesista contou que Marisa "essencialmente perdeu o que consideramos todo o volume do seu sangue. Nós substituímos todo o sangue dela. Então, por 45 minutos, ela estava clinicamente morta". No entanto, já na UTI, ela começou a sangrar novamente e os médicos levaram a mãe de volta à mesa de cirurgia.

Útero teve que ser retirado. Os médicos não queriam ter que submeter Marisa a uma cirurgia grande, especialmente com a hemorragia fora de controle, mas a única forma com que conseguiram parar o sangramento foi tirando o órgão.

Gravidez já havia tido complicação. Marisa recebeu injeções de hormônios para engravidar e acabou à espera de trigêmeas. Durante exames, médicos encontraram um quarto bebê que não sobreviveu — mas estava "roubando" sangue de uma das irmãs com que dividia o saco amniótico. Ela teve que passar por um procedimento para a remoção do falecido, porque o "fluxo inferior de sangue colocou muito estresse no coração do [outro] bebê".

A delicada recuperação

Marisa permaneceu na UTI sedada e ainda na ECMO por uma semana. Os médicos a visitavam na esperança de ver sinais de melhora, pois temiam que houvesse dano cerebral após tantas dificuldades de circulação do sangue. "Eu precisava que ela vivesse para criar os filhos. Então era algo pessoal pra mim", se emocionou o anestesista ao "Today".

Marisa e Dylan com as trigêmeas e o filho mais velho, de quatro anos Imagem: Arquivo pessoal

"Sonho". Durante este período, a equipe do hospital colocava as bebês sobre o seu peito para que as filhas e a mãe pudessem ter contato. Marisa lembra desta parte de sua internação, mas ela acreditava ser um sonho. Aos poucos, ela começou a exibir para os médicos sinais de que pudesse estar ouvindo as pessoas à sua volta.

De volta à vida. Marisa foi retirada da ECMO e acordou ainda confusa. Aos poucos, ela percebeu que o parto tinha acontecido e a experiência de seus "sonhos" era real. "A dor que senti, pensei que não tinha jeito de que aquilo não fosse real. Foi o primeiro pensamento coerente que lembro de ter".

Mãe não sentia ligação com as filhas após o parto traumático. "Eu lembro de pensar 'não conheço estes bebês'. É muito estranho. Parecia que elas não eram reais, que não eram minhas. Elas tinham mais de uma semana de vida quando as conheci... Demorou um pouco para ter esta conexão com elas."

Filhas reconheciam a mãe. Enfermeiros colocavam cobertores de bebês sobre a pele da mãe quando ela estava na UTI e depois enrolavam as trigêmeas neles, para que elas pudessem saber qual era o cheiro da mãe. "Elas sabiam que eu era a mãe delas. Elas respondiam a mim quando eu falava em vez de [reagir] a outras pessoas."

Marisa e filhas tiveram período de ajuste. A mãe voltou para casa e ficou uma semana em repouso devido aos seus ferimentos após o parto antes que a primeira das bebês recebesse alta — as trigêmeas seguiram no hospital para ganharem peso. Aos poucos, a família foi inteiramente reunida e a mãe pode recuperar as forças para cuidar delas.

O que é embolia amniótica

Quadro raro de complicação no parto. Considerada rara, a embolia amniótica é uma complicação que ocorre com uma a cada 100 mil gestantes quando o líquido amniótico, que nutre o bebê no interior da placenta, entra na corrente sanguínea da mãe.

Quando o líquido amniótico vai para a corrente sanguínea, não é apenas uma gota: ele vai em abundância. Ao chegar a algum vaso pequeno, ele obstrui a circulação.

Dois problemas ao mesmo tempo. A complicação é muito agressiva, com coágulos se formando em alguns locais e hemorragias acontecendo em outros. Isso afeta o funcionamento de coração e pulmões.

Quadro não dá nenhum sinal prévio. De repente, a mulher pode ter uma parada cardiorrespiratória: o coração para, ela começa a ter falta de ar. Mesmo ao colocar oxigênio, a paciente pode não respirar, porque os pulmões estão cheios de líquido.

Teoricamente, a embolia pode acontecer em qualquer momento da gravidez, mas é mais comum no trabalho de parto. O útero é grande, tem a circulação sanguínea e o líquido está lá, parado. Mas, no trabalho de parto isso é mexido e pode ser forçado, aumentando o risco.

Em uma cesárea, o corte da cirurgia pode abrir um vaso sanguíneo. Por isso, existe a chance de algum elemento estranho, como o líquido amniótico, entrar na corrente sanguínea.

Fatores de risco. Embora não dê para prever uma embolia durante a gestação, alguns fatores representam um risco maior para desenvolver o problema. Engordar mais de 15 kg durante a gravidez, hipertensão, diabetes gestacional e polidrâmnio, que é a quantidade aumentada de líquido amniótico, são alguns deles.

Fonte: Élvio Floresti Junior, ginecologista e obstetra formado pela Universidade Federal de São Paulo.

*Com informações de reportagens publicadas em 29/07/2024 e 06/09/2017.

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